a million parachutes

for us

29 junho 2004

:: 33

quero falar da perda de importância que tenho na vida das pessoas de forma que não soe autopiedade, mas só capítulo interessante.
:: plese, shine

o acaso às vezes nos detém com sua destreza. encontrei-me com uma velha amiga por acaso. era uma dessas amizades que poderiam ser qualquer coisa. poderíamos vencer os exércitos americanos ou inventar novos sabores para frapês. poderíamos ser bons parceiros de dança de salão ou bons subversivos da solidão. mas a vida nos afastou e o acaso fez das suas.

ficamos encabulados. talvez por essa sensação do que poderíamos ter sido ou uma certa reserva para pensar se ainda tínhamos os assuntos, forças e desejos que poderiam nos fazer voltar a ser. conversamos por uma boa meia-hora. nem pude dizer as coisas que agora aqui organizo. tem certas pessoas com quem o cérebro se eleva a pedido do coração. lembrei-me de todas as canções comuns, cores e formas. comecei a ter idéias, mas que ficaram só para mim. a gente chega numa certa idade que acha ridículo compartilhar certas coisas com medo de ser ameaçadoramente chato ou deselegante. percebi o incomodo dela também e apressei a despedida.

ela me deu um abraço leve, mas que dizia que éramos duas pessoas boas, aquele gesto de quem diz: "não mudei tanto assim, ainda é meu assim como sou sua também". a gente se afasta das pessoas por coisas bobas, mas que fundamentam nossa vida hoje em dia. resolvi que, ao contrário dos fundamentos, vou revê-la. serei mais acaso.

28 junho 2004

:: stereo

o teu olho. o teu umbigo. pernas, cotovelo, o cerebelo. o cócxis. há algum tempo reparo em tuas roupas, na cintura nua e descabida. a calça que marca as coxas, sugere o fêmur. canção boa essa que fala dos corpos com alma. a gente toca os espíritos através da pele. tua pele é quase transparente. entre tecidos dedicados quase posso enxergar teu coração. quase não.

e tens essas calamidades nos pés de tanto dançar, pular, conceder. mais tarde repousarás no corpo os cansaços da alma. tombada em uma cama, fecharás o olho, esse orifício de onde sais e por onde entro.

sob a noite, enveludas os desejos. tens 2 ou 3 oportunidades de se retirar, mas ficas. eu rio, não perco a chance. as oportunidades vão passando e eu rindo cada vez mais alto. quando percebo que não há mais como ir, sou eu quem fica bobo e é tua hora e vez e diferentemente de pouco antes, não perdes a chance e dizes.

baby, tu orbitas entre dois hemisférios irreais e estamos equidistantes das perfeições do mundo. acho ótimo também! não teremos a felicidade prometida; merecemos coisa melhor: jogos de bilhar, supernovas, corredores de tapioca; ah, sim: o apocalipse, baby! o apocalipse!

não tenhas um projeto de vida! tenha muitos. vá abandonando conforme o desamor caminha. só não deixas te levarem muito longe de mim. os ombros, o joelho, a festa dos cílios. falta tanto amor nos pescoços , nos cadernos e agendas, nos adoçantes dietéticos e nos bilhetes de metrô...

é veloz, baby, é.

o palco de tua noite cruza a cantoria dos seres fantásticos. inventei pérolas, a luz de uma tevê melhor e a poesia de tuas falanges.

se quiseres rachar um táxi, estamos aí. vou com teus vazios celestes até onde o coração alcançar ousar.

27 junho 2004

:: a república dos filosófos

passei pela cidade de rego freitas a trabalho. nunca pensei que poderia chamar um lugar com uma única avenida de cidade, mas era o nome oficial. tinha 1 prefeito e 5 vereadores. dispensavam as oficialidades, discutiam no bar a política.

o meu trabalho era tirar algumas fotos dessa cidade. um registro documental de sua existência. colocou um copo de cerveja e outro de cachaça na minha frente, o prefeito perguntou:

-- conheces platão?

respondi que havia estudado um pouco no colegial, mas que não era adepto das filosofias.

-- não tens amor ao saber? não amas a sofia?

sofia, para mim, era o nome de uma cachorra de uma amiga. e eu tinha até um amor platônica pela dona da sofia, mas talvez ele não achasse tanta graça quanto eu.

