a million parachutes

for us

30 outubro 2006

:: casa

nessa casa, as paredes são de madeiras irregulares. da janela não se sabe o que é ou não buraco. passa-se o dia inteiro ouvindo o trânsito dos ventos e ventanias. os sacos de mantimentos mantêm as cortinas presas e formam uma vela que empurra a casa cada vez mais para a esquerda. os móveis estão cada vez mais envelhecidos com a ação do sol e das chuvas. retratos ovais e coloridos com tintas, fogão sem lenha, colheres, abridores, cobertores, armário sem porta. o vento encontra caminhos entre os móveis que resistem e faz uma música cacofônica sem sentido.

eu não sei se sou eu ou a casa que flutua.

29 outubro 2006

:: abraço

no abraço de joana eu pude ver toda sua felicidade. era como se saltasse para alguma fenda no espaço-tempo e pudesse perceber muitas alegrias que estavam ali e não percebia. e seu vestido branco era um traje que a materializava de volta para que pudesse me beijar o rosto e me desejar o mesmo.

23 outubro 2006

:: contra o vento

pendurar velas em galhos e desafiar o vento a apagá-las.
pendurar ventos em galhos e desafiar a vela a acendê-los.

:: fotologs

às vezes, fico a navegar entre fotologs procurando por histórias. uma imagem leva a outra numa corrente sem muita lógica. é como um cinema imaginário, cheio de personagens e diálogos cruzados. muitas caras me soam familiares embora nunca as tenha visto realmente. há quem me dê legendas e me indica diretrizes. há quem esconda as legendas em cores de papel de parede. um momento de pausa e percebo que algumas fotos são flash backs. fotos que não foram publicadas na época e que agora querem fazer sentido no hoje. é um desejo ou uma lembrança?

já me disseram para ver além da foto. já me disseram para viver além da foto. o digital nos registra com mais precisão e talvez registre nosso charme impreciso. o meu olho enxerga histórias onde não há. despercebe a história onde há. abro uma janela e vejo todo um mundo cheio de significantes e significados que desconheço.

e esta sensação de que o mundo é inédito e não caberá nos dvds me deixa incompleto e feliz.

21 outubro 2006

:: lighting

... há uma luz que resiste a escuridão e lhe dá sentido. ela ilumina meu rosto e mesmo que não possa ver, posso sentir sua materialidade em pontos da minha pele. estou envelhecendo, é o que a luz me diz. mas se eu tiver um pouco de sorte e invenção, a luz vai atravessar meu corpo, distorcendo e dilacerando. e vou voltar a fazer parte da escuridão e saberei que toda escuridão já foi iluminada ou um dia será.

20 outubro 2006

:: coração vulgar _ paulinho da viola

morre mais um amor num coração vulgar
deixa desilusão a quem não sabe amar.

e quem não sabe amar há de sofrer
porque não poderá compreender
que o amor que morre é uma ilusão,
e uma ilusão deve morrer

um verdadeiro amor nunca penece
que pouca gente ainda o conhece
meu bem, se o seu amor morrer,
é porque ninguém o entendeu
deixa o teu coração viver em paz
o teu pecado é querer amar demais.


Powered by Castpost

eu já estou com quase 30 anos e vejo a vida passando. todo dia eu acordo pensando que não precisaria amar tanto, que não é necessário tanta beleza porque não há tanto horror no dia. no final do dia sempre me vem esta conclusão de que não sei amar ou que amo de um jeito muito torto. não gosto da idéia de sofrimento, mas continuo com dificuldades em dissipar a idéia de que um grande amor é para ser recompensando. estas coisas tem uma justiça própria que está a revelia das ritmias do coração.

chora, cavaquinho.

15 outubro 2006

:: declaração

hoje eu ouvi uma daquelas declarações de amor em que se não tem a palavra amor.
aquelas declarações que não informam mas fazem guardar.
do tipo que é mais uma lembrança repentina
que se não for dita, cai novamente no esquecimento do dia-a-dia.

e que no mecanismo simples das declarações de amor,
você é a parte que faz sentido mesmo que todo o resto esteja perdido
no mar de sentimentos não declarados.

14 outubro 2006

:: parachutes.tv _ boa noite brasil



sem edição.

13 outubro 2006

:: parachutes.tv _ nossos pés descalços


câmera e edição: marcio yonamine

casamento de nivea e felipe, pessoas formidáveis, casal adorável.

10 outubro 2006

:: maquiagem

fazer sombra para teus olhos
é o tipo de coisa que nunca me ocorreu fazer.
é como pintar um eclipse frêmito.
e teus cílios são aquelas chamas em fuga
que pensamos que as estrelas desperdiçam,
mas confirmam fatos formidáveis
como a curvatura da luz.

08 outubro 2006

:: iso

nós somos a sombra do que fomos.
onde está luz do que seremos?

07 outubro 2006

:: chapéu

comprarei um chapéu de sambista já que um sambista não serei...
:: premeia

antes de cantar um samba do cartola, paulinho da viola nos contou essa história:

em meados dos anos 50, muitos acreditavam que o lendário sambista cartola estava morto porque não se falava dele e quando falavam era sempre no passado. há um momento na vida de cartola que ninguém sabe bem o que aconteceu, nem mesmo o sambista fazia questão de tocar no assunto.

stanislaw ponte preta, grande cronista carioca, estava andando em ipanema quando viu um lavador muito semelhante ao cartola:

-- você parece o cartola!

-- sou eu mesmo.

ponte preta ficou perplexo. escreveu matérias falando sobre o assunto. cartola voltou a cena do samba. até que a mangueira, escola da qual cartola é fundador, chamou o velho sambista para ser diretor de harmonia. cartola ficou lisonjeado, mas recusou. dizia que as coisas eram muito diferentes da época em que era ativo membro.

cartola, contudo, escreveu um samba para agradecer o convite. um samba lindíssimo.

mas um dia, alguém questionou sobre uma dificuldade de conjugação verbal que havia na letra. cartola ficou constrangido e evitava cantar o samba. até que seus amigos o convenceram de que era bobagem. que se havia algo incorreto era a gramática porque como a norma padrão pede ficaria muito feio.

então paulinho da viola nos cantou o samba:

"todo o tempo que eu viver
só me fascina você, Mangueira
guerreei na juventude
fiz por você o que pude, Mangueira
continuam nossas lutas
podam-se os galhos, colhem-se as frutas
e outra vez se semeia
e no fim desse labor
surge outro compositor
com o mesmo sangue na veia

sonhava desde menino
tinha o desejo felino
de contar toda a tua história
este sonho realizei
um dia a lira empunhei
e cantei todas tuas glórias
perdoa-me a comparação
mas fiz uma transfusão
eis que jesus me premeia
surge outro compositor
jovem de grande valor
com o mesmo sangue na veia".


Powered by Castpost