a million parachutes

for us

28 fevereiro 2003

:: quando crescer quero ser _ George Gershwin

Let's Call The Whole Thing Off

Things have come to a pretty pass
Our romance is growing flat,
For you like this and the other
While I go for this and that,

Goodness knows what the end will be
Oh I don't know where I'm at
It looks as if we two will never be one
Something must be done:

You say either and I say either,
You say neither and I say neither
Either, either Neither, neither
Let's call the whole thing off.

You like potato and I like potahto
You like tomato and I like tomahto
Potato, potahto, Tomato, tomahto.
Let's call the whole thing off

But oh, if we call the whole thing off
Then we must part
And oh, if we ever part, then that might break my heart

So if you like pyjamas and I like pyjahmas,
I'll wear pyjamas and give up pyajahmas
For we know we need each other so we
Better call the whole thing off
Let's call the whole thing off.

You say laughter and I say larfter
You say after and I say arfter
Laughter, larfter after arfter
Let's call the whole thing off,

You like vanilla and I like vanella
You saspiralla, and I saspirella
Vanilla vanella chocolate strawberry
Let's call the whole thing off

But oh if we call the whole thing of then we must part
And oh, if we ever part, then that might break my heart

So if you go for oysters and I go for ersters
I'll order oysters and cancel the ersters
For we know we need each other so we
Better call the calling off off,
Let's call the whole thing off.

I say father, and you say pater,
I saw mother and you say mater
Pater, mater Uncle, auntie let's call the whole thing off.

I like bananas and you like banahnahs
I say Havana and I get Havahnah
Bananas, banahnahs Havana, Havahnah
Go your way, I'll go mine

So if I go for scallops and you go for lobsters,
So all right no contest we'll order lobseter
For we know we need each other so we
Better call the calling off off,
Let's call the whole thing off.

27 fevereiro 2003

:: as horas

novo projeto ("lá vem o márcio com suas praticidades") bloguistico baseado no livro "sra. dalloway" da virginia woolf. é uma leitura a dois, a tereza entrou nessa, desse maravilhoso texto.

http://www.ashoras.tk

26 fevereiro 2003

:: playlist para luiza fecarotta

_ ella fitzgerald e louis armstrong (a maioria)

1. night and day | o nome é de uns livros que mais amo da virginia woolf. nada a ver.
2. blue moon | música para ouvir olhando para um céu estrelado.
3. ?
4. slap the bass | zoom... zoom... there's no hapiness... preciso dizer mais alguma coisa?
5. i won't dance | música para dançar
6. a fine romance | cara, pára de complicar!
7. cheek to cheek | não curto muito dançar, mas tiraria alguém só por causa dessa música.
8. a little day | singela. para ouvir quando comprar pão.
9. ?
10. summertime | não sei porque inventam músicas como essa de destruir corações. para ouvir bebendo muita vodka!
11. tenderly | o trompete inicial é arrebatador. depois fica alegre. ainda bem.
12. they all laughed | elegia de uma boa e satisfatória gargalhada
13. ?
14. let's do it | let's fall in love!!!
15. love makes me treat you
16. alabama song | a bela e triste música sulina americana.
17. lovely day | para sentar na frente da casa, no fim da tarde.
18. dreaming a little dream of me | para se despedir das pessoas com afeto e elegância. dá para ficar um tempo abraçados.

obs: acho que a 3 é uma música do george michael, mas foi acidente.


_ no tag do antigo time.machine blog

"gabriella: sempre gostei do nome TEREZA e principalmente da poesia de Manuel Bandeira.. depois do blog, minha filha se chamará TEREZA!"
:: a cidade vive

saio para comprar macarrão. 7 da noite. as pessoas fazem cooper, ofegantes. as mães esperam seus filhos no portão da pré-escola e conversam sobre as dificuldades das reformas. os jovens voltam para casa depois de aulas de matemática e física. carregam refrigerantes em sacos plásticos e conversam de beijos e amassos. outros, ainda combinam o futebol de sábado. professores apaixonadas vão até o ponto de ônibus. outras pessoas, caminham rápido para manter a saúde. os pães estão quentes, sinto o cheiro. os cães brincam de longe com as crianças, as mães suspeitam mas estão ocupadas conversando. alguns pais por um momento se sentem as pessoas mais felizes do mundo por ver os filhos depois de um dia de trabalho. muitas pessoas voltam do trabalho. o comércio começa a fechar as portas, mas não quer. os pedreiros diurnos se transformam na comunidade hiphop, bandanas, camisas largas, tomam refrigerante barato, quase puxando uma rima. o zelador despede-se dos mais lentos. todos se preparam para a noite. os ônibus querem chegar. os ônibus querendo partir.

