a million parachutes

for us

24 dezembro 2003



ana,

fez tantas chuvas por aqui e tanto frio no coração que não pude responder a sua carta. mas de madrugada perceb quei algo vinha da suavidade da noite. pensei que era a cor e o cheiro de algo que lhe doía. me ocorreu responder, desenhar ideogramas que vc pudesse inventar, falava com estrelas.

tive medo por um tempo de que não pudesse dizer da melhor forma possível. esse temor de ser entendido ou bem amado. dicionários e livros de versos não ajudam. as caixas de presente não possuem a vedação suficiente para nos dar segurança. não temos segurança de muita coisa e disso tenho medo também.

não vou pedi-la em casamento, mas vou lhe dar uma flor. uma dessas que mudam de cor conforme a umidade, quiça tristeza. se forem muitas, é trabalhoso. se for nenhuma, é falta.

a casa negligenciada ainda é uma casa. o jardim ainda possui sementes, embora os pássaros. pensei em fazer um lago, com peixes e vitória-régias. o verão e o inverno podem nos castigar, mas todo resto só podem nos ser convivas. podemos ter canções e amigos em comum.

não fique triste. se não há musa, há ainda os desenhos animados. saindo daqui, vou procurar os outros episódios do snoopy. falaram-me de alexandria e da biblioteca de nova iorque. mando-lhe cópias assim que as tiver. se a tristeza apertar, aperte alguém. assista sitcoms. leia livros e os horóscopo dos jornais. tire fotos, grave cd?s. aprenda a desenhar e cante.

cante muito. e ana, se estiver acordada me acorde.