a million parachutes

for us

29 abril 2004

:: aqui

esperei, mas você não apareceu.

inventei milhares de motivos que a impediram de chegar.
inventei milhares de motivos para que você não viesse.

mas não inventei sua ausência.
:: unzinho

ando em um estado onírico vindo do cansaço da realidade: caminho entre as alegrias supremas e as tristezas avassaladoras.

minha mão voltou a tremer e o meu joelho dói. do mais, sinto saudades.

25 abril 2004

:: boa noite

seja o que você está fadada a ser: estrelinhas.
:: little ana blues

baby, vista seu melhor vestido e amarre o cabelo.
a vida espera lá fora. balão de ar quente.
sorvete de flocos, naves espaciais, guitarra falante.
licores! seus olhos grandes são feitos de quê?
ah, baby, não temos um puto,
mas e o coração?

e se de noite é mais feliz,
use óculos escuros, faça-se de difícil.
vamos pegar o ônibus para um destino qualquer,
afinal, acreditamos que fazemos nosso próprio.
baby, baby, corte o cabelo e manche o batom.
sou um merda de pessoinha fraca
para felicidades hollywoodianas.

sonhei com você, mas não era sobre você,
bom, não era sobre você até que você aparecesse.
você fazia as sobrancelhas, querida,
as sobrancelhas! e quanto humor eu via em tudo isso...
era porque já estava cheio de ir atrás do que não quero.
queria sonhar mais com você.

baby, cante um blues. evoque quem quiser.
esse seu coração denso precisa de sopros
para virar balão de ar quente. flutue!
depois a gente arranja empregos,
vai perdendo o blues,
e desencana de nós mesmos.

baby, lá no alto, se pedir, eu solto.
:: lost in translation



e a gente acha que é fácil encontrar amigos quando nos perdemos...na linguagem das amizades estar perdido não é estar só.

24 abril 2004

:: o que minha amiga virginia me disse quando atravessei a rua para lhe dizer oi

-- oi, gary cooper.

23 abril 2004

:: rocket

um foguete caiu no jardim.
havia planos e computadores para paisagens extraordinárias.
variações de espécimes de flores e frutas.
mas desmontei-me.
fiz vasos e sombras das ferragens,
encanamento e calhas para que as chuvas fossem mais justas.
e continuei com as mesmas rosas que você plantou.

quando elas derem novos brotos,
refaço o foguete e os mando para casa.
:: the very thought of you


bruna, sai do away que eu quero lhe falar. a gente conversava sobre jazz, na verdade, você conversava sobre jazz porque eu não entendo abacate sobre jazz. para mim, só existem dois trompetes no jazz: chet baker e louis armstrong. mas você pode citar um cem números vários, alguns seus contemporâneos como você mesmo diz. mas bruna, quero lhe falar sobre chet baker.

como você sempre me mostrou discos antigos, eu pensava que ele tinha sido apenas menino. essa voz tão serena e pequena nunca me deu a impressão de que ele pudesse ter envelhecido, acabado com o pulmão com cigarros e ter inclinado o trompete tão para o chão. esse vídeo "live at ronnie scott?s" me arrebatou... bruna, sai do away, sua vadia! preciso lhe falar.

e cada sopro na palhete me lembrou o quanto você omitiu sobre chet baker e talvez sobre muitas outras coisas. talvez você tivesse os discos mais atuais, mas não queria mostra. queria conservá-lo menino. entendo vindo de você. mas bruna você sabia que eu descobriria. não me recomendaria esse video assim despropositadamente... e o elvis costello canta "the very thought of you" que só havia ouvido na voz da billie holiday. covardia, vai. sai do away, bruna! que vou lhe falar bulhufas sobre o jazz!!!

o meu jazz.
:: pedestal

quem morreu para te fazer rainha?

21 abril 2004

:: 12 memories

1. o rosto dela na rodoviária;
2. são paulo pela janela do avião;
3. o rio tsurumi se afunilando a caminho do mar;
4. one i love no show do coldplay;
5. no portão do colégio ouvindo pela primeira vez "o teatro dos vampiros" da legião urbana;
6. os olhos dela que não me reconheceu;
7. inspirar profundo para comprar uma guitarra;
8. risadas, muitas;
9. um céu rosa e o engano de que caíam paráquedas;
10. palavras apaixonantes de alguém apaixonado;
11. as putas velhas nas ruas de madrid;
12. o sorriso de uma professora -- amiga -- ante a minha estúpida revolta.
:: pressa

se você puder esperar, me apronto bem bonito, unha cortadas e cabelos lavados. barba bem feita e perfume que cheira caro. terei lido as notícias do dia e os livros do momento. principais filmes e mostras e as mais tocadas na rádio. aprendo outra língua e melhoro essa. encontro beleza em amores infindáveis e razão nos psicotrópicos. a gripa passa, se você me esperar.

