a million parachutes

for us

31 julho 2003

:: a palavra falada

estou ouvindo com atenção tudo que você diz.
há na palavra falada entrelinhas de convencimento,
pausa que pulsa,
música frêmita
e descuido singular de imposição
(aquela desafinada engraçada).

o tenso silêncio que eu não aguardava
me envolve na maior solidão do mundo
que se defaz com violência em um "está aí"?

você me diz coisas de conforte e calor,
ainda existe lugar nas literaturas faladas
um pouco de graça de coisa inventada.
o timbre e o jeito de alguém que comicamente
deixou sua marca entre nossos hábitos.
arquitetura dos lábios,
mãos sincronizadas,
e olhares de ênfase,
o volume vencendo outros sons
e sentidos
e significados.

um sussurro:
fala desse lado que é mais perto do coração.

30 julho 2003

:: a invenção das estrelas suspensas

debaixo desse poste, sou mais um
poste.
decorei todas as canções da américa
e me sinto cada vez menos americano.
homem difícil, sem grito e esparso,
colecionador de verbos e estados,
vou vivendo a falta demência,
a lagrima que turva,
diplinks surdos,
gasolinas sem aditivos,
comércio de imagens sem alma,
e busca perdida da alma sem imagens.

o meu padrão de cor se mantêm com poucos desvarios,
saturo os sonhos, mas não dou ganhos.
as ruas inventanm suas próprias cores;
não há prefeituras que possam normalizá-las.
nos coletivos, somos inúmeros famintos e cansados,
ansiamos por shoppings e cinemas,
banhos e cama,
a alma e o corpo do outro
a quem ofertamos carne e mente
atravessados pela vida hipócrita.

a rua clama em suas cores. nós calamos em nosso cinza.

mais travessas e deixo de ser poste,
deixo de ser rede postes cinzas e promovo meu motim.
pinto todos de noite;
e a noite, os ônibus serão iluminados
por estrelas suspensas.
:: espera.nça

você sermpre esperando.

correndo atrás de borboletas que irão perder na seleção natural dessa cidade cinzenta; de pipas enroscadas em fios de alta tensão; de pormenores inúteis que julga serem jóias raras; de empregos bons; de salada de frutas sortidas e de amigos.

escrevendo linhas que quase ninguém lê e mesmo lido, facilmente esquecido. versos que desgostam da intimidade e morrem em seus próprios pontos finais.

tomando por certo, sonhos absurdos e inventando o abuso de torná-los reais.

você espera.

ainda que o tempo já o tenha condenado e os sintomas denunciem o futuro colapso. mesmo que já tenham dito que resta pouco e quase tudo está perdido.

ainda que cansado e um pouco manco, você separa a água suja do arroz e alimenta seu jardim que seca conforme o inverno avança, você espera.

atribuindo nomes e se disfarçando em falsos cognatos. falando línguas do estrangeiro, sentindo emoções do estrangeiro. convocando para celebrar a diferença e condenar a desigualdade. descobrindo na pele as injustiças amorosas e o desfazer de flores colombianas.

vem a noite e você mais que ela persiste, move a peça errada, inverte a tensãoo e desconhesse a corrente alternada. abre mão da promiscuidade e das drogas legalizadas e passa mais tempo na janela. usa a janela como porta e perde a chave da porta.

você espera e me dá o conceito mais sombrio de esperança. não morrerá só e terá o que sempre esperou.
:: inversão

e se o grande amor for alguém que lhe ama muito e não alguém a quem você ama ?


:: perdas

"Hoje quando acordei pensei no posto de caçula que perdi. Depois, pensei na morte do meu avô e, mais no passado, lembrei da saudade que sinto calada da minha avó que também perdi. Me prende a atenção a foto no porta-retratos na bancada do meu quarto. Lá está uma amiga que também perdi, em vida. Sorria ao meu lado, em um momento de completude absoluta. Do outro lado, está a foto do meu irmão, do meu xodó. Penso rapidamente em sua infância, que logo vou perder. Ele cresce sem parar. Levanto. Vou tomar remédios e vejo que perdi meus comprimidos. Vou colocar um disco e não acho, talvez tenha perdido. Começo a lembrar de cenas que se perderam na história. Esqueço. Quero esquecer. Fico paralisada quando começo a remontar minhas histórias de amor. Lembro do primeiro que perdi por amar tanto. Lembro do segundo que me perdeu por me amar tanto. Sinto saudade de doer o coração ao lembrar do amor. Penso no amor doentio que um dia senti por um namorado. Em seguida, lembro que perdi a loucura e que isso é sem-graça. Lembro das vezes que perdi no gato-mia e era emocionante. Lembro da primeira vez que andei de mãos dadas na praia e que eu poderia ter perdido mais tempo com esse prazer. Penso no meu último amor e, ao mesmo tempo, penso que perdi a verdade. Que o respeito perdeu-se. Lembro que perdi a chance de assistir "Noites de Cabíria" ao lado dele. Penso que perdi horas no trânsito. Penso, depois, que não acho algumas coisas que perco pelo caminho. Perdi o medo do escuro e o que eu queria perder - o medo da morte - não perdi. Vejo que perdi a relação que eu tinha com a minha irmã mais velha. Perdi tempo na minha última sessão de análise. Estou com sono. Perdi horas de sono chorando. Perdi água chorando. Perdi tempo de leitura, perdi a capacidade de refletir sobre o amor. Lembro da minha casa na vila, onde eu nasci, e recordo que perdi o casamento dos meus pais, que perdi meus gatos, que perdi meus cachorros e hoje só resta pelúcia, que talvez eu também perca um dia. Perdi minhas bonecas, minhas roupas, meus perfumes. Perdi meus amores inocentes. Perdi o brinco que minha avó paterna me deu aos quinze anos. Eram dela aos quinze anos de um tempo que não conheci. Perdi a época da Mona Lisa. Perdi shows do Eric Clapton. Lembro do dia em que perdemos Ayrton Senna e, logo depois, perdi a cesta decisiva no jogo de basquete. Depois, lembro que perdi a final da Copa do Mundo do ano passado. Perdi meu avô paterno na tv, no rádio, na vida da minha vozinha. Perdi minha coleção de bolinhas. Perdi a chance de escrever pro Valor. Perdi algumas anotações pessoais. Perdi o horário da manicure. Recordo que perdi algumas aulas de piano, que perdi o aprendizado, perdi um pouco de música por isso. Depois do piano, penso que perdi o hábito de tocar violão depois que um amor imperdível me perdeu. Perdi a possibilidade de fazer administração. Perdi a chance de tirar carta de motorista aos 18 anos. Perdi o comprimento do meu cabelo. Perdi alguns anéis, algumas fitas que gravei na adolescência. Perdi fotos da Mari. Perdi a vontade de assistir filmes do Glauber Rocha. Perdi a vontade de dançar forró. Perdi a chance de um grande amor no ano retrasado. Perdi alguns quilos. Perdi a promoção da máquina fotográfica da minha vida. Perdi um ano novo e uma grande amiga ao mesmo tempo. Perdi a esperança, mas tenho você e isso me conforta."