:: time.machine.chronicles _ improvabilidades

-- oh, querido, como está? adorei seu último poema. pensei em te ligar...

vandreza é uma dessas amigas que você não sabe direito como ficou sua amiga mas compreende muito bem porque continua.
:: considerações finais

disse para mariana:
-- o que eu gostaria de fazer nesta vida é escrever um livro. só.

foi a primeira certeza que tive há muito tempo. talvez a única que tive. tenho impressão de que feito, a minha sensação de falta de sentido na vida se concretizará completamente. e não terei mais porquê.
:: pelo telefone

m : tenho muitas amigas sim. é meio esquisito.
r : é nada. eu também tenho várias.
m: que bom que seria se todas se apaixonassem por mim, hein? hahahah (meio comedido)
r : mas todas são apaixonadas por você!

o detalhe aterrorizante dessa conversa é que ela segurou o riso por uns dois minutos.

25 fevereiro 2003

:: time.machine.chronicles _ espaço

num ensaio sobre espaço urbano, li a seguinte epígrafe:

"reconhece-se a deusa pelos seus passos" (virgilio)

os novos estudos sobre o espaço geográfico privilegiam o movimento. não se pensa a arquitetura só como formas geométricas conceituais, mas as possibilidades de movimentos e expressão que as pessoas possam exercer naquele lugar. os movimentos criam novas idéias e espaços.

karina sempre possuiu um andar elegante. quando se aproximava, eu sempre pedia silêncio e atenção para que abrissem o espaço exato para sua representação. ela passava criando essa geografia temporária.
:: time.machine.chronicles _ vida real

o quão a vida real nos é dura a ponto de fazer nos esticar um pouco mais os nossos sonhos? para quais os sonhos queremos entregar?

leilla yamazaki entrou no curso de rádio e tv porque sonhava escrever histórias que se tornariam imagens. talvez tivesse muitas histórias em sua cabeça, talvez só uma.

abandonou o curso no primeiro ano para fazer informática e agora faz contabilidade. está feliz.

quantos sonhos possiveis a dureza da vida real revelou a ela?

24 fevereiro 2003

:: sobre o tempo

é preciso ter a consciência do velho
e o inconformismo do novo.
:: liturgia

eu me darei a você
a minha força, os meus olhos
farão a vigilia de seu sono
minha pele, minhas pálpebras
abrirão um céu de brigadeiro.
o meu coração é seu.
possua.
sou fé; me dou a você
como quiser. sou terra
receberei suas tristezas
chorando em alegrias
sou torto; destorto para você.
meu amor, vou te dar
as promessas, os arrombos,
as drogas e as faltas.
me dou e permaneço.
:: time.machine.chronicles _ birra

por uma desavença qualquer, deixei de falar com a faride. perdoamos-nos na semana seguinte, mas continuei a ficar calado. ela desacreditava. eu escrevia no papel o que queria dizer ou fazia mimica ou pedia para que alguém falasse por mim.

isso durou 3 meses.

hoje há quase 3 anos, recordo-me com certa melancolia o tempo em que brincadeiras e birras eram coisas sérias.
:: time.machine.chronicles _ tornozelos

eram aquelas carteiras cuja mesa era um dos braços. espreguicei-me esticando as mãos para baixo e encontrei o tornozelo de monize. desde então era uma satisfação espreguiçar-me.

-- oi má.
-- oi mô.

e começavámos alguma conversa futil. ela: vou fazer uma plástica no nariz; eu: lamber joelho é bom?; ela: acho que minha barriga vai ficar linda grávida; eu: já fez bomba de bicarbonato de sódio?; ela: ai, má, quando a gente vai casar?; eu: vai ser que nem hiroshima mon amour.

não sei por onde anda monize hoje em dia; provavelmente com os mesmo tornozelos.
:: time.machine.chronicles _ daniela

muitas danielas fizeram parte da minha vida em diferentes épocas. quando concomitantes, diferenciava o vocativo muitas vezes encurtando para dan ou dani. era uma espécie de apropriação sonora que personalizou o apelido.

com daniela campanhã optou-se por manter inteiro. pensou-se que por sua suspeita simpatia e um sorriso fácil seria a mais afastada da turma. realmente, sua familia não permitia muitos contatos; era do tipo conservadora. mas a daniela, considerávamos da turma.

um dia, chegou chorando, soluçante:
--não... é na...da... má...

e desde então chamou-me de má.

os anos passaram, encontrei outros amigos e não preciso criar lhe apelidos. a seriedade dos anos não permitiram também que eu tivesse. reencontrei-me com daniela através de um telefonema:

-- oi daniela.
-- oi má.

fiquei em silência. pensei mas não exatamente com estas palavras: a seriedade dos anos é uma bosta.