-- pois, meu jovem, rego freitas é a república dos filosófos como platão idealizou !

explicou-me que platão havia escrito que os filósofos eram os mais capazes para a administração pública. que se todo o mundo fosse desta maneira, não teríamos tantas desgraças que assolam o gênero humano. depois indicou-me alguns prédios e pontes. pediu para os vereadores fazerem poses para fotos. tirei apenas 3 filmes e foi o suficiente. o prefeito tirou uma nota de 50 e 2 de 10 reais do bolso e disse:

-- mande-me quando ficarem prontas, mas antes de ir, tome mais uma com a gente.

uma semana depois de ter enviado, encontro na minha caixa postal as mesmas fotos com o carimbo de "endereço inexistente e/ou não identificável, por favor, verificar e tentar novamente".

achei essa uma metáfora ruim.
:: meu mundo é hoje _ paulinho da viola

eu sou assim
quem quiser gostar de mim
eu sou assim

meu mundo é hoje
não existe amanhã pra mim
eu sou assim
assim morrerei um dia
não levarei arrependimentos
nem o peso da hipocrisia

tenho pena daqueles
que se agacham até o chão
enganando a si mesmos
por dinheiro ou posição
nunca tomei parte
nesse enorme batalhão
pois sei que além de flores
nada mais vai no caixão

(wilson batista / josé bastista)
:: o caso do pedaço da madeira

sobrou um pedaço de madeira de uma prateleira que fiz para colocar o monitor. deixei do lado da cama junto com alguns livros. depois, guardei os livros e o pedaço de madeira ficou.

hoje percebi que a madeira virou um degrausinho para eu subir na cama, mesmo que eu não precise de degrau para subir na cama.

25 junho 2004

:: técnicas

o estalo de seu beijo vem da língua contra o céu da boca ou da pressão dos lábios na pele?
:: um conselho

se estiver numa conversa em que pessoas falam mal de outras, conversam hipocrisias, ostentam fingimentos ou levantam imperativamente a voz, vire-se e saia serenamente como se estivesse lembrado de alguém que lhe fora muito simpático e doce.

p.s. se sugerir um rebolado é mais engraçado.
:: você não sabe

eu sei mais de você do que você pensa...
:: seasounds

estou ouvindo as ondas do mar e elas dizem sim.

24 junho 2004

:: a lua adversa e o menino sonho : diálogos imperfeitos

# 01

m: você tem olhos?
l: tenho.
m: quantos?
l: quantos me couberem.

# 02

m: há quantos anos-luz você está?
l: bem pouco, por quê?
m: queria saber se dá tempo de virar adulto quando chegar aí.

# 03

l: você não dorme?
m: durmo não... mentira! durmo quando vai embora. e você?
l: eu também.

# 04

m: lua, me diga: o que os namorados te dizem?
l: ah, dizem quase nada. estão ocupados para dizer.

# 05

m: já pensou em orbitar outros planetas?
l: já sim. mas a natureza das coisas impede.
m: ainda bem, ia sentir falta.
l: e vc, já pensou em parar de sonhar?
m: e como eu ia falar contigo?

# 06

m: sou um pesadelozinho recauchutado...

# 07

l: fico borrada e não te sonho.

# 08

m: a minha gravidade ainda é menor que a sua.

# 09

l: as pontas dos meus pés resvalam em seus cabelos. a palma da sua mão alisa minhas crateras.
m: a sua superfície me impede a escuridão. a minha voz não chega aguda a sua atmosfera.

# 10

m: cartola?
l: mais um teco, por favor.

# 11

l: cecília?
m: já brotou, foi o que disse o chico bolacha
l: caxambú?
m: mandou ruivos em si bemol.

# 12

l: e se formos tomar sorvete?
m: só se for agora.
l: não esquece a blusa.
m: misture as meias.
l: corra o risco...
m: ... de virar borboleta.

:: pergunta

tá vendo esse espaço entre o título do blog e o início dos post? perguntaram-me para que serve. eu inventei que era para que a menina ao lado caísse, mas não se machucasse porque as palavras a segurariam. mas o fato é algum erro meu de html que fui deixando e que se eu tirar me faz falta.
:: cheiros

o centro da cidade tem cheirado a produtos de limpeza. será que se plantássemos flores seus perfumes venceriam o cheiro comum de cidade grande? será que eles se tornariam a cidade?

23 junho 2004

:: nariz

esse nariz sangrando o dia inteiro só me convence mais de que não sou de ferro.
:: para a menina que vai levar um partido alto

tira a sandália e pisa nas nuvens.

