a million parachutes

for us

09 abril 2004

:: thom, o elefante

quando thom chegou a são paulo, os circos já não eram tão populares. enquanto pôde, thom foi mto bom no que sabia fazer: entreter as crianças.

os tempos se tornaram dificeis e o circo perdiu concordata. thom não quis ver o fim e se demitiu para seguir sua vida.

não havia muitos empregos para elefantes. trabalhou na construção civil, segurança e até foi office-boy. tornou-se mais um na multidão. tinha r.g., c.p.f. e cartão do barateiro. como qualquer um nessa cidade, thom tinha sonhos nas gavetas.

foram meses dificeis quando não encontrou mais trabalho. ouvia das bocas alheias histórias sobre o circo. as crianças não acreditavam que fosse real. ninguém sabia mais o que era um elefante além do que viam no cartoon network. não queriam saber de como ele se atrapalhava por causa de sua tromba. era só mais uma coisa para se esconder nos curriculum vitaes. de noite, muito só, arriscava um choro contido para que não incomodasse os vizinhos.

um certo dia, andando pela rua, reconheceu algumas músicas do antigo trabalho. na surpresa, desajeitou-se com a tromba, tropeçou e ficou estirado no meio do asfalto. as buzinas começaram, thom desesperou-se.

foi quando viu um menina de grandes olhos fitando-o. estava num ônibus que aguardava o semáforo. ela sabia quem era ele. nos olhos dela, thom viu e se reconheceu. quando o ônibus retomou seu caminho e ele pôde ver que ela voltava para sua própria tristeza, pensou, apesar das buzinas lhe atrapalharem o raciocinio, que a solidão podia ser corrompida com pequenas ousadias como olhares de conforto e que se o mundo fosse mais inventando não duvidaria que fosse ela quem lhe tivesse dado o nome de thom.