a million parachutes

for us

30 março 2006

:: invisible tereza soundtrack #01*


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>>>vanessa from queens _ stephen malknus

* trilha sonora imaginária de um filme imaginário.

29 março 2006

:: quando eu era longe*

eu gosto do modo com que você usa o azul das meias
para transbordar das sombras e dobras da pele alguma esperança.

é intrigante e desvairado escrever a partir de memórias
um panorama de inquietações e cores que substituam o humor.

preparo uma plataforma para que você salte e plane
ao gosto dos ventos, das ventanias e desvarios.

mas você fica do lado da pista pendurando
suas roupas, suas peles e suas memórias escritas.

* o título é de anna paula bogaciovas

27 março 2006

:: faluas

_ para meninapatchwork (natasha)

não é minha lágrima que cai, mas é o meu sal.
lábios secos não falam a alma que é minha nação.
que meus poucos contos tragam sorrisos para portugal.
e que as faluas levem estas tristezas do meu coração.

26 março 2006

:: amigos imaginários ou quase

-- você abraça como mulherzinha.
-- é?
-- dói.

24 março 2006

:: parachutes.tv_beloved : abraço



é um piloto. há muito abandonado. mas que ando pensando em retomar... a partir da obra de roland barthes.
:: parachutes.tv _ domingo

23 março 2006

:: adeus

meu adeus é um vaso novo
que coloco na janela da amargura
esperando que algum sopro
lhe faça valer as rachaduras.
:: amigos imaginários ou nem tanto

não dê chinelos a seu cão. ele pode querer calçá-los.

22 março 2006

:: vanessa

vanessa desliza pelas ruas numa prancha feita de saudade.
flutua sobre o chão alguns centímetros desconfiados.
o magnetismo difícil de sua matéria e o solo.
e as roupas para esse dança são vestidos acomodados
na linha e frescor do seu corpo de bailarina.

e o que há entre o tecido e sua pele
é o que vanessa chama de amor para se dar.

21 março 2006

:: partimpim



ando ouvindo muito esse disco da adriana calcanhoto. não sou muito fã da cantora (muito mais por ignorância do que por gosto), mas esse disco me surpreendeu.

a cantora elegeu um playlist ótimo, com nomes consagrados como chico buarque e edu lobo ao lado de gente nova como domenico. mas a sacada do disco é a linha guia que permeia o disco, o conceito como diriam alguns. partimpim é uma personagem, um heterônimo na qual se veste a cantora para atingir, a principio, o mundo lúdico das crianças. até aí você pode pensar que é um disco infantil. mas essa precipitação pode tirar a genialidade desse trabalho.

o primeiro acerto é que partimpim não é uma criança, mas alguém que conversa com uma. não se pode subestimar a inteligência delas. e essa sinceridade torna o disco da adriana calcanhotto de uma sensibilidade imensa. o segundo acerto foi o repertório moderno, nada de cantigas do tempo da vó. hoje as crianças são outras, ouvem de tudo que passa na rádio e na tv. a cantora todavia não cai na fácil atração. ela é doce.

o terceiro acerto é que a as crianças para quem adriana calcanhotto canta não são apenas aquelas que não desenvolveram seus joelhos ou que possuam os leites da dentição. a cantora fala com pedaços de criança, com resquicios, com tudo que a gente vai deixando para trás na direção quase inevitável do adulto.

e por último, considero o disco um dos mais filosóficos que já ouvi. não no sentido acadêmico do termo. mas como visão de mundo. há tantas perguntas nesse disco quanto observações inusitadas. esse disco não dá vontade (ou nostalgia) de querer ser criança de novo. é um exercício para a criança que nunca deixamos de ser.

canção da bailarina


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16 março 2006

:: cozinha

se você dilacerar o meu coração,
não ralo seu queijo e não faço seu macarrão.
se você me trocar por outro,
eu volto para a velha marca do café.

é mais barato.
e antes de você perguntar:
é mais gostoso.

:: faz assim

por mais que você exceda no açúcar,
e que corra momentos antes do sinal fechar,
mesmo que controle a velocidade do sol,
baby, por que não me deixar amar?

você faz colidir nuvens impróprias
e desbotoa as saias e linguajar.
ameça dar para outra pessoa.
baby, por que não me amar?

camiseta rasgada, chocolate pela metade, pequena garrafa de vodka.
binóculo e santo protetor. bilhete com minha letra falsificada.

por mais que você não se importe comigo,
e diz que há outras meninas melhores por aí.
mesmo que você comprometa minhas contas.
baby, por que me economizar?

você obtura noite e enaltece o dia,
faz desdém dos meus livros e discos.
deixa meu celular no silencioso.
baby, por que deixar de me amar?

poema em extrato de banco, lápis de cor em ordem alfabética, filme gravado da tevê.
um desenho para o meu cabelo e o baby baby baby, não sei se amo.

