:: das gavetas
poemas com mofo. pedaços grilados. manchinhas e letras feias. memórias de outros cobertores.
_ a quinta estação
há muito gostaria de estar com você, mas não posso ficar.
a noite está chegando e preciso aliviar um pouco minha fadiga.
posso ficar uns dois minutos e meio deitado no teu colo
esperando que você me diga do modo mais sincero que me ama.
mas daí precisaria de mais duas horas e um quarto para eu fazer o mesmo,
então é melhor que eu vá.
segura um pouco meu antebraço
e finge que esqueceu de me dizer algo do nosso filho que ainda não veio.
eu espero, um pouco irritado, a sua insegurança deixar de ser um obstáculo
para ouvi-la com toda atenção. aí você se cala e diz que não é nada,
que você também precisa de um descanso para não ter tantas olheiras de manhã.
eu toco teu rosto com o lado de fora da mão, porque a palma revelaria
a minha ingratidão e a minha vontade de não perdê-la. ergo sua face
pelo queixo porque sei que assim você pegará o meu rosto me beijará com violência.
mas percebendo a minha indiferença, largar-me-ia aos poucos, olharia nos meus olhos
para procurar a razão de tanta falta, de tanto vazio. afastando até achar o espaço
para derramar suas lágrimas, sozinha e com medo de não ter achado a pessoa certa.
pensando que está sofrendo e perdendo a juventude.
eu, por minha vez, alisaria seu cabelo e diria que está tudo bem,
que sou assim mesmo. que lhe daria um filho ou dois. que o meu fraco é o beijo.
e que te amo.
(de mariana.blues | 1999)
poemas com mofo. pedaços grilados. manchinhas e letras feias. memórias de outros cobertores.
_ a quinta estação
há muito gostaria de estar com você, mas não posso ficar.
a noite está chegando e preciso aliviar um pouco minha fadiga.
posso ficar uns dois minutos e meio deitado no teu colo
esperando que você me diga do modo mais sincero que me ama.
mas daí precisaria de mais duas horas e um quarto para eu fazer o mesmo,
então é melhor que eu vá.
segura um pouco meu antebraço
e finge que esqueceu de me dizer algo do nosso filho que ainda não veio.
eu espero, um pouco irritado, a sua insegurança deixar de ser um obstáculo
para ouvi-la com toda atenção. aí você se cala e diz que não é nada,
que você também precisa de um descanso para não ter tantas olheiras de manhã.
eu toco teu rosto com o lado de fora da mão, porque a palma revelaria
a minha ingratidão e a minha vontade de não perdê-la. ergo sua face
pelo queixo porque sei que assim você pegará o meu rosto me beijará com violência.
mas percebendo a minha indiferença, largar-me-ia aos poucos, olharia nos meus olhos
para procurar a razão de tanta falta, de tanto vazio. afastando até achar o espaço
para derramar suas lágrimas, sozinha e com medo de não ter achado a pessoa certa.
pensando que está sofrendo e perdendo a juventude.
eu, por minha vez, alisaria seu cabelo e diria que está tudo bem,
que sou assim mesmo. que lhe daria um filho ou dois. que o meu fraco é o beijo.
e que te amo.
(de mariana.blues | 1999)
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