a million parachutes

for us

17 outubro 2004

são dezenas. chamam a atenção as asas. seus olhos estão perdidos no infinito, sempre quis ter olhos perdidos no infinito. os ombros são largos, sustentam as asas. tem joelhos delicados, mas os pés marcados, sujos. os cabelos são variados. penso se eles sonham também, se tem pesadelos. se olham um para o outro com algum sentimento. penso se se irritam, se frustram, se são propensos a tristeza. talvez se divirtam saltando de alturas inimagináveis ou talvez não saibam o que é altura. talvez conheçam a dor, mas um outro tipo. talvez mais dilacerante que a que costumos sentir no dia-a-dia. mas talvez, como nós, estejam acostumados às suas próprias dores.

os dedos são longos. mas são desajeitados. talvez toquem piano ou algum instrumento outro. devem conhecer a música divina, mas acho que nunca ouviram o blues ou o samba. eles tem outra velocidade, outro tempo. talvez porque a vida que lhe competem exija outro ritmo. eles me escutam, mas nunca estou preparado para lhes falar. não sei o que falar. não sei se quero e tenho medo que desistam algum dia de me ouvir. não quero lhes fazer pedido, mas devo impregnar a minha fala com sugestões. não suspeito que tenham algo a dizer que eu não saiba. não os quero como amigos. mas talvez tenha mais simpatia por um ou outro. não me fará mal convidar para um café com muffins. acho que nunca provaram de um café bom. posso mostrar como o sabor do chocolate é ressaltado com um café um pouco mais amargo, mas acho que nunca provaram chocolates. são muito inexperientes. ou talvez saibam demais da maneira mais empirica possível.

eles suspeitam. quero que me levem. não quero ter asas, isso não. não sabia acomodá-las em mim como não sei acomodar muitas coisas. e teria que aprender a utilizá-las, mas não quero ir para muito longe. quero só ganhar alguma altura e talvez sentir leveza. os problemas eu deixo para trás, perto do chão. ali, perto de algum poste ou em caixas já prontas para serem levadas. não tenho medo de céus nublados, nem da noite. torço até que se faça orvalho, não precisa ser chuva. e se alguém perguntar por mim, diga que fui ali pagar um café para novos amigos que acabarão se tornando.