:: time.machine.chronicles _ casa

lacan dizia que quando esquecemos algo em algum lugar é porque não queriamos mesmo ir embora.

estava na cozinha da casa de renata menezes e tereza ruiz, depois de passar a noite assistindo a filmes das muitas fitas que havia levado e papeando um pouco.

sentado e fazendo o desjejum conversava com tereza sobre as condições que faziam um lugar ser chamado de lar. talvez conforto, talvez algo mais. disse-me que muitas vezes não considerava aquela república como lar pela fragilidade de desfazê-la, mas havia momentos em que não via a hora de voltar a ela.

esqueci de esquecer algo. mas considerarei minhas fitas.

23 fevereiro 2003

:: time.machine.chronicles _ o baixo astral

aconteceu que peguei o mesmo ônibus que heloísa ururahy para voltar para casa.

é uma pessoa extramente difícil apesar de muito amável. naquela semana havia perdido uma pasta que estimava muito. desencontrou-a. estava cabisbaixa, talvez pensando em artíficios para reavê-la, talvez imaginando como havia acontecido.

eu carregava um livro emprestado pela mari zanotto, o livro dos abraços de eduardo galeano. resolvi mostrar a heloisa as figuras já que não tenho capacidade de entretê-la. não tendo muito efeito, resolvi ler a esmo uma das crônicas do livro:

"o baixo astral"

"enquanto dura o baixo astral, perco tudo. as coisas caem dos meus bolsos e da minha memória: perco chaves, canetas, dinheiro, documentos, nomes, caras, palavras. eu não sei se será mal olhado. pura casualidade, mas às vezes a depressão demora em ir embora e eu ando de perda e perda, perco o que encontro, não encontro o que busco, e sinto medo de que numa dessas distrações acabe deixando a vida cair".

eu fiquei pasmo com a coincidência, ela riu com substância como se fosse uma peça.

silenciei-me. como explicar a ela que a vida são esses encontros e desencontros com as coisas se até as coisas tem seu próprio modo de silenciar?
:: time.machine.chronicles _ mariana bz

quando conheci mariana zanotto achei metida. depois não sei dizer como ficamos amigos. agora é como uma irmã. ama hiphop e chico buarque. talvez sonhe jogos de palavras e mundo maravilhosos.

sempre a considerei diferente de outras meninas ou pelos menos foge muito do comum. dizíamos que havia morado numa bolha muito pelo fato de nunca ter tido uma barbie. entrou para o curso de rádio e tv acidentalmente, prefere a gastronomia. sabe fazer mousse de limão e caldas para sorvete. sempre desconfiei de sua alegria. ensinou-me que outras alegrias existem.

mandou-me o seguinte texto:

"Ariela descobriu que todo homem indo embora dá pena de se ver, assim como é triste qualquer bicho visto por trás, com exceção do cavalo, que sempre sai vitorioso, mas só quem sabe ir embora igual cavalo é mulher." (chico buarque)

verifiquei que a alegria vem de suas pequenas vitórias, como a de enganar a todos que havia morado numa bolha.
:: time.machine.chronicles_ tcc''s

os trabalhos de conclusão de cursos, os famigerados tcc's, são o ponto final dos cursos de graduação. normalmente, aglutinam e representam grande parte dos anseios e conhecimentos adquiridos durante todo o curso. há uma expectativa de se concretizar algo pessoal no terreno profissional, o que marcaria uma certa noção ou possibilidade de liberdade frente ao mercado. quem consegue se impor em um tcc poderia se impor ao mundo também. desta forma, os tcc's são para alguns não só o ponto final mas um novo parágrafo e travessão.

a priscila em sua defesa, pois é necessário defender e autenticar os trabalhos, mostrou que possuía mais dúvidas que certezas embora sejam muito diferentes das iniciais. abriu caminhos interessantes na pesquisa dos espaços urbanos simplesmente por não subestimar seus habitantes. joana viu nos auditórios um público diferenciado de jovens em seus anseios e perspectivas. rossana, um ano atrás, fez um vídeo no qual mergulhava na história das antigas ferrovias e na sua própria.

nívea fez um estudo sobre seriados japoneses, em especial os chamados live actions. estudou a cultura japonesa e com muitas dificuldades traçou um panorama desses produtos no brasil. na sua defesa, nas considerações finais, dedicou o trabalho a um homem que havia morrido numa enchente há pouco tempo. um sentimento singular tomou meus pensamentos.