l.

29 julho 2003

:: carta (re)enviada

querida,

como vê planejei meu tempo para lhe escrever. não é tão difícil quanto pensava, mas requer alguma disciplina. talvez consiga me organizar até o fim do ano e assim possa pensar em um cronograma para visitar suas já tão famosas azaléias. é verdade mesmo que foi você quem as plantou? também adotei um jardim de trevos de quatro folhas. chamei-a de "flush garden" de tão feliz que fiquei ao saber que havia muito mais livros da virginia woolf que ignorava a existência. chegou a ler o "passeio ao farol"? lighthouse vai ser o nome de um projeto que ainda não inventei.

perguntou-me como eu estava. digo que estou bem, com os mesmo cem números de problemas e inventando uns cinqüenta números de soluções. os outros cinqüênta você sabe bem: o tempo resolve se a gente souber deixar.

é um tempo de perdas de ilusões como você disse, ando sonhando mais com a realidade e embora ela seja cruel, é nela que você está por exemplo.

fiquei um pouco preocupado com suas últimas palavras. não são tão duras quanto a nossas longas conversas madrugadas a dentro, mas possuem um quê de desesperança, o que as torna mais tristes. lembro-me de uma vez que me perguntou o que fazer quando tudo estivesse perdido. respondo: encontre tudo de novo.

como você, tenho tido amplitudes extremas de euforia e tristezas. tento me convencer que isso é a base de sambas. tenho pensado muito que esse gênero é um tipo de resistência mais que o nosso velho rock. sei que anda ouvindo muita coisa eletrônica e que desistiu de vez de cantar. é uma pena, porque lembro-me muito bem do quanto você sonhava com isso. aprenda baixo. deve ser tão divertido quanto.

não sei mais o que dizer. agora que consegui reservar esse tempo, talvez possa reservar outros ainda maiores para outros projetos. sei que não gosta desse termo, mas já me acostumei com ele. podemos passar o fim de semana num parque, jogando volei e eu posso ler para você alguns textos que você me recomendou. cantar, se eu tiver disposto.

cuide-se. sempre é tempo para se cuidar.

bjs

m.

28 julho 2003



mandou a ele esse poema do drummond, mas estava com grafias em japonês, erro do windows98 ao instalar os caracteres. resolveu procurar no google o poema com grafia e acentuação corretas. encontrou uma outra versão mais longa que dá outro sentido. não sabia da autencidade dessa continuação. reinviou para aquela que mandou a primeira versão para um parecer. talvez se convença da disparidade e transformação até das imutáveis palavras publicadas.

acordar, viver

como acordar sem sofrimento?
recomeçar sem horror?
o sono transportou-me
àquele reino onde não existe vida
e eu quedo inerte sem paixão.

como repetir, dia seguinte após dia seguinte,
a fábula inconclusa,
suportar a semelhança
das coisas ásperas de amanhã
com as coisas ásperas de hoje?

como proteger-me das feridas
que rasga em mim o acontecimento,
qualquer acontecimento que lembra a terra

e sua púrpura demente?
e mais aquela ferida que me inflijo
a cada hora, algoz do inocente que não sou?

ninguém responde, a vida é pétrea.
em teu crespo jardim, anêmonas castanhas
detêm a mão ansiosa: devagar.

cada pétala ou sépala seja lentamente
acariciada, céu; e a vista pouse,
beijo abstrato, antes do beijo ritual,
na flora pubescente, amor; e tudo é sagrado


c.d.a.

26 julho 2003

:: rtv98

ontem a minha turma da faculdade se reuniu para celebrar os anos da giu. tenho um carinho especial por eles. conviveram comigo por muito tempo. mesmo que estejamos tão afastados no espaço e no tempo, sempre me sinto presente na vida deles e agora percebo o quanto estão presentes no meu dia-a-dia. são grandes amigos, me mandam me fuder quando é preciso e me tratam bem quando não. não me respeitam simplesmente, é outra coisa.

estava receoso em encontrá-los porque pensava que não estava num momento bom e lembrar dos momentos bons com eles me deprimiria. que nada. foi outro tipo de momento, de velhos amigos. falamos de amenidades. tem muito assunto para se contar nessas horas.

é um tratado não assinado de pertencimento. eu pertenço a eles e eles a mim.

bjs, giu, faride, cauê, re, mari, nivão, jo, rodrigo e ale (espero não ter esquecido de alguém...)
_ pré-scriptium

a renata me disse que eu só escrevo história triste. não consigo me lembrar de uma alegre e acho que ela tem razão. se alguém lembrar, me comunique. procurarei outras histórias... fiquei um pouco receoso de colocar essa que vem a seguir por conta disso, quero mudar o final sem perder a essência. aceito sugestões.

