a million parachutes

for us

30 abril 2006

:: Se eu fosse... e tu se fosses o que serias?
(para não pensar em coisas desimportantes...)

Se eu fosse...
Se eu fosse um mês, seria junho.
Se eu fosse um dia da semana, seria quarta-feira.
Se eu fosse uma hora do dia, seria 8 horas da manhã.
Se eu fosse um planeta ou astro, seria o marte.
Se eu fosse uma direcção, seria esquerda.
Se eu fosse um móvel, seria estante.
Se eu fosse um líquido, seria vodka.
Se eu fosse um pecado, seria a indiferença (deveria ser pecado).
Se eu fosse uma pedra, seria areia.
Se eu fosse uma árvore, seria uma cerejeira.
Se eu fosse uma fruta, seria um abacaxi.
Se eu fosse uma flor, seria uma azaléia.
Se eu fosse um clima, seria outonal.
Se eu fosse um instrumento musical, seria uma trompete.
Se eu fosse um elemento, seria a ar.
Se eu fosse uma cor, seria azul.
Se eu fosse um bicho, seria um elefante.
Se eu fosse um som, seria a um grito tímido.
Se eu fosse uma música, seria "acidently kelly street".
Se eu fosse um estilo musical, seria um rock sambado.
Se eu fosse um sentimento, seria a saudade.
Se eu fosse um livro, seria um com desenhos.
Se eu fosse uma comida, seria um macarrão alho e óleo.
Se eu fosse um lugar, seria o São Paulo.
Se eu fosse um gosto, seria de pão.
Se eu fosse um cheiro, seria de amaciante.
Se eu fosse uma palavra, seria "litio".
Se eu fosse um verbo, seria "perder".
Se eu fosse um objecto, seria um porta-sabonetes.
Se eu fosse uma peça de roupa, seria um palitó velho.
Se eu fosse uma parte do corpo, seria as mãos.
Se eu fosse uma expressão facial, seria o riso tímido.
Se eu fosse um personagem de desenho animado, seria o "Chinchan".
Se eu fosse um filme, seria um Vestígios do Dia.
Se eu fosse uma forma, seria um trapézio.
Se eu fosse um número, seria o 34.
Se eu fosse uma estação, seria Outono.
Se eu fosse uma frase , seria "num fodi".
:: amigos imaginários ou nem tanto

-- que olhão que você tem!
:: parachutes.tv _ kandinsky



soundtrack _ it could be sweet _ portishead

29 abril 2006

:: o homem

no banco da praça, há um velho que me enganou o conceito de velho. desde que o conheço, sempre foi um velho. aprendi o que era o velho, mas o homem do banco da praça não me disse o que era envelhecer. ele sim, viu-me passar os anos na pele, nos cabelos, nas pessoas que fui. ele não envelheceu e cristalizou o seu próprio termo.

contou-me há pouco tempo sobre sua mulher. sobre suas mulheres. não a conheci, não imaginei que pudesse ter sido casado. sempre o vi por aí sendo educado com as mulheres. chama-se samantha e confessou que não fora a mais amada. citou duas ou três histórias muito mais bonitas que me fizeram esquecer o nome de sua mulher. "samantha", retomou. contou-me que embora não tenha sido a mais amada, foi quem mais o amou. e quando o homem percebeu este fato, parou de envelhecer.

"amar alguém", disse, "é um jeito torto de oferecer eternidade".

acenei enquanto ia pegar o meu ônibus para o centro. o homem respondeu com simpatia, movimentando o chapéu e manipulando o tempo das coisas.
:: faluas a dois

o comprimento de meu colar
é o quanto amo-te, minha vida.
cabe-nos os dois se enrolar
e tem gosto de minha saliva.

28 abril 2006

:: parachutes.tv _ nuvoleta



sempre achei que nuvoleta tivesse um lencinho na cabeça.