14 março 2006

:: tanta notícia

como acreditar nos jornais
se eles mesmos não relatam
de novas cores das rosas da calçada?
:: fotografia

as dobras no papel fotográfico dão profundida ao que era apenas plano.
:: de jesus

eu gostava tanto da tereza
que doía minha tristeza.

10 março 2006

:: figo

a felicidade tem seus fiapos de manga assim como a tristeza forma sementes consistentes.
:: dinâmica

o braço dela faz contrapeso no meu enquanto aprendo de novo a me reequilibrar.

09 março 2006

:: pela manhã

quando acordo
e olho minha minhas mãos,
penso: essas mãos não são minhas.

depois tomo um banho,
preparo café forte,
leio o jornal,
confiro emails,
escrevo uma ou duas linhas,
faço algumas ligações,
volto sem querer às minhas mãos:
acho que já vi essas mãos antes...
:: duas estações

você tem os olhos enroseados,
os lábios úmidos de suco,
e os cílios mais penteados que os cabelos.

e seu rosto tomba em qualquer mão que lhe dá afago
como se tirasse uma das pontas de sua mesa triangular.
você diz que não gosta muito de meninos maus
e através da falta de botão mediano de sua camisa
eu confirmo a cor de seu sutiã.

eu te ajudo a descer as escadas do metrô
porque você correu para pegar o trem,
tropeçou,
e machucou o tornozelo de sua juventude.

não importa a rapidez com que chegam
você sempre acha que estão atrasados.

não exagere na acentuação do final das palavras
que me confunde a intenção-assovio.
o trem não vai parar se você fizer sinal,
nem se cantar uma canção, nem se fizer uma lágrima,
nem se articular os lábios e desejar o bem do maquinista.

o trem pára.
e eu te ajudo a entrar, sou um menino bom.
fecho sua camisa com clips
e toco seu rosto com a palma para fora.
só para você tombar a cabeça
e eu poder ver melhor seus olhos mudando de cor.

07 março 2006

:: noturno

é uma noite quente e silenciosa.
ouço a minha cachorra beber água.
há em sua sede um movimento deslocado
que interrompe a suavidade da noite

o barulho encerra com a rapidez de uma chama.
o seu passo é silencioso,
quase não ouço.

ela também sabe
que a noite pertence aos silêncios.
mas a sede...
a sede não deixa de queimar por noite qualquer.

03 março 2006

:: love

você tem um jeito menina de falar as angústias velhas. seus olhos brilham vidas. e tem o frescor de quem começa a trilhar uma estrada que conhece os detalhes. você guardaria o mundo no seu coração se não tivesse a prerrogativa de que o mundo deveria lhe abrigar. você não sabe de muita coisa sobre mim. e eu quase nada de você. mas se você me ajudar nos meus intentos, posso te dizer o que sei sobre como falar mulher as boas felicidades das coisas novas.

01 março 2006

:: quarta-feira de cinzas

não é que eu não vá embora. eu não tenho para onde ir. já pensei em ir para o mundo -- penso ainda -- mas o mundo nem liga para essas minhas vontades. eu sempre falo de liberdade, mas eu só falo daquelas que não tenho. mesmo quando falo que tenho, é mentira. quase nunca falo das liberdades que tenho porque estaria dizendo verdades. falo às vezes das liberdades verdadeiras para realçar o quanto mentirosas são as liberdades das quais falo. sim, sim. eu não tenho para onde ir. e isso é uma grande mentira.

eu passei o carnaval inteiro mentindo para mim mesmo. não usei nenhuma máscara e para ser quem eu sou. não acredito nas máscaras de nós mesmos. o que há atrás de uma máscara? outra. somos camadas encobrindo algo que não sei se chamo de razão ou sensibilidade. quando um confete aterrisa no meu braço, eu assimilo. transforma-se na minha pele. sou a soma de retalhos. a soma de pontos de vistas. acreditar no eu é uma questão de liberdades. e desconfio de algumas liberdades.

a minha vida é um eterno festejo. todas as minhas sensações e idéias são embaralhadas e se carnavalizam para acabar nas quartas-feiras de cinzas. há muito mais quartas-feiras do que se aparenta. é meu feriado preferido, as cinzas. as cinzas se desintegram, tornam-se invisíveis, voam com o vento, acumulam-se na pele alheia e desafiam o conceito do um e do eu. na quarta-feira, nos desintegramos e podemos recomeçar.

e vou embora, não sabendo o que é verdade e o que é mentira. achando que essa sujeira na minha pele é um recomeço alheio e que, na aventura do eu, pode ser o meu.