:: o velho no parque

é um homem duro, sempre foi. precisou ser duro para vencer na vida. sua filha também sabia, talvez mais que qualquer um.

desde que sua mulher o deixou, prometeu que nada faltaria em seu lar que era assim que chamava o casabre em que morava com suas filhas.

a mais nova foi para o estrangeiro casada com um homem menos duro.

a mais velha sempre passeou com ele no parque. era a única mulher que ousava dar um beijo naquela barba suja de trabalho e lhe tomar o braço para acompanhá-lo. ela fugiu de casa um certo dia e 4 meses depois voltou grávida pedindo abrigo. o pai a aceitou como se nada tivesse acontecido.

voltaram a passear pelo parque, eram outros tempos, percebeu. ele pode ver a barriga crescer. procurou em suas lembranças algo parecido... nunca esteve presente.

foi um parto difícil. sua filha e sua neta não resistiram. sumiu do mapa durante uns 5 anos até que voltou a passear pelo parque.

encontrei-o no parque. semblante duro, quase avareza. no modo em que se apoia na bengala, um espaço denso e amoroso de dar o braço para que curem sua saudade.
:: vendedora

vejo no rosto da menina que vende biscoitos no ônibus um roubo. há em seu discuros de convencimento uma coisa modulada, impessoal. no olhar, um cansaço de gente vivida. nas envergaduras de seus ombros, um peso. e no chinelo limpo, uma dignidade. pede atenção para a qualidade do produto e a data de validade no verso e compara como boa economista a mais-valia.

roubaram sua infância.

tirei uns trocados do bolso e comprei um pacote. pensei no quanto de expectativa ainda resta para essa menina.

percebo então que ao meu lado, um outra menina ainda menor recebe a notícia de que sua mãe vai lhe comprar o biscoito com recheio de morango. a vendedora tira do bolso um pacote já aberto e dá a ela 5 biscoitos e pela primeira vez desde que entrou pela porta de saída, vejo na vendedora um sorriso que embora não fosse de menina, provocara um.
:: haiku

o sangue revela
a aspereza sinuosa
do concreto.
:: a mentira tereza

a mentira tereza é um fato oblíquo.
quanto mais se prática, mais se é sincero.
homens caminham na lua; polímeros substítutos.
o que fazemos com nossos desejos
são esperas preces eternas.

o céu dessa cidade não tem estrelas,
as cores de seu rosto são desbotadas,
há nuvens que não vem para deságuas,
e construir casas não significa estar.

quanta ilusão há nas velocidades do metrô?
quanta falta há no banco do passageiro?
quanta saudade tem o espaço de tempo trabalhado?
quanta vontade me dá de estar ao seu lado?

a mentira tereza esconde a transgressão da conformidade.
sê feliz com o nada que tem. sê triste com a febre.
telefones perdidos; conhecidos encontrados.
andar pela cidade com os pés nos vidros dos prédios.

leio livros em que acredito pouco,
aceito sorvetes de sabores sortidos,
conto verdades parecendo mentiras,
a mentira tereza vai sumindo, escorregando...
até que conveça de que não existe.
:: onde quer

meu deus, vem ver.
estive chorando,
mas não diga a ninguém.


hello, hello

um grito surdo como se implodisse.
anda chorando para dentro e não achando solução.
odeia quando lhe dizem o que fazer;
odeia ainda mais quando não sabe o que fazer.
as pessoas percebem e vão embora.
você as sente indo. é o que pode sentir.
ameniza com caras e cheiros
e não conta para ninguém.

é o seu tempo estático:
tem nítida sensação que em você o tempo parou.
enquanto as coisas vão envelhecendo ao seu modo,
você continua com medo e desaprendendo.
há quem goste de você, mas você não se importa.
há com quem você se importa, mas se sabe muito pouco.
representar a si mesma é a tarefa mais difícil que lhe coubera,
por isso representa outras tantas personagens
profundas quanto ao mar,
mas não é o seu mar.

e se sente solitária
como se não existisse mais ninguém como você.
e não existe ninguém como você.
porque só você tem esse modo de sentir medo de si mesmo.
outros tantos tem medos parecidos, mas você não são os outros.
os outros estão aqui para outra função:
para que lhe reconheçam e para que os reconheça.

:: a arte

era artista plástico. trabalhava com madeira. fazia tótens, as pessoas amavam, mas não se satisfazia. achava-as bobas paradas em lugares só para serem vistas. podiam piscar, podiam se mover, podiam conversar e sugerir idéias, podiam se inventar sozinhas. mas não era assim. precisava daquilo para pagar as contas, continuou.

até que foi convidado para uma exposição em outras terras. precisava embalar as peças. resolveu ele mesmo fazer as caixas. gostou. caixas guardavam coisas como memórias e invenções. virou marceneiro e inventou muitos tipos de caixas até que um menino pegou uma para ser seu forte. daí ele foi fazer brinquedos.
:: parede

hoje vi uma parede em que alguém se deu uma janela.

25 julho 2003

:: fight test

i don't know where the sunbeams end
and the starlight begins
it's all a mystery
:: crisântemos

no jardim da mulher sozinha, há um cem números de crisântemos. em tempos frios e secos fica um tapete de pétalas envolta de um vaso - é o único no jardim - que possui a mais bela floração e que resiste.

um estudante intrigado não resistiu e foi perguntar o segredo das flores resistentes para mulher sozinha mesmo sabendo que era avessa a estranhos.

ela sorriu da falta de perspicácia do jovem e disse:

-- elas não são de verdade. um antigo amor me deu porque eu fui a grande ilusão da vida dele.

o jovem ia fazer menção às flores ao redor, ela percebeu:

-- os outros crisântemos? não sei. eles chegam, cercam o vaso e morrem.

ele ia perguntar quem era o antigo amor, mas desistiu e esqueceu. nunca mais falou com ela.

