a million parachutes

for us

11 junho 2004

ana,

não sei quando lerá esta carta, talvez nem seja lida com a tranqüilidade que imagino. já faz algum tempo que não lhe escrevo sim, mas é porque não vem algo mais interessante para contar, você deve ter suas aventuras, as minhas deixam a desejar. são golpes com os quais acostumo, embora digam para não. o meu humor anda de avesso, rio das coisas que deveria sentir tristeza. choro de alegrias dispersas. ando perdendo as esperanças de que meu passado me diga o que fazer. o futuro é atraente. o presente só me reforça a idéia de que o presente talvez não exista.

faço anos daqui a alguns dias. terei os mesmos que você. só vai me faltar a sabedoria e talento. o sorriso eu pratico. as suas palavras me fazem bem. sei que não as escreve por isso, mas achei importante dizer. resolvi abandonar a velha escola e pedir revisão de notas. devo me dedicar às ciências e artes que tanto deixei de lado. espero não cometer os mesmos erros. mas não ignoro a possibilidade de ter as mesmas febres. agora sei dos remédios.

sinto saudades, querida ana. ando perdendo a noção do tempo. enquanto o relógio caminha reto e decidido, eu entorto a linha tentando resgatar e projetar nuancias sentimentais. sinto saudades, querida ana, sinto. às vezes me pego relendo algum verso seu ou lembrando de idéias que cultivou, assim, enquanto ando pela cidade. a vida das pessoas está mudando. a minha nem tanto. decidi morrer alguns dias atrás. marquei para daqui há 65 anos. já terão inventado as viagens interplanetárias e os nanorobos. vai dar tempo também de ver os bisnetos dos amigos, desejo que me ocorreu algumas horas da minha decisão. sinto saudades.

mande-me notícias. não se afaste tanto assim.

márcio

p.s. alikan tem um jeito estranho de perguntar por você.