23 abril 2006

:: faluas a dois

marie, marie, o mundo por aí perdido e tua franja a fazer-me rir! o tabaco que largaste -- lástima, dizes -- ainda está impregnado em tua pele. o lábio superior aconchega a pele outra enquanto o lábio inferior faz a pressão amorosa. e tu dizes que o charme é a sofreguidão do respiro oriunda do cigarro que faz teu beijo ser tão teu.

o mundo aí perdido em processos, contratos desfeitos e estacionamento tomando parques e tu a pensar em fumaças alheias. o cabelo cresce sem mais o cheiro habitual. falta só o corpo acostumar-se com tanta leveza. até o teu beijo anda diferente.

só não muda o fato de fazer-me rir. acenas, gesticulas segurar um cigarro e depois, ergues lentamente o dedo do meio.

queres saber? marie, esqueça os impostos e fuma meu dedo.

21 abril 2006

:: telê santana

futebol é uma coisa que não tem muito sentido. trabalhar para que o que não faz muito sentido fique ainda mais bonito não é para qualquer um. salve mestre telê!

18 abril 2006

:: faluas a dois

estou a fotografar para registro os meus amores.

anoto nome, endereço, número de identidade, apelido, se possui animais ou veiculo de locomoção (sempre fui dado às bicicletas), se soube me amar com ternura ou desprezo, se sabias escrever versos ou desenhar ou cantar ou fazer origamis ou socorrer a quem tivesse tido ataque de coração ou mera melancolia oriunda de uma vida aparante sem sentido. faço com letra de forma, no verso do papel, para organizar a memória e dar casa e abrigo ao desespero do esquecimento (este, se solto e desvario, apronta com nossa integridade e saúde).

mas para falar dos amores, julgá-los justos ou apenas vividos, não há como apenas fotografar. enquanto a prata queima e se fixa no papel, o meu lápis representa melhor a dimensão, sinceridade e extravagância de quem ama.

a memória é o anti-retrato 3x4.
:: frente fria

na confusão dos calores
os dias frios me destacam
em contraste
e atesto que minha temperatura
é constante.

17 abril 2006

:: amigos imaginários ou nem tanto

-- você sabe com quem está falando? sabe?
-- não.
-- oi, eu sou o márcio.

13 abril 2006

:: o homem que amava as mulheres

sim. eu amo as mulheres.
interesso-me pela complexidade de seus perfumes:
a pele somada à matérias sintetizadas.
amo sua resistência corporal
ao retilinio e angulado mundo exato das facilidades.
amo a lágrima sempre verdadeira
mesmo que feita por falsas alegações e exigências de felicidades.

amo o toque comtemplativo das mãos
e a nuca que espera receber toques compreensivos.
amo o seu desejo confuso de maternidade
e a musicalidade e tom da voz quando tem desritimia.
amo a habilidade das mãos com detalhes
mesmo que tão desastradas quando procura ferir.

sim. amo as mulheres e a sua vocação para o humano.
:: faluas a dois

camile, de onde vieste? para onde estás a ir? o teu rosto desencadeou pânico aos que hesitavam apaixonar-se. umas centenas abandonaram casa, barcos, castelos, buraco. outros tantos, família. uns tantos tentaram suícido. alguns poucos conseguiram. provocaste demissão para quem mantinha um senso atualizado. embaralhaste as estatistícas. as autoridades não sabem como chamar-te, camile.

os sindicatos. não há mais sindicatos. agora tudo é aborrecida arte porque tornaste a musa exclusiva da esfera inventiva. os teus desenhos ocupam capítulos e mais capítulos da história oficial. o mundo, camile, está a sua mercê.

e não adianta fazer caras e bocas. sintetizar o sofrimento humano numa leve curva de lábios não fará com que eu deixe de questionar-te sobre os fardos. penteia teus cabelos. engula teu orgulho. coma alguns clorofilados e não deixes de prestar contas com nossos corações.


12 abril 2006

:: faluas a dois*

enquanto eu dormia, sempre ocorreu-me no canto do olho que sonhava, uma pitada de realidade. como se jogasse-me na imensidão do mar com alguma indicação de como remo e volta. linha, pedaço de pão, rastros.

e sempre fui convencido de que este artíficio fosse uma demonstração de meu tremor em mergulhar em meus desejos e conflitos. como se a realidade fosse um bem maior de conforto que os próprios sonhos. achavam-me covarde. sempre pensei-me convarde.

um dia, enquanto eu sonhava com hesitação sobre os amores que perdi, dei-me conta que esta concretude em meus sonhos era o modo com que eu inventava as minhas leis. um jeito de criar as questões para as respostas feitas de sonhos.

em mim, tenho sonhos.
em mim, tenho realidades.

e desde então sonho os mundos reais porque já foram impossíveis. e realizo a vida sonhada porque ela já foi possível.

