a million parachutes

for us

20 janeiro 2004

:: bus stop

na periferia da cidade, os pontos de ônibus não são como os do centro. normalmente não há bancos, nem teto para abrigar da chuva. às vezes, há somente um acordo entre motoristas e passageiros. marcela sempre andou de ônibus e quando a prefeitura instalou um ponto em frente a sua casa, alegrou-se pela comodidade que lhe é oferecida. na parede da casa, mandou fazer um banco de madeira que fez questão de colocar verniz.

o bairro adotou a idéia e cada um se responsabilizou por um ponto. havia vários e cada um com sua própria personalidade. o seu josé da floricultura enfeitava com vazinhos e algumas samambaias. o ozaki da banca de jornais pendurava as primeiras páginas. dona josefa pintou todo o ponto de amarelo. e as irmãs madeixas publicavam seus sonetos no ponto perto da biblioteca. o bairro ficou conhecido pelos seus pontos. apareceram até no noticiario local. marcela sentia um certo orgulho apesar do seu pionerismo ter se perdido entre tanta agitação e notícias.

um dia, desceu um homem charmoso que viu marcela cuidando do ponto. e muitas vezes ele desceu naquele ponto para revê-la. começaram a namorar. um dia ele confesso que havia descido no ponto errado e errou todos os outros dias de propósito porque era um acerto. ficaram juntos por dois anos e nesse meio tempo ela sempre o viu ir embora pegando o ônibus, sentada no banco que mandou construir. ficava assim algum tempo ainda até que ele se perdesse no horizonte.

mas o amor acaba. quando acertaram a separação, marcela o viu saindo pelo portão. o ônibus do homem passou, ele não fez sinal. olhou mais uma vez para marcela e tomou direção do ponto certo.