sei que não pode perder tempo, eu também tenho essa sensação de estar perdendo tempo. quando dói o osso parece uma chuva de anos que cae sobre os ombros. nunca senti que me esperavam por bem. quem afinal espera por bem? a gente não espera por ninguém. são sempre os outros que estão atrasados. há muita pressa porque as chuvas são sempre.

pego um táxi depois.

19 abril 2004

:: deus

no domingo, cyro sentou-se em sua escrivaninha e releu todas as mensagens do icq que fernanda deixou durante a semana. percebeu aos poucos que nas linhas tão sintéticas e cheias de carinhas ponto e vírgula fernanda tentava lhe dizer o quanto amava e que estava sendo difícil. na hora pareceu muito infantil e talvez fosse mesmo. até que no domingo não recebeu mais nenhuma.

cyro pensou na possibilidade de que deus também não tivesse consciência do que estava fazendo até que tudo cessasse no domingo.
:: painkillers - vídeo



precisa ter o divx instalado.

créditos: fotos da fe pumpkinha. música do belleatec. realização márcio yonamine.
:: tarzan (o filho do alfaiate) _ noel rosa

quem foi que disse que eu era forte?
nunca pratiquei esporte, nem conheço futebol...
o meu parceiro sempre foi o travesseiro
e eu passo o ano inteiro sem ver um raio de sol
a minha força bruta reside
em um clássico cabide, já cansado de sofrer
minha armadura é de casimira dura
que me dá musculatura, mas que pesa e faz doer

eu poso pros fotógrafos, e destribuo autógrafos
a todas as pequenas lá da praia de manhã
um argentino disse, me vendo em Copacabana:
'no hay fuerza sobre-humana que detenga este tarzan'

de lutas não entendo abacate
pois o meu grande alfaiate não faz roupa pra brigar
sou incapaz de machucar uma formiga
não há homem que consiga nos meus músculos pegar
cheguei até a ser contratado
pra subir em um tablado, pra vencer um campeão
nas a empresa, pra evitar assassinato
rasgou logo o meu contrato quando me viu sem roupão.


p.s. genial !
:: terceira pessoa do singular

nas dramaturgias da vida sempre penso no papel que tem a terceira pessoa. normalmente é sempre um vilão e se não for é apenas um coadjuvante. quando ouço as lamentações sobre amores perdidos, penso por que essa terceira pessoa não pode ser encontrada. temos o mito do insubistituível em nossas veias. na certa, nada substituí um grande amor. mas talvez seja o caso de repensar no conceito de grande amor.

conheci três ou quatro pessoas em toda minha vida que estavam realmente abertas a terceiras pessoas. digo isso porque não há passado amoroso que seja esquecido fácil, mas elas estavam atentadas a si e ao mundo. não estavam ansiosas, suas esperanças vinham da idéia de que a vida era muito mais que amar descabidamente: era a possibilidade de ser terceira pessoa também.

lembro-me de antônia que amava tanto josué que desistiu dele e foi para o mundo. conheceu alguém por lá e nunca mais voltou. nunca traiu o amor. e de terceira passou a primeira pessoa.

18 abril 2004

:: o orvalho vem caindo _ noel rosa e kidi pepe

noel rosa é o cara.

o orvalho vem caindo
vai molhar o meu chapéu
e também vão sumindo
as estrelas lá no céu
tenho passado tão mal
a minha cama é uma folha de jornal

meu cortinado é o vasto céu de anil
e o meu despertador
é o guarda-civil
que o salário ainda não viu

a minha terra dá banana e aipim
meu trabalho é achar
quem descasque por mim
vivo triste mesmo assim

a minha sopa não tem osso nem tem sal
se um dia passo bem,
dois e três passo mal
isto é muito natural

o meu chapéu vai de mal para pior
e o meu terno pertenceu
a um defunto maior
dez tostões no belchior.


vou confessar que não sei sambar as coisas de hoje. mas as coisas do noel sambo todo dia sem saber...
:: lanternas japonesas

minha querida, assim que a noite chega também se aproximam outros medos. os ventos se tornam mais presentes por causa do frio e nossas pupilas dilatadas refratam outros olhos. não sou de ligar luzes poderosas que imitam o dia. prefiro a adaptação, nada que esconda demais a escuridão. luzes indiretas de lanternas japonesas não são deliniadoras, mas são luzes também.

minha querida, sei que as sombras não são tão definidas, mas não tenha medo por agora, segure minha mão. podemos parar de nos definirmos por hoje e acender as luzes elétricas amanhã.

