os dedos ainda não servem para contar. por eles as temperaturas anunciam um colapso. alice atravessa as paredes, em suas falangetas as rachaduras são ensaios.
3.
alice, como fazer rabo de cavalo com tão poucos cabelos?
não é que tenha desistido de você. a questão é que nunca houve algo por que lutar. desisti apenas de um desejo de amor recícropo. com o tempo, tenho percebi que a luta vã é comigo mesmo. e não importa muito quem ganha ou perde ou se na próxima estação você estará comigo.
o que me importa é que o caminho esteja cheio de desejos e amores, de desejo de amores, de amores. quero chegar. chego.
eu me movo entre suas pernas; meus olhos se secam a tua falta de ar. meus olhos cortados nos teus ombros horizontais. teus olhos se perdendo nas peles. caminho na neblina mas não me perco.
um som: acelero. um suspiro, rebito. os teus dedos esmagam o meu braço; os teus pensamentos entortam os meus. a minha sobrancelha arqueia sem surpresa a tua pele é um gatilho.
alice nem nasceu e é a menina mais bonita do hemisfério. ela é meio pessoa e meio sugestão. - vais ser poetisa! - a sua!
alice consegue se finger de ausente, mas seus ouvidos supersônicos já perceberam a música do silêncio das notas graves. - samba alice! no surdo do coração! - bum! bum! bum!
alice cacofônica desenha na espuma da placenta o abstrato que representa seus pensamentos. - não presta atenção na metalinguagem! - o gosto de língua é de verdade.
alice percebeu a variação de temperatura na sua barriga. na abóboda, ela se encontrou em astrolábios e umbigos. - uma sugestão? não esqueça do pessoa. - eu gesto minha mãe para ser mãe.
há tantas histórias por aí. gostaria de contar algumas delas. não porque são felizes e bonitas ou porque são trágicas e desesperadas. mas porque são histórias boas de serem ouvidas.
e fazem lembrar. e fazem imaginar que a solidão pode ser apenas narrativa.
a gente sonhava com mundos precisos, com políticas e regras próprias, cheias de justiças e amor. hoje não passamos de pedras impedindo que nos passem as várias águas que nos chegam em chuvas, enchurradas ou rios. não passamos de amores correspondidos com assinaturas e boletos bancários. não passamos de avisos de meditação que se impeça a loucura.
você me convidava para entrar e eu entrava. hoje não passamos de portas.
foi mais ou menos na época em que os mp3 players se lembravam de muitas músicas e que os ouvintes só queriam as mesmas. alberta comprou um que lhe cabia o bolso. saía pela cidade ouvindo as pessoas cantarem as canções que ela escolhera. que bonito era ver as pessoas falarem de amor tão fácil pelas bocas, gestos e caos.
então encontrou um homem que não cantava. procurou no seu mp3 player alguma música que lhe coubesse, mas o homem não entrava no ritmo. foi quando percebeu que era ele quem anunciava as músicas, o locutor. de repente perdeu o poder sobre seu aparelho e deixou a revelia as escolhas.
e aquele som quase inaudivel do peito se tornou as vinhetas de passagem.
o arco que faz o céu em auroras como estas fazem você parecer menos linear do que parece. por um instante me foco em seus lábios pintados de azul e imagino milhares de paráquedas chegando em solo, multicoloridos e cheio de mensagens de longe.
além do azul há estrelas. na madrugada desfragmentada não somos estrelas fugindo de supernovas e pousando em terra.