* esta série está ficando cada vez melhor!
:: lost in translation

se um dia eu voltar a tóquio, peça-me que traga lembranças boas em pétalas de cerejeiras.

11 abril 2006

:: faluas a dois

há no apoiar-se o corpo uma tentativa justa de dignidade. não são somente os dedos, os braços, os omoplatas que tornam-se rígidos para segurar o que é resto e corpo. o rosto ao tocar a corda faz atrito para ajudar a manter-se. nas bochecas, a marca da corda traz o terreno para o que achávamos etéreo. o corpo apoiado no trapézio, na estrutura exclamante do perigo, não é mais corpo: é uma alma que drama a sua existência. o seu duplo. é o fim prestes a ser mancha.

o amor também é este risco de dignidade: uma mancha cheia de alma atravessando as leis do corpo.


:: faluas a dois

recebo-te com a deficiênciade
de quem só tem abraço a dar.
se tiveres tempo e paciência
aprendo a despedida e o amar.

09 abril 2006

:: albert camus

. com tanto sol na alma, como pude apostar no absurdo ?
:: beijo beijo beijo

sou meio desajeitado com beijo
miro a boca, mas cai no queixo.

07 abril 2006

:: amigos imaginários ou quase

-- eu sonhei com você e você nem respondeu.
:: kim

ela tem esse jeito de voz para dentro. quase não fala. e quando fala, de tão baixo, parece resmungo. mas se prestar atenção no modo delicado e tenso, saberá que há preciosidades nos dentes, lábios e tudo que fundamentam o sorriso.

e por algum momento, enquanto finge estar distraída, ela acompanha o meu raciocínio num ato amoroso de quem acha que meu sorriso diz tudo.

05 abril 2006

:: faluas a dois

a mistura de fluidos e essências
dão forma e luminância a minha surpresa.
se minhas sombras fossem tintas,
quem iria pincelar-me o sol?
:: faluas a dois*

joana, o teu seio na minha rua
é aconchego curvelineo e risada.
priscila, meu amor, a esquina tua
cotovela a boca e não digo nada.

* uma série organizada pela natasha em que ela desenha e eu escrevo uns versinhos...
:: amigos imaginários ou quase

-- eu não sei o que o formato da tua costela pode significar. e se você me perguntar de novo, eu vou inventar alguma história.
-- então, e a minha costela?

03 abril 2006

:: tokyo´s sleeping in my polaroids



quando as luzes das ribaltas, postes, letreiros, tela gigante de pop star,
acedem como a um cigarro de dias contados, sinto sonho.
espreguiço-me em neons multicoloridos, faces quase conhecidas
de bem-vindo, olá, boa noite, até um outro dia qualquer.

por um instante, se eu fechar os olhos, a minha liberdade é impar.
na blusa pesada, os bolsos cheios de detalhes e moedas sem valor.
o sussurro dos carros transformam os meus pensamentos em sinfonia.
as lojas de conveniência são inconvenientes quando se quer beijar.

faço os meus desejos de atravessar as ruas, os carros atendem.
roupas bricoladas em mulheres de meias longas e colegiais.
as estações de trem são lugares de muitos lugares que não estou.
da paisagem que passa não sentirei saudades. das noites, sim.

meus cansaços se misturam ao dos outros que não desejam cansar-se.
é claro para alguns que o cansaço coletivo nos faz prestar atenção
nas calçadas, nos preços, nas notícias de jornal e em lamentos.
não encaro os olhos da cidade para não me justificar sisudo.

as luzes vão se apagando, o sol nascente não é vermelho.
nas caras de sono, nas bebidas invisíveis e na fé no trabalho
as pessoas tomam novamente as ruas de uma tóquio sonolenta.
ou sou eu quem sonho e sou fotografado pela cidade.