:: o pianista

só agora aos 65 anos, o pianista pode tocar o cancioneiro que lhe provocou a vontade de aprender a tocar. nem a dor nas juntas da mão lhe tira a alegria de tocar numa festa em que as pessoas dançam em volta do piano e ele é só mais um. e não lhe queixam quando erra a nota. o erro é um outro acerto. lá do outro lado do salão há uma menina que ouve pela primeira vez o timbre e a canção. olha para os dedos curtos e imagina até onde eles podem chegar.

16 abril 2004

:: um frevo que ouvi entre as avenidas e prédios de são paulo

"às cinco horas da manhã
quando vem rompendo a aurora
os anjos cantam lá no céu
e as pastorinhas vão embora.

com saudades eu me retiro
eu não vim para ficar
as moças são deliciosas
belas e formosas, lindas como as rosas".


o brincante antonio nóbrega


:: valentina

valentina tinha uma incrível maneira de nos assustar: tocávamos o seu peito e sentíamos o coração desacelerar como se fôssemos responsáveis por tal despropósito. brigavamos muito com ela para que não fizesse mais isso. mas era uma de suas simpatias. não havia quem fosse amigo e não tivesse sentido a vida de valentina fugir das mãos. ela dizia que era uma lição.

15 abril 2004



ana,

nem faz tanto tempo que não nos falamos, mas já sinto saudades. acho que já sentia saudades de ti antes mesmo de te conhecer. lembro-me do primeiro contato com suas letras e me confundia com tanta gente que há por aí. e de repente não era uma na multidão, mas uma multidão em uma. quem era aquela e suas ousadias? pensava entre preocupações e suspiros tenros. a minha cabeça estava cheia e seus versos criavam espaços. por um momento fiquei feliz pela contemporaniedade.

hoje percebo que o tempo nos favorece apesar das armadilhas e desencontros. falava do sumo de estar presente, da casa invisível e jardim de metáforas. o coração era aberto para os neologismos amorosos. na noite fria, não era o conforto cinico do cobertor, mas a brisa doentia quem revelava a pulsação. as crises de asma. o risco de ser muito triste era o reverso da surpresa da alegria. o tempo nos favorece porque já não há mais tanto tempo.

vou sentindo saudades, evitando ao máximo sentir falta. mas é possível? alikan late baixinho.

marcio
:: time machine

a máquina dos nossos tempos não virá senão como lembrança fugidia.

14 abril 2004

:: semeaduras, o vento te trouxe e te levou...

convidei a primavera. ela chegou segunda e perguntou por você. trouxe boas novas sobre os povos do norte e suas melancolias. acomodou-se no sofá, não é espaçosa e fez questão de jantarmos todos juntos uma noite durante sua estada. reservei uma gaveta para as meias, camisetas e bijuterias. na quarta-feira, sugeriu que fôssemos ao cinema e quinta reservou a manhã para mandar postais.

deixei com ela seu telefone, não se surpreenda se ligar. as chaves. os aromas. as moedas para o ônibus. agradeceu um monte. eu disse que nós quem.
:: who do you think you are?

temos mais de dezoito e inventamos cidades e amigos imaginários.

13 abril 2004

:: somos como gotas de orvalho
( para a izis )

somos como gotas de orvalho
desgostosos por termos vindo da condensação
e não da dramática chuva.
molhamos sem a violência incisiva
e nos confundem com chuva.

somos tortos e secamos
com pressa de acontecer de novo.

nascemos do sereno e das coisas vivas.