-- ele nadou para salvar umas crianças. foi encontrado numa posição em que tentava salvá-las. não havia desistido.

e dentro de todas as dificuldades que todas passaram, sinto que maior foi a minha de não parar de sorrir.

22 fevereiro 2003

:: insight #05

minha felicidade eh fragil. tudo estah a um passo do desespero. lembro-me de uma epoca em que dificilmente me abalava. agora, tudo me abala. eh preciso de um pouco de segurança. tenho vontade de desistir.
:: insight #04

tenho medo da noite. as pessoas se tornam outras. e eu nao sei ser outra.
:: variações de les petites plaisirs de la vie

_ exceto ana e andrea

hoje é um dia avesso. na verdade, o dia mais esperado. eu gostaria de não me importar tanto. mas me fazem importar. atraso. talvez nem se deêm conta. ou talvez eu esteja deixado loucos. ela também virá. olhos grandes. estamos atrasadas. a pressa não nos quer conter. ouço cantos, ensaiam. já tive ensaios também. mas a andrea também não se inscreveu no coral. não sabiamos se precisávamos do coral. não precisamos. todas estão de branco, cantam preces bonitas. a andrea e eu cantamos outras preces, em silêncio, falta combinar um letra de amizade. sim, somos amigas.

estou correndo. vejo andrea do outro lado, na escada contraria. encontramo-nos no pátio vazio. todos já começaram. não fizeram tanta questão de nos esperar. ofego. um cansaço na batata da perna direita. acho que andrea notou, mas somos fortes, temos poucas dores. e é um dia de comemoração e não de dores.

mas é triste. isso é tristeza, acho. o período desde que nos conhecemos até agora parece enfim fazer sentido. acabou. cada um deve seguir seu caminho e cada vez mais o tempo nos fará menos convivas. vou jantar na casa dela as vezes, ela vai lembrar do meu aniversário. que triste só marcar os aniversários como certeza de encontro. se eu chorasse um pouquinho, talvez ninguém notasse. a andrea também pode estar chorando. chora sim. porque entendo o que seu silêncio diz, esse silêncio subtraída de choro.

a cerimônia acaba. nos despedimos. vou lembrar sempre disso tudo. talvez o tempo não enfraquecerá essa tinta das paredes da memória. o meu rosto permanecerá assim o rosto dela. mixo as nossas gargalhadas com conversas malucas e sem cabeça. os amigos comuns serão referência. saberei sempre acredito. vou acreditar.

o tempo passa. passa. cada dia tenho a noção do temporário. o céu, lembro-me do mesmo céu de formatura. "fodam-se todas elas", provavelmente dirá uma grande amiga do colégio, a andrea.

encontro-a numa festa. está bem. pousa bem para fotos, coisa incomum anos atrás. digo oi. saudosas estamos. percebo então a solidão no contraste desse reencontro. sim, é mais fácil perceber sombras quando há luzes. encontro nela um mundo e um pacto. eu o fizera no silêncio que fundamentou nossa amizade.
:: um sonho

estavas com machucados. a boca ferida, vermelha. os labios cortados. talvez um corte perto da sombrancelha direita. os cabelos desiguais. era um lugar que lembrava um cassino. luzes difusas que quase piscavam. todavia, sorriste como que se disseste "não se preocupe, passa".

20 fevereiro 2003

:: blogspot

parece q o blogspot estah fora do ar... isso eh um teste!

17 fevereiro 2003

:: da gaveta

para bruna mara que está pra lá passando um frio...

