a million parachutes

for us

20 outubro 2004

:: escrita revisitada

sua escrita amorosa, em minha pele, é alfabeto sem vogais.
abre espaço entre pêlos grossos e disformes.
faz tensão e corrompe a fome, virilha, a barriga.
toco sua nuca, é um sim. segura meus cabelos, é um não.
é um código secreto e diz respeito ao nosso tato.
com a ponta dos dedos me revela tua libido,
com a palma, a presença.

a cicatriz escondido nas minhas sobrancelhas grossas,
você repara e inventa histórias sobre guerras.
o seu seio torto, eu refaço em movimentos ainda mais tortos,
quero lhe dizer que leio e escrevo.
para você, não há significado que ultrapasse a pele.

onde você está além da fluidez dos líquidos? pergunto.
por que tanto pêlo? por que tanta paciência? retruca.
caminho para transbordar, mas te perco.
grita para que compartilhemos, me procura.

percebe então que nos meus olhos puxados nos desencontramos.
me beija. não foi bom. sou desajeitado. me beija de novo
como se nossa língua fosse a saliva espera de um significado comum.
e no beijo digo que não sei lhe escrever.