24 julho 2003

:: sinos

"quando um homem morre, eu sou atingindo porque pertenço a raça humana. por isso nunca tente saber por quem os sinos dobram: eles dobram por ti."
:: cachorro dominical

no ponto do butantã-usp do terminal parque d. pedro 2 está sentado um cachorro que espera. é malhado de pardo e preto; tem um olhar triste e um rabo alegre como qualquer cachorro. toda vez que chega um ônibus descarregar seus passageiros, há algo nele que me angustia, uma esperança experiente de ter sido renovada muitas vezes por tantos ônibus que chegaram e partiram.

embarco. começa a espera de 20 minutos que é o intervalo ditado pelo fiscal. no domingo os intervalos são de 1 hora. ele deve saber disso; deve saber quando é domingo.

e imagino o quanto os meus domingos são determinados pela espera também.
:: manhã

há na manhã seguinte ao de um grande encontro uma sensação de dever cumprido.

22 julho 2003

:: chico em cy

é um disco que está me salvando. vale a pena ouvir... choro bandido e o samba do grande amor...
:: hoje estou o samba do grande amor para você

Tinha cá pra mim
Que agora sim
Eu vivia enfim o grande amor
Mentira
Me atirei assim
De trampolim
Fui até o fim um amador
Passava um verão
A água e pão
Dava o meu quinhão pro grande amor
Mentira
Eu botava a mão
No fogo então
Com meu coração de fiador

Hoje eu tenho apenas uma pedra no meu peito
Exijo respeito, não sou mais um sonhador
Chego a mudar de calçada
Quando aparece uma flor
E dou risada do grande amor
Mentira

Fui muito fiel
Comprei anel
Botei no papel o grande amor
Mentira
Reservei hotel
Sarapatel
E lua-de-mel em Salvador
Fui rezar na Sé
Pra São José
Que eu levava fé no grande amor
Mentira
Fiz promessa até
Pra Oxumaré
De subir a pé o Redentor

Hoje eu tenho apenas uma pedra no meu peito
Exijo respeito, não sou mais um sonhador
Chego a mudar de calçada
Quando aparece uma flor
E dou risada do grande amor
Mentira

p.s. chico buarque é um filho da puta.

21 julho 2003

:: pipas

aprendeu com um namorado a arte secreta da guerra das pipas. em seu bairro existiam regras rígidas: linha 10, 30 m de cortante e era proibido o uso de vidro de lâmpada fosforecente. todos diziam que dava câncer.

foram dias bons. ela aprendeu tudo que ele podia ensinar e num determinado momento, era até melhor. ela era mto respeitada e ele se orgulhava disso.

um dia, ele mudou de cidade e deixou com ela mais um segredo. era um carretel americano cheio de artíficios como carretel de pescador.

o tempo passou e as batalhas aéreas continuaram. ela chegou a empinar umas 2 vezes mas desistiu; não tinha graça sem ele.

os pipas caíam na sua casa e ela as guardava. os meninos não tinham coragem de pedir de volta porque era um honra que ela as empinasse. ela guardava todos num canto invisível do quarto... para ele.

acordou, um dia, com a luz forte do sol e um vento sereno. deixara a janela aberta e os papéis da escrivaninha voaram. as pipas, no chão. achou-os tristes por perderem o sentido. ela mesma percebeu que a cada dia perdia o sentido.

pegou alguns sacos de supermercado e fez uns 100 metros de rabiola. contou as pipas: eram 29. entre varetas de bambu e peixinhos. deu a todos a devida rabiola. pegou o carretel americano e a sua velha lata de nescau e foi para rua.

os meninos fizeram roda para vê-la empinar. ela deu o carretel americano para uma menina que fazia pouco das pipas. levantou vôo às 29, uma de cada vez, e mesmo que os meninos lhe oferecessem cerol para 3 quilometros de linha, ela foi se deixando cortar.


:: minusculas

me perguntaram por que eu só usava minusculas; se era ideológico, como se as maiusculas fossem letras grandes e repressoras. no começo pensei que fosse algo assim; sempre me pareceu heróico.

hoje acho que é porque eu gosto das coisas pequenas, como se tudo fosse entrelinhas. talvez seja uma busca perdida pela pequeneza; até que todas as palavras de tão pequenas se tornem invisíveis.


20 julho 2003

:: parachutes.tv no ar!!!

o episódio 1 do parachutes.tv está no ar!!! um pouco tosco, mas que prometo melhorar no andamento das coisas. é preciso ter o real player.

:: hoje estou 1979 para você

Shakedown 1979, cool kids never have the time
On a live wire right up off the street
You and I should meet
Junebug skipping like a stone
With the headlights pointed at the dawn
We were sure we’d never see an end to it all
And I don’t even care to shake these zipper blues
And we don’t know
Just where our bones will rest
To dust I guess
Forgotten and absorbed into the earth below
Double cross the vacant and the bored
They’re not sure just what we have in the store
Morphine city slippin dues down to see
That we don’t even care as restless as we are
We feel the pull in the land of a thousand guilts
And poured cement, lamented and assured
To the lights and towns below
Faster than the speed of sound
Faster than we thought we’d go, beneath the sound of hope
Justine never knew the rules,
Hung down with the freaks and the ghouls
No apologies ever need be made, I know you better than you fake it
To see that we don’t care to shake these zipper blues
And we don’t know just where our bones will rest
To dust I guess
Forgotten and absorbed into the earth below
The street heats the urgency of sound
As you can see there’s no one around

e que se foda o futuro!!!
:: dia do amigo

dizem que só os marginalizados possuem dia comemorativo.
:: bailarina

um dia a menina sonhou outros vôos. prendia o cabelo para que desse aerodinâmica. suaves músculos rígidos. sabia o ângulo que seus braços deviam ficar para ter estabilidade, mas era difícil alçar, reconhecia, mas queria muito ver as estrelas de sua visão. e há tanto mar, tantos tempêros outros, tantas céus com tantas histórias que só pensava na hora que podia ouví-las.

a menina que voa ouve pela pele, vê pelo coração, sente nos tecidos de sua veste o grande palco que é a vida. ninguém acreditava que a menina que voa voaria, hoje sentem falta de algo que não sabem o quê. mande cartões-postais. ligações internacionais. tire fotos e conte para os que ficaram que a falta é de esperança.

