:: summertime
acordo. estou acordado. um pouco de sono.
tenho impressão de ter sonhado,
tenho essa impressão durante o dia.
a cama amolece os meus cuidados com os carros,
nunca fui atropelado enquanto estava em casa.
o mundo corre em vias de alta velocidade,
mas eu não preciso ser tão rápido.
estou com sono. estou acordado.
ouço a televisão ligada, alguns pássaros,
sinto falta do barulho das árvores,
da janela vem uma luz cheirosa e tensa,
o mundo lá fora pede, exige, aconselha.
quero chorar um pouco, encurtar a pilha de livros.
ninguém mais me escreve mandando notícias,
não falam se vão bem, se o trabalho é bom,
se impregnaravam a vida ou foram impregnados.
a superfície da cama sussurra: vá, é preciso.
sentindo caimbras e soluçando, levanto-me.
há na casa cores com as quais não estou acostumado,
nunca me acostumei.
o celular está quase sem bateria,
há uma centena de telefones em sua agenda,
e nada que diga que alguém ligará.
tenho um momento delicado com a toalha do banheiro,
divido o cheiro bom da pasta de dente.
sabonetes vão me fazer feliz, roupas limpas me farão.
sempre quando fecho o banheiro deixo alguém para trás.
passo um café. as mesmas medidas de minha mãe.
o açúcar refinado. torradas e queijo. manteiga são reinventadas,
e novos tamanhos de frutas e nomes chamam a atenção.
volta a vontade de chorar, um pouco. perco a fome.
mas como pela necessidade. preciso me resguardar.
volto para o quarto. a luz já é outra. nas paredes, fotos.
na estante, lápis e caneta. folhas usadas e coloridas.
tenho vontade de levar. anotar coisas. é meu jeito torto.
separo o dinheiro do ônibus e determino na cabeça
o meu itinerário. todo o meu itinerário. inclusive a volta.
respiro fundo. meu coração está pesado. e a cabeça reclama.
em alguns segundos guardados, pensa em dias melhores.
pensa em como acostumou fácil a dor. e abstrai perdas.
lembra-se de amigos queridos e algumas frases certeiras.
abro a porta, dirijo-me ao portão. o sol aquece um lado do rosto.
então percebo o quanto o outro está frio.
fico feliz de ter as mãos sempre quentes. uma característica.
coloco o discman e começo a atravessar o dia:
e ele está lá, o dia, esperando que o atravesse.
acordo. estou acordado. um pouco de sono.
tenho impressão de ter sonhado,
tenho essa impressão durante o dia.
a cama amolece os meus cuidados com os carros,
nunca fui atropelado enquanto estava em casa.
o mundo corre em vias de alta velocidade,
mas eu não preciso ser tão rápido.
estou com sono. estou acordado.
ouço a televisão ligada, alguns pássaros,
sinto falta do barulho das árvores,
da janela vem uma luz cheirosa e tensa,
o mundo lá fora pede, exige, aconselha.
quero chorar um pouco, encurtar a pilha de livros.
ninguém mais me escreve mandando notícias,
não falam se vão bem, se o trabalho é bom,
se impregnaravam a vida ou foram impregnados.
a superfície da cama sussurra: vá, é preciso.
sentindo caimbras e soluçando, levanto-me.
há na casa cores com as quais não estou acostumado,
nunca me acostumei.
o celular está quase sem bateria,
há uma centena de telefones em sua agenda,
e nada que diga que alguém ligará.
tenho um momento delicado com a toalha do banheiro,
divido o cheiro bom da pasta de dente.
sabonetes vão me fazer feliz, roupas limpas me farão.
sempre quando fecho o banheiro deixo alguém para trás.
passo um café. as mesmas medidas de minha mãe.
o açúcar refinado. torradas e queijo. manteiga são reinventadas,
e novos tamanhos de frutas e nomes chamam a atenção.
volta a vontade de chorar, um pouco. perco a fome.
mas como pela necessidade. preciso me resguardar.
volto para o quarto. a luz já é outra. nas paredes, fotos.
na estante, lápis e caneta. folhas usadas e coloridas.
tenho vontade de levar. anotar coisas. é meu jeito torto.
separo o dinheiro do ônibus e determino na cabeça
o meu itinerário. todo o meu itinerário. inclusive a volta.
respiro fundo. meu coração está pesado. e a cabeça reclama.
em alguns segundos guardados, pensa em dias melhores.
pensa em como acostumou fácil a dor. e abstrai perdas.
lembra-se de amigos queridos e algumas frases certeiras.
abro a porta, dirijo-me ao portão. o sol aquece um lado do rosto.
então percebo o quanto o outro está frio.
fico feliz de ter as mãos sempre quentes. uma característica.
coloco o discman e começo a atravessar o dia:
e ele está lá, o dia, esperando que o atravesse.
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