_ da amizade

que muitos tratados filosóficos,
trabalharam tema tão amórfico:
a amizade! o amor mais fraterno
e mais contrapartida ao inimigo.
quem em sã consciência o trai?
só se for por mais filosofia, morfina
ou fraternidade.
a amizade, longe dos platões,
não revigora e é uma condição,
assim como a condição de liberdade
imposta ao homem pelo homem.
um amigo não precisa de formalidades,
três ou quatro atos e registros em cartório.
ter amigo é consentir com a mais sublime das melancolias:
a de poder perdê-lo com o simples passar do tempo.
com a feitura de uma traição, garoas de hipocrisia,
e rostos amargos por falta de sinceridade.
ou simplesmente sorrir,
quando não há mais porquê.

sorrir para ser uma causa
e sorrir para ser seu efeito.
:: da gaveta

_ wonderland

1

através dos vidros dos coletivos,
uma sensação de que alguém está contando a nossa história.
billie Holiday cantando bem baixinho os pretensos amores expressos
que cultivamos em nossos corações para estarmos certos do preparo quando, algum dia, o momento chegar.
fico chorando pelos cantos, fico rindo à toa,
decoro as melhores letras que saem da boca de ella fitzgerald,
aprendo a dança como Gene Kelly e sei que tenho meu lugar nas bem ditas big bands.

tudo,
tudo a espera da próxima parada,
quando os cinemas estarão abertos para receber seus amantes,
os bares terão as cervejas mais geladas,
e eu terei dinheiro para te comprar algumas flores que podem durar mais se colocadas num copo de água com aspirina.

enquanto isso, abro o livro e procuro por um ensinamento.
mas entre um romance de thomas mann e um dicionário
o que me detém em não abrir ambos? melhor tivesse comigo,
os livros de henry james ou jane austen...
já abandonei os livros de versos por tanta falta de rima
em meu coração.
eu poderia ler kafka para chegar em wonderland,
Mas seria muito injusto com lewis carrol.
então abro o dicionário:

parada.sf.1.ato ou efeito de parar.2.local onde alguém ou algo pára.3.pausa, interrupção. 4. formatura ou desfile de tropas. 5.quantia em que se aposta no jogo em cada lance.

então adormeço, apostando que você me acorde quando chegar.

2

pois que Wonderland fica longe, longe...
nos Estados Unidos. quem espera encontrar
entre luzes de néon e algumas ribaltas
as cores temáticas da felicidade,
verá apenas os tons pastéis, âmbar, de quem se corrigiu
a tempo de aparecer bonito na fotografia.

os postes, as ruas, as calçadas, os pedestres...
quem canta tanto o objeto inerte? não responda
que Wonderland já disse em inglês... o destino subjugado.

wonderland, próxima parada.

3

há alguns estive em Wonderland a negócios
e no principio não achei nada de excepcional.
um americano que falava um português vagabundo,
a solidão, a solidão... e alguns amigos.
por que não restituir a mediocridade o lirismo de outrora?
wonderland passa em meus olhos e meu nariz lateja
e acho que estou dizendo a verdade.

(de caderno de anotações para as tempestades | 2000 )
:: da gaveta

_ o século nosso

o espaço nos mantém próximos.
o tempo nos faz convivas.
eu não escolho quantas vezes te vejo por dia.
mas sei que nunca é suficiente este esforço
de impedir que impere a imagem da indiferença.
se os teus séculos são diferentes dos meus,
é porque não possuímos as mesmas trevas.
os iluministas são os outros.

( mariana.blues | 1999 )
:: o fim das horas (ou pelo menos do horário de verão)

"-- passei minha 25º hora descobrindo que o mundo dá voltas." (andrea yagui)

16 fevereiro 2003

:: das gavetas

_ mais um

as pessoas estão me cercando,
não porque desejam,
mas porque interrompo seu espaço.
elas passam indiferentes,
precisam ir a escola,
trabalhar,
vingar compromissos.
sou, para eles, mais um que vinga.

(de caderno de anotações para as tempestades | 2000)

:: das gavetas

_ dança

vamos dançar
no ritmo desta música
que está começando a temperar
a minha temperança.

sua mão sobre a minha
a outra sobre meu ombro.
você sorri
porque isso não se faz mais.

a orquestra clama
não o gênio, autor
mas a nós dois que
somos a conseqüência deles.