19 julho 2003

:: pride

todos esperam que eu encontre alguém que me faça feliz. pelo menos as pessoas que me querem bem ou aquelas que me querem ver ocupado. porque todos acham que merecemos ser feliz nessa vida. todos tem esse direito e talvez seja a única coisa que faça sentido e dá sentido a tudo.

sempre me ocorreu que era impossível ser feliz, por exemplo, sendo um medroso. que a felicidade se buscava enfrentando seus medos e vencendo. hoje questiono a possibilidade de que talvez haja felicidade em pessoas medrosas. talvez uma pessoa viva constantemente com medo e mesmo assim seja extremamente feliz. já me perguntei se era possível ser feliz ignorando as coisas, as dores por exemplo. e descobri que sim.

acho que é possível passar por essa vida sem grandes vitórias e mesmo assim se sentir um vencedor. me perguntava o que fazia uma pessoa ter vivido e não apenas sobrevivido. não tenho resposta. mas a que menos me comoveu, mas a que mais percebi foi: dignidade.

é preciso de um pouco de dignidade e respeito por conhecimentos, histórias e sentimentos. nao precisa se entregar a eles. mas não se pode menosprezar. inventar pode ser subvertê-los, mas também pode ser uma forma de honrá-los quando se sabe que são bons.

o que quero hoje é um pouco de dignidade. de aceitar meus limites e reconhecer minhas qualidades. quero ter a dignidade de poder oferecer o melhor de mim e rejeitar o pior dos outros. de dizer sem titubear o quão importantes são para mim essas coisinhas que faço e o quanto não são. e se alguém quer me fazer feliz que seja digno e não o faça só por dignidade.
:: ayumi

ela caminha até a janela. arrasta o pé direito porque seu joelho não quer dobrar. a barra da calça tem as marcas por onde andou. percebe umidade entre seus dedos e a meia, mas o calor da janela é quente. poderá secá-la. há barulhos de motores e a sombra de uma grande árvore. tira seus cabelos lisos da frente de seus olhos e espera por uma visão.
:: passagem

tenho um fascinio por estações de metrô, trem, terminais de ônibus, rodoviárias, aeroportos. são lugares de passagem, pontos pressupondos retas, caminhos. pessoas que esperam, pessoas que chegam, pessoas que vao, pessoas que se deixam ir.

16 julho 2003

:: for liza

há muito do que se arrepender, do que se magoar e se entristecer nessa vida. sempre há dores nos envolvendo em épocas e níveis diferentes. usamos a memória como contrapeso para fatalidades. quando caminho, a cidade sempre me envolve em seu céu memorial. sinto o calor do sol que me dá contraste de como anda frio o meu coração. sinto frio o que acentua algumas dores. a vida é um sobreviver muitas vezes.

mas outras vezes, não.

há surpresas boas nesta vida. a liza é uma delas. as dificuldades da vida moderna conspiravam para que não nos conhecessemos. quantas pessoas que nos fariam bem não chegamos a ouvir falar por pressa, compromissos, orgulhos bobos e preconceitos? desencontros são a coisa mais comum. desencontros espaciais e temporais são a concretude de possibilidades, potências que deixam de acontecer.

mas ela me encontrou, veja só.

e desde então me desloquei. percebi que mesmo que esteja tudo perdido, sou eu quem deixará este "tudo" perdido. me entregarei porque é minha escolha. as feridas cicatrizam quando estão ao léo e não quando o projegemos com band-aid. é um risco. o vento desse céu memorial pode trazer algum vírus para minha ferida exposta. mas também pode trazer o oxigênio necessário para criar a cicatrização.

agradeço, de coração, todo o aprendizado. é parte de minha humilde vida. talvez não seja muito para ti, mas é muito para mim. gostaria que soubesse.

feliz aniversário. muitas felicidades. não se embruteça e força sempre. te amo.

marcio

p.s. tenho muito mais para escrever mas minha mão dói. compensarei futuramente.

15 julho 2003

:: parachutes.tv

um teaser do piloto que deve entrar no ar no final do mês. é preciso ter o real player.

14 julho 2003

:: tombo

hoje caí. a pressa das coisas me fez correr e tombei. cortei a mão, arregacei meu joelho direito e torci o tornozelo esquerdo. tomei um monte de analgésicos para aliviar a dor. não resolveu muito. a mão cortada deixa mais difícil o ato de comer e escrever. o joelho e o tornozelo me impedem a mobilidade precisa para a cidade.

sinto que a dor física é maior que qualquer dor na alma.

vejo-me ridículo por esse episódio. eu que sempre pude estar e sair, agora levo mais alguns minutos lentos para dizer adeus. e nem sei como usar isso em favor dos ois.

13 julho 2003


:: prisões

não sei do que são feitos essas barras. e se a simetria aprofunda o sentimento de impossibilidade. posso te ver daqui, mas não posso passar. a tua prisão invisível é tão instransponível quanto o centro de um deserto. já pensei em mil planos e exercícios em trapézio para furlar a frieza das paredes que te envolvem. mas sempre foi difícil permanecer tão próximo com esse artifício envolta.

