a million parachutes

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29 abril 2006

:: o homem

no banco da praça, há um velho que me enganou o conceito de velho. desde que o conheço, sempre foi um velho. aprendi o que era o velho, mas o homem do banco da praça não me disse o que era envelhecer. ele sim, viu-me passar os anos na pele, nos cabelos, nas pessoas que fui. ele não envelheceu e cristalizou o seu próprio termo.

contou-me há pouco tempo sobre sua mulher. sobre suas mulheres. não a conheci, não imaginei que pudesse ter sido casado. sempre o vi por aí sendo educado com as mulheres. chama-se samantha e confessou que não fora a mais amada. citou duas ou três histórias muito mais bonitas que me fizeram esquecer o nome de sua mulher. "samantha", retomou. contou-me que embora não tenha sido a mais amada, foi quem mais o amou. e quando o homem percebeu este fato, parou de envelhecer.

"amar alguém", disse, "é um jeito torto de oferecer eternidade".

acenei enquanto ia pegar o meu ônibus para o centro. o homem respondeu com simpatia, movimentando o chapéu e manipulando o tempo das coisas.