a million parachutes

for us

21 janeiro 2004



ana,

são esses dias oscilantes de chuva e sol que afetam o humor. pensei em comprar cremes para as mãos que vão ficando secas e maltratadas. evito tocar meu rosto para não chegar a conclusão que precisará também de cremes. meus cabelos são fáceis, livro-me deles como quem ouve uma música para afugentar a tristeza.

nem sei muito o que dizer sobre esse vazio. provavelmente é um dia qualquer entre semanas ensolaradas ou chuvosas. quando não venta não podemos empinar pipas e não há quem nos leve. há momentos em que acredito muito que não há sentido, que não tem porque mover pedras e represar rios. a gente muda as direções, às vezes, sem muito bem saber o porquê.

se a gente não sabe, a gente inventa. tenho uma amiga, por exemplo, que para hidratar o rosto, faz de uma das mãos uma cunha onde derrama um pouco de água, a outra mão molha um pouco os dedos e espicha água contra o rosto. não sei se funciona direito, mas olhando para esse gesto singelo, me refresco naturalmente a alma.

pode ser também a impressão de vida pétrea que nos sentir vazio. ou pode ser também a nossa propensão a subversão que nos faz questionar - negar muitas vezes - o que está realmente acontecendo conosco. ou talvez seja fome. ou vontade de estar apaixonado. ou algum medo pequeno que não detêm, mas nos atrapalha. ou falta de uma vida mais achocolatada.

ou dias quentes demais, demasiadamente chuvosos. ou talvez não seja nada disso.