é muito engenhoso. já admiti isso muitas vezes. eu não posso quebrar a fechadura e nem destruir essa prisão. você sempre pensou em fugir, mas sempre imaginou o modo como a recapturariam e por isso sempre teve medo. metade da prisão é o medo de falhar.

não posso libertá-la. mas posso segurar sua mão. e minhas mãos estão sempre quentes ao contrário dessas barras que estão sempre frias. posso ficar esperando você achar sua liberdade. posso me prender a você e achar que isso é liberdade.

:: acompanhamento

já não conseguia acompanhar meus pensamentos. agora não consigo acompanhar também meu coração. a loucura quem diria é solidão também.


:: flamingo

já é tarde. as ruas em silêncio sepucral. ouço o zumbido das lâmpadas públicas. tento ler, não tenho companhia a não ser o flamingo. ofereço café, ele bebe com prazer. dividimos a preocupação em manter estável a corrente elétrica da casa. pequenas piscadas. o flamingo olha para mim e diz para não me preocupar.

há no olho dele uma serenidade de coisa experiente.

o rádio marca as horas. me acordará se já não estiver. já é domingo. dia do senhor. todos ansiosos pelo dia improdutivo. imagino o parque cheio, dia difícil para o flamingo que disputará com pombos e rolinhas as migalhas de broas, pães e biscoitos. digo a ele que pode ficar, que não será incomodo se ele ficar em outros cômodos. minha leitura é preciosa. é necessário que termine até segunda de manhã. ele concorda. eu prepararei o café e ele, as torradas.

12 julho 2003

:: flores

hoje fui na floricultura aprender os nomes para te falar e mostrar.
:: pequenas verdades de chuva e de choro

há na feitura dos versos uma invenção especial. a poesia não está na matéria física, mas na concretude da palavra. fazer versos deve ser uma espécie de jogo em que as peças são a expectativa, a construção, a comunicação e os sentimentos. fazemos versos a todo momento. queremos emocionar. queremos nos emocionar. inventamos realidades a partir da realidade cruel e tornamos esta última menos cruel.

pequenas verdades de chuva e de choro é isso e mais. é uma observação aguçada do ordinário. ensaios em linhas quebradas. notas. apreensão foto-verbal do que é efêmero. os haikais são o principal exemplo. me angustia um pouco ser tão contemplativo, mas há sempre um desejo ali contido prestes a desencadear.

recomendo. boa leitura.
(é preciso ter o acrobat reader)
:: flush garden



eles crescem. quando damos a atenção, eles já querem se prestar. ter a funcionalidade da sorte. fazer o bem. alguns não resistem a tantos detritos aéreos, a oscilações bruscas de temperatura, queimam-se, azedam. falta de sorte. outros vão para o entrelivros, perpetuar-se na morte e significado. mas o jardim resiste as estações, resiste a desesperança.

boa sorte aos que não têm.

:: one i love

não deixem de ler o blog conjunto da liza e do autor deste humilde blog!

http://www.oneilove.blogspot.com
:: caminhar

a moça já tinha a prática. o homem se deixava levar. ruas planas eram sempre mais serenas. fora os paralelepípidos! ela não era forte, tinha um corpo pequeno e delicado, embora seus braços parececem mais velhos. o homem também tinha braços fortes. seus olhos eram tristes e quase sempre fitavam o chão. era difícil para ele. talvez fosse mais fácil para ela.

cadeiras de rodas são metáforas de uma mobilidade imperfeita.

quando ela foi atravessar a rua, percebeu que a guia seguinte era mais alta. tentou pegar um impulso que não assustasse o homem mas que a levasse para o outro lado. conseguiu colocar as duas rodinhas da frente, mas não aguentou o peso do homem para impulsionar a cadeira. ficou no meio fio, esforçando-se.

o homem não podia com aquilo. angustiava-se, mas calava. qualquer coisa que dissesse poderia causar pena nele mesmo. encolheu-se na cadeira. a menina desesperada sentiu que não conseguiria. pensou que se o deixasse cair tudo ainda mais estaria perdido. o esforço que ela teve de fazê-lo acreditar nas coisas, as receitas que disse que ensinaria (havia convencido ele a ser confeiteiro), os objetos que produziriam com barro e vidro. amava-o. não tinha esperanças por si, mas deveria ter por ele.

ela pediu ajuda a um passante. o homem ainda mais humilhado nem quis ver o rosto de quem lhe ajudava. ouviu só a menina agradecer quando ambos já estavam do lado que objetivavam. ele cruzou seu braço esquerdo até o ombro onde estava a mão direita da moça. era um agradecimento. a moça apertou forte por alguns segundos; era um de nada.

:: clouds

estou com frio e só. ando tendo dificuldades para respirar. o inverno me faz sentir as articulações dos dedos e não consigo manter minha atenção. é um corpo cansado. os olhos semicerrados: um pouco por preguiça, um pouco para evitar que entre muita luz. o caderno de anotações já acabou. mas sobra bastante tinta na caneta. ela não falhará.

tenho lido menos os jornais e ignorado alguns emails. o correio me traz pouca coisa e me atento ao fato do pó do café durar até a segunda. minha conta de telefone revelou o abuso que tenho me tornado. relendo trechos de livros; usando pouca blusa; pegando shampoo emprestado; evitando os lançamentos das locadoras e comendo pipoca de microondas.

o som já gasto de tanta música tocada. os dicionários com marcas de muitos dedos. aquele vhs que mofa esperando minha atenção.

está nublado lá fora. está nublado aqui dentro.

