a million parachutes

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26 dezembro 2003

:: algum natal

penso que deveria estar com um conhaque ou vinho na minha mão enquanto lembro de outros natais, dias que poderiam se assemelhar a natais como quando fui supreendido por amigos com presentes e saudações. era uma despedida. ouço com teimosia "summertime" em versões diversas tentando encontrar o ponto de inflexão que faz dessas uma das canções mais tristes e mais esperançosas que já ouvi. é como acho que o natal deveria ser. penso nos olhos cansados, pedindo apenas descanso. nada de dinheiro, amor ou felicidade. apenas descanso.

e revejo todos os filmes próprios dessa época. torço para que lembrem do capra e seu "a felicidade não se compra". há uma cena que me emociona toda vez que revejo: o protagonista quando pequeno perde a audição de um dos ouvidos. a menina que é apaixonada por ele sussurra em seu ouvido surdo que o ama. ele não ouve ou ouve e não percebe, não reconhece, não tem consciência. os outros filmes não tem essa surdez e esse golpe sujo. e a maioria tem cores, a "felicidade", não.

é uma época que muitos não suportam. é um monte de amor acumulado sendo desenfreadamente expelido e explicitamente. me incomodo com tanta gratuidade e o uso comercial dessa fraqueza forte dos homens. mas com esse vinho imaginário penso que talvez seja necessário. vivemos um tempo de amores arrebatadores, quase não há lugar para esses mais singelos, tímidos e contidos. esses de lágrimas e não de choradeiras. ou tempos sem nenhum amor. tempos de discursos amorosos sem fundamentos. amor por falar. amor por amor. amor sem quem amar. amor sem que nos ame.

imagino quais são minhas faltas e meus exageros. e quando desejo um feliz natal é como desejasse apenas um bom descanso das faltas e dos exageros.