22 junho 2004

:: mundos da lua

_ nova

quando olho para a lua, penso que deve ser um lugar bom para onde fugir. quem pensaria em me encontrar lá? estaria eu rindo da situação de estar debaixo do narizes deles ou acima de suas cabeças.

quando olho para a lua, acho graça no modo que ela própria se esconde.

e quando eu fugir para ela, talvez a gente se encontre.

_ cheia

ela fica tomando sol como se estivesse na bahia.

_ minguante

lua: onde as quedas podem ser vôos.

_ crescente

o cabelo cresce. o mar acalanta. os namorados se perdoam tanto amor. as mulheres contam seus sangramentos. os poetas sonham astronaves de palavras.

eu invento uma prece e falo com ela sobre amenidades. ela me chama de menino sonho.

:: voltei !!!

tive um aniversário péssimo. muita gente me esqueceu. mas foi bom porque pude refletir sobre muitas coisas e uma delas era esse espaço. tem gente que tem uma relação bonita com este blog e coisas assim não devem ser perdidas inutilmente. sei que nada disso pode ser de verdade, mas se a gente não sonha um pouco, a gente corre o risco de ficar azedo e dizem que sonhos tem a ver com memórias, não quero esquecer das coisas boas.

pensei também que somos muito efêmeros, mesmo quando temos vontade de querer ser imortais. uma das poucas chances de ter uma vida maior na vida das pessoas é fazendo com que essas palavras possam ser um dos muitos tijolos que constituem os seus caminhos. talvez se elas lembrarem um pouco das historinhas que eu conto, isso pode ser uma forma de me prolongar. sim, tenho medo. mas assim, sinto menos.

11 junho 2004

ana,

não sei quando lerá esta carta, talvez nem seja lida com a tranqüilidade que imagino. já faz algum tempo que não lhe escrevo sim, mas é porque não vem algo mais interessante para contar, você deve ter suas aventuras, as minhas deixam a desejar. são golpes com os quais acostumo, embora digam para não. o meu humor anda de avesso, rio das coisas que deveria sentir tristeza. choro de alegrias dispersas. ando perdendo as esperanças de que meu passado me diga o que fazer. o futuro é atraente. o presente só me reforça a idéia de que o presente talvez não exista.

faço anos daqui a alguns dias. terei os mesmos que você. só vai me faltar a sabedoria e talento. o sorriso eu pratico. as suas palavras me fazem bem. sei que não as escreve por isso, mas achei importante dizer. resolvi abandonar a velha escola e pedir revisão de notas. devo me dedicar às ciências e artes que tanto deixei de lado. espero não cometer os mesmos erros. mas não ignoro a possibilidade de ter as mesmas febres. agora sei dos remédios.

sinto saudades, querida ana. ando perdendo a noção do tempo. enquanto o relógio caminha reto e decidido, eu entorto a linha tentando resgatar e projetar nuancias sentimentais. sinto saudades, querida ana, sinto. às vezes me pego relendo algum verso seu ou lembrando de idéias que cultivou, assim, enquanto ando pela cidade. a vida das pessoas está mudando. a minha nem tanto. decidi morrer alguns dias atrás. marquei para daqui há 65 anos. já terão inventado as viagens interplanetárias e os nanorobos. vai dar tempo também de ver os bisnetos dos amigos, desejo que me ocorreu algumas horas da minha decisão. sinto saudades.

mande-me notícias. não se afaste tanto assim.

márcio

p.s. alikan tem um jeito estranho de perguntar por você.

06 junho 2004

:: uma pausa de mil compassos

costumo pensar muito na vida. um defeito que tem lá suas vantagens. mas esse mês sinto algo diferente, não sei bem explicar. uma serenidade misturada com cansaço talvez. algumas propostas me vieram como a de fazer um mestrado; outras são antigos planos que soam amadurecidos agora como a de escrever um texto mais longo: um romance.

a idéia de romance é amedontradora, mas sinto que não sou eu quem o quer, mas ele mesmo quer se dar uma chance. não sei se terei fôlego. mas quero fazer coisas novas.

também quero tocar a banda que montei com a mariana, "bricolantes". música tem sido um bom alento, quero encará-la diferente agora, como produtor. não sei se a gente tem futuro. mas isso nem importa tanto.

não vou dizer que vou fechar esse blog porque todas as minhas outras tentativas resultaram fracassos. vou tentar deixar a internet de lado, embora trabalhe com isso. imprimi os posts antigos e vou revisar para montar uma antologiazinha. percebi nesse exercício que ando cada vez mais repetitivo e chato. vou parar antes que fique realmente desinteressante.

continuo no flog, na caixa de sapatos e no-scrubs.

peço desculpas aos leitores fiéis e agradeço a força sempre presente. vou tentar fazer valer os votos. voltarei melhor. deixe o seu email que aviso.