12 abril 2004

:: sinal fechado

olá, como vai ?
eu vou indo e você, tudo bem ?
tudo bem eu vou indo correndo
pegar meu lugar no futuro, e você ?
tudo bem, eu vou indo em busca
de um sono tranquilo, quem sabe ...
quanto tempo... pois é...
quanto tempo...

me perdoe a pressa
é a alma dos nossos negócios
oh! não tem de quê
eu também só ando a cem
quando é que você telefona ?
precisamos nos ver por aí
pra semana, prometo talvez nos vejamos
quem sabe ?
quanto tempo... pois é... (pois é... quanto tempo...)

tanta coisa que eu tinha a dizer
mas eu sumi na poeira das ruas
eu também tenho algo a dizer
mas me foge a lembrança
por favor, telefone, eu preciso
beber alguma coisa, rapidamente
pra semana

o sinal ...
eu espero você
vai abrir...
por favor, não esqueça,
adeus...

paulinho da viola

p.s. ca.ra.lho!!!
:: vitor e ivone

a primeira vez que ivone e vitor acabaram o namoro foi com um aperto amigável de mão. viraram-se e tomaram confiantes seus próprios caminhos.

da segunda vez, ficaram abraçados por uns bons 20 minutos -- o horário de verão os confundia. vítor chorou um pouco.

na terceira vez, reuniram os amigos para uma festa. dessa vez foi ivone quem tentou esconder as lágrimas.

na quarta, ivone não apareceu num jantar antes que vitor fosse para o estrangeiro. ele comeu macarrão e bebeu vodka que ivone também gostava.

a última vez que acabaram o namoro, ivone pediu vitor em casamento. ele fez caso, mas aceitou.


ana,

hoje não quero lhe falar sobre idas ou sobre como isso pode ser dolorido ou libertador. na falta de qualquer verdade parcial, também adbico em lhe falar de saudades anunciadas ou de como a tenho em coração e pensamento.

não vou falar sobre o cuidado que tenho em lhe falar, de dizer coisas apropriadas mas que ao mesmo tempo sejam as mais sinceras. não falo o que penso porque não sei dizer o que penso. também não vou insistir no assundo de que a busca da minha própria verdade tem muito a ver com coisas que você pensa e diz.

não vou dizer que perfiro que quebre a janela da nossa casa ao invés de apenas entregá-la ao abandono. vou admitir minha pequena negligência também, mas não vou comentar porque quero crer que no futuro será um comentário esquecível.

ah, ana, quero lhe dar notícias boas, novas que lhe serenem a cabeça. digo que irei visitá-la sim e que vou causar o menor aborrecimento possível. reserve-me uma ou duas horas. disseram-me que é possível encontrar infinitudes em tempos fechados.

por hora, digo apenas um olá e desejo melhoras.

marcio

p.s. alikan escolhe seus próprios cheiros...

10 abril 2004

:: alento

desculpe-me falar assim de fé, principalmente nesta época de páscoa. mas falo de fé como se fosse algo que foge do acreditável. não penso em milagres, embora possa dizer que são pequenos milagres esses pequenos arrepinos no coração. não sei se pego o violão e arrisco esses acordes cheio de quintas e sétimas maiores ou vou no simples bater da caixinha de fósforo -- a maioria conhece minha paixão por caixas.

e eu que nem sempre tenho tido sorte como queria ou mesmo planejamento e competência para ter alguém, amor bonito de cinema, fico riscando paixões, fazendo promessas e acreditando em sonhos e histórias surreais. talvez seja apenas fé de que as coisas acabem bem no final das contas. não sei se sou a mão, as cordas ou próprio violão. não sei se sou os fósforos ou a caixinha. ou apenas impressão de som ritmado como o coração que bate leve aos ouvidos desatentos, mas que se tocar o peito sentirá que não é só de notas é feito um samba.

mas eu falava de fé por causa do samba. só pode ser um pequeno milagre ouvir coisas como essa canção. simples e cheia de segredos. é o tipo de momento em que você pode chorar a tristeza e a desilusão como parte da vida. momento de pausa em se ganhar dinheiro, amigos e vantagens no cartão de crédito. desses momentos em que totalmente sozinho frente ao universo, você acredita que aquela pessoa que toca seu coração teve também tantas desilusões quanto você.

senhoras e senhores, paulinho da viola:

violão esquecido em um canto é silêncio.
coração encolhido no peito é desprezo.
solidão hospedada no leito é ausência.
a paixão refletida num pranto é tristeza.

um olhar espiando o vazio é lembrança.
um desejo trazido no vento é saudade.
um desvio na curva do tempo é distância.
e um poeta que acaba vadio é destino.

a vida da gente é misterio.
a estrada do tempo é segredo.
o sonho perdido é espelho.
o alento de tudo é canção.

o fio do enredo é mentira.
a história do mundo é brinquedo.
o verso do samba é conselho.
e tudo o que eu disse é ilusão.


poisé. bom feriado a todos.