11 julho 2003

:: amor 1.1

fazemos uma declaração de amor por dia e nos sentimos felizes.
:: incompletude #01

tenho vários post incompletos. idéias sem formato final para ser publicado. são vinte e nove, quase trinta. este ainda terá um fim. o que anda acontecendo com o mundo? o que anda acontecendo comigo? falta-me. não completo. pingos nos is. tudo dois pontos.

completa-me.
:: oráculo

o velho homem no buteco da esquina me acusa. aponta todos os dedos indicadores de suas várias mãos e com a autoridade de seus destilados e a sabedoria dos anos e bares diz que não serei feliz. como um oráculo que nada sabe dos diafragmas mas dos capitalismos da vida. depois sorri com sacarmos e entorna outra maldita.

viro-me. continuo andando, tentando manter a velocidade que normalmente teria em dias esquerdos. há um sol para encarar. sim, há muitos sóis. não serei feliz.

sou assim.

10 julho 2003

:: histórias

o cobrador:
-- eu cortava cana. era analfabeto. só sabia fazer isso. foi quando me enrabixei pela filha do patrão. a danada me ensinou a ler, escrever contar.
ela:
-- a contar estórias?
-- não. a 1, 2 e 3. ela foi contar ao pai da gente. o homem ficou uma arara. tivémos que fugir para a capital. mas aí a danada me trocou por outro que sabia ler, escrever, contar e cantar. eu não sei cantar. aí meu amigo disse que eu estava muito vagabundo e me arranjou esse trabalho de cobrador.
-- mas o senhor gosta?
-- senhor está no céu, minha filha. gosto sim. muita gente. vão me mudar de linha mês que vem. quem sabe não encontro outra danada que me ensine a cantar?

09 julho 2003

:: intensidade

muita produção. sinto minha cabeça prestes a explodir. meu coração cansado. sinto frio como se meu corpo já não desse conta de aquecer tudo e a todos. prepare um chá mix de erva cidreira, camomila e outras bruxarias. volto.
:: sua falta

não sei como vai ser.
se a estrada é tão longa
ou tempo planejado tão curto.
sinto sua falta nas escadas,
nas calçadas, no ganhar segundos
de uma refeição muito rápida.

não sei quais os tracks
e se terei pilhas. se os feijões luzirão
e o bolos de chocolate crescerão.
sinto sua falta, seus olhos.
seu sorriso que é mundo.
seu sorriso.

sei que existem os mistérios.

não sei se o sol nascerá
e onde eu termino e você começa.
não sei se voltará a falar comigo
ou se os juros baixarão a apatamares de aquecimento.
sinto falta de seus mimos, de sua atenção.
de acreditar e deixar estar.

não sei se existe vida em marte
ou o que aconteceu com os trabalhos de antropologia.
não sei quantas estrelas há no céu,
nem se vamos contá-las algum dia.
sinto falta de seus contos,
das áreas que tornam seu rosto doce.
da sua voz jovial e timbre.
e os cheiros de bem querer.
chás, pães franceses, polyethylene parte 1 e 2.

sei que estarei com você
enquanto estiver disposta a cantar.
sei que estarei com você
enquanto estiver tentando se dispor a cantar.

08 julho 2003

:: festa 11.07


:: amor 1.0

quero dizer que te amo mesmo que isso não seja pressuposto para que me ame.
:: caixa

há nas caixas uma vontade de ser conteúdo e nas caixas de presente uma vontade de ser avesso como um abraço que é para dentro querendo ser para fora.
:: velas

"o amor prefere a luz das velas talvez porque seja isto o que desejamos de uma pessoa amada: que ela seja uma luz suave que nos ajude a suportar o terror da noite sob a luz do amor que ilumina modesta e pacientemente, o escuro já não assuta tanto. é noite de paz! "

(rubem alves in:o retorno e o terno)

:: bicho de pelúcia

tinha mtas chaves de mtos lugares, mas não pertencia a nenhum deles. a errância entorta a raiz. mas os bichos de pelúcia em seus chaveiros mudaram o jeito dela. pertencia a eles e não a lugares.


:: o tempo em suspenso

é como viver um colapso no tempo, um tempo em suspenso, a realidade dos olhos dela e os olhos imaginários se confudem feito gases estratosféricos. primeiro é uma tentativa de permanecer extremamente sensorial para as coisas que vem e são simples. segundo é confrontar essas sensações com a expectativa do mundo inventado, projeto de embalagem.

e o tempo suspenso é a indicação de vida suspensa. não faço parte de vida ordinária dela, de seus detalhes e sutilezas. faço parte de uma vida que não tem realidade no tempo. sou quase atemporal. uma entidade mítica que acidentalmente caiu no mundo de carnes e ossos.

a minha luta é pela perda do significado e pela minha materialidade no tempo dela.

:: paredes

há em são carlos, como em qualquer cidade, um cemitério com paredes beges pedindo que lhe escrevam um aviso sobre a breviedade da vida.

03 julho 2003

:: dolls


filme novo do kitano. o cartaz é lindo.

:: a amizade

os moleque bolando uns cumprimento, dialeto secreto de amizade. vai ser meu brother enqto souber cumprimenta!
:: hoje estou paper boat pra você

I think it's going to be all right
I think it's going to be just fine
I think it's going to get much better than before

I think we're going to see the sun
I think we're going to have some fun,
I think we're going walk out through the open door

And maybe when we wake up in the morning
Maybe when the darkness starts to fade
Maybe in a paper boat we'll both just float away

Underneath the river trees
Off towards a lazy sea
Underneath the bridge that carries people home

Past the church where Jesus saves
Up and down upon the waves
Sailing off towards adventures of our own

Maybe when we wake up in the morning,
Maybe when the darkness starts to fade
Maybe in a paper boat we'll both just float away

Maybe when we wake up in the morning,
Maybe when the trumpet starts to play
Maybe in a paper boat we'll both just float away

(Trumpety bit)

I think it's going to be good fun

(belle & sebastian)
:: portishead

agora tenho a discografia completa, inclusive o disco solo da beth gibbons... mais triste pra quê?