(de caderno de anotações para as tempestades | 2000)
:: das gavetas

_ amar

entre os sonhos despertos a realidade,
uma sensação de estar vivendo.
como latas de refrigerante rolando a meio fio da calçada,
ou revistas sendo folheadas com interesse pelos leitores.
a lâmpada que tem duas mil horas
e chama atenção dos insetos voadores.
e o laser a quem devemos a boa música dos cds, sem ruídos.
a falta de palavras no dicionário,
o plano exato dos diretores americanos.

reconhecer o grande amor.
ou deixar passar por um pequeno lance do destino.
cortar as unhas,
grunhindo uma balada lenta
como a tua respiração quando dorme.
abrir o chocolate.
comer o chocolate.
beber café.
aprender um instrumento.
escrever versos de amor.
ler dostoievsk,
ler drummond,
ler camus
e chorar por bandeira.
assistir a fellini, kurosawa, rocha, spielberg,
antonioni, krystovsf, chaplin, scorcese e coppola.
abrir mão da grande aventura
por um olhar de uma mulher.
ter amigos.
ter amado.
ter visto a nudez.
ter feito a nudez.
cantar.
recitar.
conversar.
rir.
fazer rir.
reconhecer que em cada movimento há comoção.
amar com desespero e ter medo da morte.

amar com desespero e ter medo da morte.

(de mariana.blues | 1999)
:: das gavetas

_ e a luz das estrelas

fizesse uma canção de esperança parecer vontade e representação,
nada disso teria sentido além daquele que ansiamos.
se pudéssemos sempre sentir o gosto da realização
mesmo quando pouco satisfeitos com a realidade.
e a luz possuísse o calor dos homens bons
e a cegueira nos fizesse sentir a falta
das pessoas que não nos importa mais.

e a noite, alguém gritasse para que todos acordassem
para que dela se extraísse a melhor mitologia sobre a sonolência,
pequeno breviário da mediocridade e da razão.
evitássemos os dias nublados, mas não a chuva
porque nela dissolvemos as angústias e os lamentos.

e a luz das estrelas se fizesse perene
mesmo na explosão primordial e o quark.
e o pulsar revelasse a vida e a morte.
o antes, o depois e o enquanto.

porque estou acordado e te vejo
desperta entre os semitons, a vigília e a falta de esperança.

(de mariana.blues | 1999)
:: das gavetas

poemas com mofo. pedaços grilados. manchinhas e letras feias. memórias de outros cobertores.

_ a quinta estação

há muito gostaria de estar com você, mas não posso ficar.
a noite está chegando e preciso aliviar um pouco minha fadiga.
posso ficar uns dois minutos e meio deitado no teu colo
esperando que você me diga do modo mais sincero que me ama.
mas daí precisaria de mais duas horas e um quarto para eu fazer o mesmo,
então é melhor que eu vá.
segura um pouco meu antebraço
e finge que esqueceu de me dizer algo do nosso filho que ainda não veio.
eu espero, um pouco irritado, a sua insegurança deixar de ser um obstáculo
para ouvi-la com toda atenção. aí você se cala e diz que não é nada,
que você também precisa de um descanso para não ter tantas olheiras de manhã.
eu toco teu rosto com o lado de fora da mão, porque a palma revelaria
a minha ingratidão e a minha vontade de não perdê-la. ergo sua face
pelo queixo porque sei que assim você pegará o meu rosto me beijará com violência.
mas percebendo a minha indiferença, largar-me-ia aos poucos, olharia nos meus olhos
para procurar a razão de tanta falta, de tanto vazio. afastando até achar o espaço
para derramar suas lágrimas, sozinha e com medo de não ter achado a pessoa certa.
pensando que está sofrendo e perdendo a juventude.
eu, por minha vez, alisaria seu cabelo e diria que está tudo bem,
que sou assim mesmo. que lhe daria um filho ou dois. que o meu fraco é o beijo.

e que te amo.

(de mariana.blues | 1999)
:: insight #03

e pensar que no inicio este blog era só uma declaração de amor...
:: insight #02

não posso contar com mais ninguém. porque embora esteja contra todos, o tempo também está contra mim.

12 fevereiro 2003

:: insight

estou suficientemente chato para não ter mais amigos.
ambos deitados na cama, olhando para o teto. e de vez enquando se olhando.

:: diálogos noturnos

# 01

ele : talvez vc me aceitasse melhor seu eu fosse outro tipo de pessoa.
ela : talvez.
ele : provavelmente se eu fosse outro tipo de pessoa eu não te amaria tanto assim.
ela : não acho.
ele : então, como ficamos?
ela : ficamos.

#02

ele : tudo está perdido?
ela : nem tudo.
ele : o que não está?
ela : o que te encontrei.

#03

ela : gostaria de vencer ao menos uma vez.
ele : por quê?
ela : há algo de nobre em vencer.
ele : entendo... mas acredita que estamos vencidos?
ela : acho provável. por que tanta ânsia então?
ele : bom, porque... vencemos demais?