09 abril 2004

:: thom, o elefante

quando thom chegou a são paulo, os circos já não eram tão populares. enquanto pôde, thom foi mto bom no que sabia fazer: entreter as crianças.

os tempos se tornaram dificeis e o circo perdiu concordata. thom não quis ver o fim e se demitiu para seguir sua vida.

não havia muitos empregos para elefantes. trabalhou na construção civil, segurança e até foi office-boy. tornou-se mais um na multidão. tinha r.g., c.p.f. e cartão do barateiro. como qualquer um nessa cidade, thom tinha sonhos nas gavetas.

foram meses dificeis quando não encontrou mais trabalho. ouvia das bocas alheias histórias sobre o circo. as crianças não acreditavam que fosse real. ninguém sabia mais o que era um elefante além do que viam no cartoon network. não queriam saber de como ele se atrapalhava por causa de sua tromba. era só mais uma coisa para se esconder nos curriculum vitaes. de noite, muito só, arriscava um choro contido para que não incomodasse os vizinhos.

um certo dia, andando pela rua, reconheceu algumas músicas do antigo trabalho. na surpresa, desajeitou-se com a tromba, tropeçou e ficou estirado no meio do asfalto. as buzinas começaram, thom desesperou-se.

foi quando viu um menina de grandes olhos fitando-o. estava num ônibus que aguardava o semáforo. ela sabia quem era ele. nos olhos dela, thom viu e se reconheceu. quando o ônibus retomou seu caminho e ele pôde ver que ela voltava para sua própria tristeza, pensou, apesar das buzinas lhe atrapalharem o raciocinio, que a solidão podia ser corrompida com pequenas ousadias como olhares de conforto e que se o mundo fosse mais inventando não duvidaria que fosse ela quem lhe tivesse dado o nome de thom.
:: foto_d


> vanilla sky :: andava pela casa quando vi a janela. acho que nunca pensei em tanta gente em intervalo infimo de tempo...


> no contrabaixo elétrico :: poisé. comprei um baixo. estou me divertindo deveras com ele. o bacana é gravar uns riffs sobre base eletrônica. como ando ouvindo muito samba, estou pensando em comprar um cavaquinho... ah, preciso controlar meus sonhos de consumo.


> ampliador :: amplia também fotos coloridas além de pb. uma foto digital com nightshot. metalinguagem?


> fotos :: faz um mês que ampliei estas. estão secando até hoje. vou deixando, até que se tornem presentes e marca páginas... ocorreu-me em desenhar atrás...


> sky :: essa é para ana. céus azuis para ti.


:: painkillers for heartdrops #05

e se eu inventei essas alegrias,
você pode ter inventado sua tristeza.
é por essa e por outras que existem as canções.

:: painkillers for heartdrops #04

está um azul lindo no céu,
mas dizem que vai chover.
eu prefiro acreditar em você.

08 abril 2004

:: bequadros

talvez não sejam apenas sonhos...
não ouço vozes, ouço músicas.
não vejo fantasmas, assisto cenas.
não me escondo, me disfarço.
não me calo, deixo de falar.
talvez não seja apenas a realidade.
:: painkillers for heartdrops #03

você não sabe morrer
e não saberá.
suas poses e bocas versam.
você sabe coisas de sorrir
que a tristeza desconfia.

:: painkillers for heartdrops #02

e se coração lhe apertar,
aperte alguém.

07 abril 2004

:: painkillers for heartdrops #01

acorde cedo.

lave o rosto e os braços, um cuidado especial com os pés. separe queijos, chás e algumas frutas. ligue o rádio e ouça as novas do mundo com a ilusão de músicas e trilhas sonoras. ria por um momento dos que já estão no trânsito. você também terá essa paisagem estática, mas se lembrará de levar um livro bom e pilhas novas para o walkman.

ainda resiste um pouco ao samba, mas terá o coração aberto.

anote algumas frases que lhe ocorram. talvez não façam sentido agora, mas soam bem. e você sabe que é você quem lhes dá sentido. hoje, está indisposta para isso... mas quem sabe?
pense, enquanto esfria o chá com soprinhos, na possibilidade de amanhã assistir ao nascer do sol.

antes de sair, despeça-se da casa arrumando e dando-lhe frescor -- janelas entreabertas. a casa sentirá saudades e receberá bem seus cansaços.

não diga adeus, recite um verso, dizem que vale tanto quanto uma prece.

