a million parachutes

for us

26 dezembro 2003

:: timemachine box

fotos novas para caixas velhas de sapatos. evitava colocar datas nas fotos para preservar a imagem, mas agora essa informação me faz falta. há muitas imagens e lembranças e pouco contexto. é um aprendizado: datar o que pensávamos ser atemporal. os anos passam, o amor passa.

penso em comprar caixas mais adequadas a essa tarefa de manutenção do envelhecimento. no avesso das fotos novos vão além da data, o lugar e anotações a mais como diálogos ou pensamentos. troco a minha memória pela memória das fotos. faço com resignação, não amarei tanto a ponto de lembrar tudo.

encontro, então, essa foto. era uma pessoa que me foi próxima por um curto espaço de tempo. não me lembro do seu nome. me foi próxima e não lembro o nome. fico constrangido. provavelmente, quando tirei a foto achei que não era necessário que lembrasse, afinal, era muito viva. lembro-me dessa vivência. revisitando essa foto, emociona-me o seu cabelo e sua sobrancelha e me sinto feliz ao lembrar que era a sobrancelha e o cabelo que me chamaram a atenção pela primeira vez.

talvez a tivesse amado. quem se lembrava do amor naqueles tempos difíceis? penso se ela se lembraria de mim se também tivesse ela o hábito de escrever datas e outras informações nas fotos.

na certa, ela deveria ter uma dessas timemachine box, mas não tenho anotação alguma se ela tinha uma câmera.