#04

ela : acho que preciso mudar minha atitude quanto a vc. preciso dizer mais claramente o que sinto, o que ando fazendo.
ele : precisa.
ela : falar melhor dessa falta que ando sentido, que não quero chamar de solidão porque não é.
ele : é, nem é.
ela : mas que me oprimi, me aperta o coração feito aparelho de medir pressão. não há pressão, mas é que o humor se esvai, sabe? tento e tento mas o dia-a-dia é fortuito para que briguemos cada vez mais.
ele : fortuito...
ela : acho que vc precisa prestar mais atenção não a mim, mas a si mesmo. pq as coisas que faço te atingem e quero que saiba que as coisas q vc faz me atingem também.
ele : eu sei.
ela : por isso ficarei em silêncio, te ouvindo, te vendo, te reconhecendo, uma vigilia até que possamos consentir na coisa certa para se dizer.
ele sim, a coisa certa.

09 fevereiro 2003

:: outra menina

cabelho granhento. minha mãe é uma pessoa boa. meu pai é uma pessoa má. faz tempo que eu não lavo o cabelo, fica assim que dá arrepio que nem mexer no bombril. minha mãe morreu porque era uma pessoa boa, quem disse foi zezito. meu pai quem matou de tanto apanhar ela. meu pai sumiu. eu aprendi com ele a catar latinhas de coca-cola, guarana, sprite, sucos del valle, ah um monte. aih eu piso e ponho nesse saco azul. um monte fica pesado, mas depois eu troco por algumas moedas. zezito compra umas latas que cheiram ruim. eu dava para minha mae. mas ela morreu. foi meu pai quem bateu ateh matar. zezito quem disse. tah cocando meu cabelo.

olha um cachorrinho! mas eh mto pequeno. mto, mto muitinho. mamae nao ia deixar eu pegar... mas papai nem vai ligar. vou tomar conta de vc! zezito, tira a mao do cu dele! ele eh pequeno e temos que achar a mae! a gente procurou um monte. mas os cachorros sao meio iguais. tem cara de coitado a maioria. zezito tem cara de homem macho. tem cara de mau, mas eh bom pq dividiu uma bala comigo. era de morango porque os plastiquinho eh cor de rosa. vou dormir, zezito, deixa milu em paz. milu! eh esse o nome, viu? vc aprende facil serah? quando eu disser mi-lu. olha: mi-lu. vc late. ta bom, pode abanar o rabinho soh. olha pra mim. nao fica triste, vou ser sua mae ateh vc crescer e andar, aih a gente vira amigo e vc me protege. ateh lah protejo vc dos cachorros grandes e maus. me late maezinha, vai. tah...

noite. sono.

milu! milu! me ajuda! moço, me ajuda. o milu! ele tah mole. me ajuda! por favor! nao vai embora, olha o pescoço q molinho. nao tah normal. oi moça, pode me ajudar? o milu! me ajuda. por favor, me ajuda. o milu eh mto pequeno e nao sabe se cuidar... olha como tah mole. me ajuda, por favor. por favor! me ajuda. calma, milu, q a gente consegue. por favor, senhor, oh... senhora.
me ajuda.

(nao pensei no final ainda... ajuda?)
:: as nossas meninas

:: as nossas meninas
"cantando eu mando a tristeza embora!"

07 fevereiro 2003

:: o que sei sobre luciana dante

# que faz rádio e tv na eca.usp e é da turma de 1998.
# que tem uma irmão
# que sua mãe trabalha na faber-castell
# que tem as piadas mais irônicas (aquelas que pegam no amago)
# que fala bonitinho no telefone (parece outra pessoa!)
# que faz aniversário em 6 de fevereiro
# que quase nunca conta sobre sua vida pessoal
# que vai sempre tentando nos tornar sua vida pessoal
#
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#
#
#
#
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# (para eu ir lembrando e editando o post)

mtos bjs para ti!

05 fevereiro 2003



ENQUANTO VCS DORMEM

Se vocês soubessem como esta noite está diferente. São três horas da madrugada, estou com uma de minhas insônias. Tomei uma xícara de café, já que não consigo dormir mesmo. Botei açúcar demais, e o café ficou horrível. Ouço o barulho das ondas do mar se quebrando na praia. Esta noite está diferente porque, enquanto vocês dormem, estou conversando com vocês. Interrompo, vou ao terraço, olho a rua e a nesga de praia e o mar. Está escuro. Tão escuro. Penso em pessoas de quem eu gosto: estão todas dormindo ou se divertindo. É possível que algumas estejam tomando uísque. Meu café então se transforma em mais adocicado ainda, am mais impossível ainda. E a escuridão se torna tão maior. Estou caindo numa tristeza sem dor. Não é mau. Faz parte. Amanhã provavelmente terei alguma alegria, também sem grandes êxtases, só alegria, e isto também não é mau. É, mas não estou gostando muito deste pacto com a mediocridade de viver. (Clarice Lispector)