05 abril 2004

:: astrolabio

quando alguém chora por outrem que parte é como se tivesse aceso uma estrela no céu. dessas estrelas que com um astrolabio indicam o norte e o caminho de volta. e se abraçar bem forte quase pedindo para que não vá, são acesas duas estrelas: uma para cada hemisfério do planeta.

04 abril 2004

:: life is for living

e te digo: não há coisa mais bela e assustadora do que um sorriso de esperança de alguém que lhe ama.

:: ao som de cartola

gostava quando gostavas de mim. e falávamos de compromissos de liberdade. confudiamos nossas dores porque acreditávamos que era uma forma de alivio. é a água do feijão. é mais bolo para uma massa muito doce. gastávamos um tempo que não tínhamos e por isso não nos aborrecíamos, ao contrário, orgulhavamo-nos por pequenas ousadias. você inventava os nomes; eu, os gestos. e encenávamos o que a vida podia ser. e ela podia tanta coisa, quando gostavas de mim.

agora nos importuna essa ligação de além gostar. passamos dias preocupados, fazendo preces em forma de pensamento ou música. ouvimos música porque sentimos falta. ouvimos música tentando concretizar e quantificar o que nos exaspera por dentro. a cada página de livro lido, a cada caminhada pela cidade, fotos digitais, línguas engraçadas, disco novo, a cada momento que corre vida nesta vida pétrea nos importuna essa ligação de além gostar.

gostava quando gostavas de mim. coisa dificil essa do amor. silenciamos pela sinfônia do sublime que não vem ou que não reconhecemos caso já tenha vindo. agora que nos amamos não sei o que gosto ou não.

não sei se gosto de amar, mas amo.

02 abril 2004

:: timoneiro _ paulinho da viola

não sou eu quem me navega
quem me navega é o mar
é ele quem me carrega
como se fosse levar

e quanto mais remo mais rezo
pra nunca mais se acabar
essa viagem que faz o mar em torno mar
meu velho um dia falou
com seu jeito de avisar
olha, o mar não tem cabelos
que a gente possa agarrar

timoneiro nunca fui que eu não sou de velejar
o leme da minha vida deus e quem faz governar
e quando alguém me pergunta como se faz pra nadar
explico que eu não navego quem me navega e o mar

a rede do meu destino parece a de um pescador
quando retorna vazia vem carregada de dor
vivo num redemoinho Deus bem sabe o que faz
a onda que me carrega ela mesma
e quem me traz

não sou eu quem me navega
quem me navega é o mar
é ele quem me carrega
como se fosse levar.

01 abril 2004

:: duca

eu tenho essa facilidade de dar motivos para as pessoas se afastarem de mim.

e normalmente as pessoas aceitam sem reclamar muito. é muito prático e fácil. as mais ousadas sofrem, ficam esperando que eu diga algo que eu não tenho talento, capacidade e habilidade para dizer. frustro as pessoas quase sempre. talvez porque eu viva nesse mundo de sonhos descontruídos e elas queiram também ter um pouco desse paraíso -- particularmente, chamo de inferno. aí quando elas percebem que as invenções são estruturas frágeis e que necessitam de manutenção, concluem o grande ridículo que é tudo isso. afastam-se para não ter o legado do ridículo. já fiz isso com muita gente e percebo bem quando as pessoas fazem isso comigo. bom, deve ser a ordem natural das coisas.

eu acho bonito quando as canções desafinam por causa de abalos sísmicos e a gente finge que só foi uma pulsação diferente.

psicogeografias a parte, há momentos em que me assusto quando percebo que estava tão próximo, mas tão próximo de sentir o calor e reconhecer o calor, mas pensar que era só calor fugaz.
:: lana

hoje tenho certeza que não morrerei.
e se morrer, não sentirei dor.
talvez só uma dor instantanea, como pontada de agulha.
e eu saberei que os sonhos são a realidade
e a realidade só um mal estar de estômago.
no final da estrada terá um prêmio para os bons e justos
e vou aplaudí-los sem a mesquinharia
que se tem quando se é o segundo lugar.
vou reservar algumas estrelas do céu,
só para ter a impressão de que poderia tê-las.
vou dormir bem a noite
e aproveitar bem o dia.
vou tentar aprender a arte do versos
como arte suprema da palavra
e não esta historiografia
cheia de hiatos e pecados dadaístas.
terei sinteses, sim.
na minha certeza de que não morrerei
serei o mais sintético.
e se me der licença,
vou abrir um fio de alas
e desfilar minha imortalidade
da qual o orgulho é suspeito.