05 junho 2004

:: meu bem

não guardo muitas mágoas. não vale a pena guardar mágoas. a vida é muito pouca para isso. quando pensamos que ela é um ligar de pontos, percebemos que a vida eram os espaços entre eles. as importâncias mudam. pessoas próximas vão ficando longe. outras que nem conhecemos passam a nos acompanhar. talvez seja mais o acaso que as vontades que faz a história girar. talvez não seja nossa culpa se deixamos coisas para trás e magoamos. talvez não seja tão pesado sermos magoados. o coração aperta, a gente diz que está vivo. do coração alheio a gente sabe cada vez menos.

acreditamos que o amor é o ponto de inflexão em que o tempo não age.

suportamos a pressão do dia de trabalho, das horas minguadas, do barulho e do silêncio angustiante para suportar a vida. mal sabemos que essa pressão é vida também.

04 junho 2004

:: sonhos # 924

estou com medo. vou dormir debaixo da cama.

03 junho 2004

:: sonhos #878

sonhe comigo, esqueça depois.
:: adalgisa

a arquitetura na cidade de adalgisa tem a virtude de ser invisível. há, sob as ruas, engenhosas galerias não só para o escorrer de males e chuvas, mas também caminhos para se fugir. em adalgisa, o significado de fuga transcende a mera covardia usual. muitos usam como um repouso mais longo ou o tempo ideal para as massas de pães crescerem.

nas galerias fugidias de adalgisa há janelas que dão para a superfície.

na parte mais próxima do céu, adalgisa parece uma cidade comum a não ser pelas galerias vistas das janelas do chão. o povo chama esses fluxos expostos de riochetes e os sábios os utilizam em metáforas sobre o tempo que passa, que tudo enfim, passa.

mas como podemos ter a consciência da arquitetura invisível de adalgisa? assim como os átomos e o infinito são comprovados pela inexatidão das evidências, adalgisa está nos sorrisos e espantos de seus moradores que se encontram e desencontram pelas ruas e galerias da cidade.

adalgisa não é sorriso, mas se constroe de.

02 junho 2004

:: dreams

sonhei com a beta hoje no ônbius. ela vendia pipocas. estava de avental e o sorriso costumeiro. não me lembro da voz, não conheço sua voz.
:: o silêncio de ouvir

as pessoas carinhosamente querem me ser as mais sinceras, por isso tanto silêncio. agradeço, mas não faz mal umas mentirinhas.
:: a cidade dos fios partidos

explicava eu para uma amiga minha sobre a dificuldade de comunicação, da nossa vida modernosa e de como os fios nos unem e desunem. ela comentou o título do meu pretenso post:

-- melhor do que corações partidos.

sorri. não quis dizer mais nada.
:: ask

meu caderno de anotações está acabando. quem me dá um novo?

01 junho 2004

:: no smoke / smoke

ela tinha a boa educação de não deixar os fósforos jogados pelo chão. quando acendia o cigarro, voltava a guardar o usado na caixa. acidentalmente, não percebeu que não havia apagado por completo e a caixa explodiu em sua mão. queimou-se em segundo grau.

e era uma dor estúpida, dessas dores que são extremamente solitárias porque são do corpo e não há como compartilhar como se pode compartilhar as tragadas dos cigarros.
:: smoke / no smoke

adianta se eu pedir para você parar de fumar? sei que o tempo que o cigarro pode estar consumindo pode ser relativizado, mas por que arriscar por tão pouco? se ganhar mais um dia e se esse dia for meu, vou continuar sim pedindo.

:: um beijo de colombina

estava lendo um livro sobre a saudade -- ou será sobre a falta? marcava as páginas com a carta que recebi há poucos dias. os papéis brigavam para quem destoava melhor o meu coração. mas no final, a carta continua em outro livro até que eu esqueça dela e não sinta mais falta.