Errata:
Pressupondo a possibilidade de que eu pareça, pra vc, triste nesse momento. Não é verdade, são 16hs e o dia está lindo. Muito ensolarado. Poderia ir na piscina, aguardo minha irmã, mexo em muitos livros, minha casa está quente pro corpo, mas é um frescor pros olhos.
:: sideral

vendo a terra do espaço sideral. um monte de pessoas levando suas vidas, para frente, orgulhosas. usando roupas adequadas às estações e as modas e trijeitos. o azul que envolve, não mais em mim. correm todos atrás dos seus divertimentos. é necessário.

divirto-me com a idéia de gravidade zero. de ganhar da força centrípeta e me projetar de volta a terra.

04 fevereiro 2003

:: fotoblog #02


por mariana zanotto
:: fotoblog #01


alguma coisa no céu. ou no guarda-sol. o sol.
:: why does it always rain on me

i can't sleep tonight
everybody saying everything is alright
still I can't close my eyes
i'm seeing a tunnel at the end of all of these lights

sunny Days
where have you gone
i get the strangest feeling
you belong

why does it always rain on me?
is it because I lied when I was seventeen?
why does it always rain on me?
even when the sun is shining, I can't avoid the lightning

i can't stand myself
i'm being held up by invisible men
still life on a shell when
i got my mind on something else

oh where did the blue skies go?
and why is it raining so?
it's so cold

travis ::

03 fevereiro 2003

:: drummond de madrugada

Luiza : levantar? esta baixa.... no chao....sem condicoes.....sem força....

Marcio : ah, dificil pedir hj, eh mto cedo. mas tudo passa. roubando de drummond:

o primeiro amor passa,
o segundo amor passa,
o terceiro amor passa,
mas o coração continua.

Marcio : tem nocao desse ultimo verso? "mar o coracao continua"? eh foda!!!

Luiza : que liiiindo! amo drummond....

Marcio : minha interpretacao viajante do ultimo verso: o coracao, este ente estranho e quase inexplicavel, apesar das passagens do tempo e das alegrias e das dores, insiste em continuar. quase q estupidamente, resiste. continua tentando, como um idiota. eh quase burrice, mas continua.

o poema inteiro para ti:


Consolo na praia


Vamos, não chores...
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.

O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.

Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis casa, navio, terra.
Mas tens um cão.

Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?

A injustiça não resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.

Tudo tomado, devias
precipitar-se, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho.

Carlos Drummond de Andrade

:: ir embora

há quem lamente o dia. há quem lamente a noite. eu lamento mto pouco, vejo passar as horas como se lavasse as mãos, andasse de ônibus, tomasse banho. descobrir bandas novas ou caçar livros interessantes, não tenho apego pelo meu celular, mas pelo patético celular dos outros.

todavia, vai embora. alguns meses de ausência oficial contra a ausência provocada por mim todos os dias. não esqueça os cd's e alguns livros. provavelmente to the lighthouse seja melhor em inglês. quando me aventurarei no inglês?

acho que lamento só o meu inglês. e para tudo quase há volta como o dia para noite para o dia.

02 fevereiro 2003

:: o não-lugar

sentimento de estrangeiro. pergunto-me se faço parte de alguma conspiração. não me encaixo. adapto-me, mas é muito mais que imperfeito. sou deslocado, não me reconheço no lugar, se é que isso é possível para alguém.

é como se não tivéssemos casa. como se nossas aspirações não pertencessem a parte alguma. muitos chamam isso de liberdade. não pertencer, embora não soe obscuro, é extremamente desconfortável. será possível sentir-se confortável nesse mundo? como o sofá que pertence àquele canto da sala, como o pires ao seu conjunto de louças na estante. somos como fugitivos, andarilhos de um deserto-prisão.

o que faz um lugar ser nosso? que tipo de apego é necessário para tão ousada posse? sinto falta de lugares que não conheço ou conheço pouco. os lugares em que se encontra, passa ou sonha. os lugares possíveis de nos encontrar.

o que resta para nossa casa é o coração de alguém. assim como arrumamos o nosso para que seja morada também.