:: time.machine.chronicles _ o baixo astral
aconteceu que peguei o mesmo ônibus que heloísa ururahy para voltar para casa.
é uma pessoa extramente difícil apesar de muito amável. naquela semana havia perdido uma pasta que estimava muito. desencontrou-a. estava cabisbaixa, talvez pensando em artíficios para reavê-la, talvez imaginando como havia acontecido.
eu carregava um livro emprestado pela mari zanotto, o livro dos abraços de eduardo galeano. resolvi mostrar a heloisa as figuras já que não tenho capacidade de entretê-la. não tendo muito efeito, resolvi ler a esmo uma das crônicas do livro:
"o baixo astral"
"enquanto dura o baixo astral, perco tudo. as coisas caem dos meus bolsos e da minha memória: perco chaves, canetas, dinheiro, documentos, nomes, caras, palavras. eu não sei se será mal olhado. pura casualidade, mas às vezes a depressão demora em ir embora e eu ando de perda e perda, perco o que encontro, não encontro o que busco, e sinto medo de que numa dessas distrações acabe deixando a vida cair".
eu fiquei pasmo com a coincidência, ela riu com substância como se fosse uma peça.
silenciei-me. como explicar a ela que a vida são esses encontros e desencontros com as coisas se até as coisas tem seu próprio modo de silenciar?
aconteceu que peguei o mesmo ônibus que heloísa ururahy para voltar para casa.
é uma pessoa extramente difícil apesar de muito amável. naquela semana havia perdido uma pasta que estimava muito. desencontrou-a. estava cabisbaixa, talvez pensando em artíficios para reavê-la, talvez imaginando como havia acontecido.
eu carregava um livro emprestado pela mari zanotto, o livro dos abraços de eduardo galeano. resolvi mostrar a heloisa as figuras já que não tenho capacidade de entretê-la. não tendo muito efeito, resolvi ler a esmo uma das crônicas do livro:
"o baixo astral"
"enquanto dura o baixo astral, perco tudo. as coisas caem dos meus bolsos e da minha memória: perco chaves, canetas, dinheiro, documentos, nomes, caras, palavras. eu não sei se será mal olhado. pura casualidade, mas às vezes a depressão demora em ir embora e eu ando de perda e perda, perco o que encontro, não encontro o que busco, e sinto medo de que numa dessas distrações acabe deixando a vida cair".
eu fiquei pasmo com a coincidência, ela riu com substância como se fosse uma peça.
silenciei-me. como explicar a ela que a vida são esses encontros e desencontros com as coisas se até as coisas tem seu próprio modo de silenciar?
<< Página inicial