02 julho 2003

:: sparks #02

quero estar no escuro,
com você,
me apaixonando,
ouvindo essa música.

01 julho 2003

:: atitude macho

o homem prefere carregar o bebê chorão a levar a bolsa rosa do bebê.
:: reengenharia

era esse seu trabalho: tratar bem as pessoas. passou 5 anos de sua vida, desde os 16, tratando bem as pessoas. alguém entrava; ela percebia a desorientação e prestava ajuda. posso lhe ajudar, com um sorriso acolhedor.

mas na reengenharia da empresa essa conta não entrava. já estava 8 meses desempregada, quase um filho. diziam, como não arranjar emprego com tanto esforço e simpatia?

foi vender salgadinhos numa barraquinha alugada de um camelô, perto da 25 de março. e nem é de tanta valia seu tratar bem, mas o preço da coxinha: 50 centavos.
:: frase de caminhão

"votem nas putas, nos filhos não deu certo."
:: ficção científica

no ônibus, sentei-me no lado direito, na janela. na radial leste, há um muro que separa a linha do metrô e a via de automóveis. durante alguns segundos surpreendi-me com a seguinte imagem: um casal numa moto correndo sobre esse muro.

era a imagem sobreposta do reflexo no vidro da radial e a paisagem ao fundo.

desde então, as janelas do ônibus se tornaram séries de ficção científica. elas contam histórias de mundos que escrevem de trás pra frente.
:: pavê de limão

um blog novo... servido?
:: achado

encontrei essa espécie de carta na rua perto do tatuapé. tava toda rabisca e era em papel de seda! pensei q o dono reclaramaria, mas não apareceu ninguém. li no ônibus e achei genial.

"13 de setembro

você diz que vai entender, pra eu falar, pra eu contar tudo porque vc qure saber tudo de mim . mas você não vai entender. se nem eu entendo. se nem eu sei ou distinguo se tenho andado em círculos por todos esses anos. vc nunca sera capaz de sequer tocar nas idéias que me assombram porque vc é sadio demais, vc é toda a sanidade que eu gostaria de ter.

vou matar nós dois este noite porque nós, juntos já nem fazemos sentido. nos olhamos como se ainda nos gostássemos mas vc sabe que já não é assim, há um grande silencio entre nos. eu te amo e vc gosta muito de mim . esse não foi o problema. sempre achei que podia te amar mais do que vc a mim , que isso naun me incomodaria e acho que não incomoda. tenho consciência de que preciso mais desesperadamente amar do que vc precisa. vc ama qdo o tempo e o carinho tornam a segurança algo palpável e daí vc ama. eu amo por desespero, amo quando tudo parece ruir e preciso de um platô sólido no meio do rio degelando. gostaria de não ter essa sofreguidão. não é sofrimento , é sofreguidão. sentir tudo escapando , me debater e gritar sabendo que não dá mais pra fazer nada. se vc me conhecesse se incomodaria com minha sofreguidão, mas consigo esconde-la com uma fleuma paranóica e disfarça-la alegando uma personalidade egocêntrica recheada de piadas cáusticas. é mais fácil fingir ser outro do que aparenta. ser outro é que não da, senão eu já o teria feito.

você é espetacular. admiro praticamente tudo em vc, talvez minha paixão me cegue aos seus defeitos mas acho que é assim mesmo que funciona. você é espetacular mas nunca vai sentir o verdadeiro calor da minha alma porque você nunca vai entender o quanto e o como eu preciso de vc. seria assustador e doeria , não quero isso pra vc, não vou jogar meu peso em vc. você existe e não precisa ser meu pra isso. você não precisa ser meu e só quero mesmo ter certeza de que vc existe. pra eu acreditar que se eu me curar um dia, haverão pessoas pra me acompanhar. você me desejou tanto como desejou minha felicidade. você só não sabia que minha felicidade não teria a ver com sua pessoa porque vc é perfeito demais e eu me sinto uma freak perto de vc. não entendo o que vc gosta em mim . não entendo qdo e o que vc compreende de mim, da minha vida e das minhas idéias, e me frusta toda vez que percebo a simplicidade dos seus sentimentos. ´pra vc sou bonita e legal e isso pra mim não que dizer absolutamente nada. provavelmente vc se esforçaria mais se fosse mais facil mas vista de perto eu devo me parecer com uma bagunça que ninguém quer arrumar.
não entendo o que ainda faço aqui, preferia estar internada numa clinica de repouso ou me drogando num beco sujo.eu não combino com esses papeis de parede, com esses restaurantes caros com essa felicidade limpa.

eu só queria dizer que eu preciso voar ou eu morro, eu não estou voando, acho que vc também não. é isso, adeus, acabou tudo entre nos, não somos mais namorados e nem nos beijaremos casualmente nos fins de semana. não me ligue, não me procure, não respire perto de mim , ja é difícil demais por carta.

tchau, boa vida pra você.

este texto não vai pra nenhum livro ou revista, não vai brilhar em nenhum concurso, não recheará bolso ou envelope.
esse texto é uma carta de despedida fictícia, endereçada a uma pessoa boa demais pra recebe-la. vou rasga-la. vou manda-la a amigos queridos que talvez consigam me entender por terem no peito o mesmo tipo de drama. mas vc nunca vai ler essa carta porque quero que vc continue sendo uma pessoa gentil, inteligente e sadia. uma pessoa que ama os pais com naturalidade, que tem amigos e se diverte quando o trabalho e os estudos permitem. te amo tanto quanto um personagem de filme que eu não posso tocar porque não existe, mas vc existe, obrigada. todos os heróis dos meus filmes e livros se parecerão com vc, se é que antes de te conhecer, eles já não se pareciam. adeus. "

não está assinada. e não sei se quem jogou foi o remetente ou o destinatário...