a million parachutes

for us

03 maio 2006

:: faluas a dois

papai contava-me sobre os sólidos, os líquidos e os gasosos, sobre como as transformações não alteram os átomos, e que tipo de átomo papai gostaria de ser (um amarelo com forma de ovo).

mamãe desconfiava dos jornais da televisão e só acreditava nos programas de receita. mandou tantas cartas para as emissoras com inúmeras receitas. uma mulher procurou-me anos mais tarde para entregar uma cópia de caderno em que estavam guardadas todas as receitas enviadas. e disse-me que a produção dos programas não acreditava nelas, mas a dona do caderno, sim.

minha tia verônica nunca teve muita sorte na vida. ousou empresas que não vingaram. fez doces, panos de prato, planta de apreciação, chás, cosméticos e pneus para carrinhos de bebê. em sua última carta, tia verônica anunciava a volta triunfal dos astrolábios.

eu aprendi a desenhar copiando no papel as coisas que minha familia contava-me. desenhei átomos, receitas e empresas. minha família chama isto de talento. eu, gratidão.