a million parachutes

for us

16 fevereiro 2004

:: um dia

um dia vou ter pernas mais compridas para poder alçar vôos com asas brilhantes que também terei. vou ter uma boa conversa, muito agradável e cheia de artimanhas. as pessoas irão rir das minhas piadas e se comoverão com minhas histórias. vou ter um sorriso cativante e menos medo de dizer coisas que são importantes para serem ditas. vou usar roupas mais de acordo com o que penso e saberei mais sobre jazz e música erudita. vou ter lido menos clássicos e mais gente que está viva. vou compreender o porque de tanta falta e saberei acudir com destreza as pessoas que procuram.

vou retribuir em bom tom todas essas pessoas que me amam torto, quase sem sentido. vou escrever para eles, não precisarei fazer por mim. vou escrever roteiros lindos de histórias extraordinárias que terão base nas observações que fiz das coisas ao meu redor. vou falar dos sucessos e frustrações e de como se perde ou mantêm a esperança. vou comentar o quanto as pessoas que conheço acham que estarão melhores porque deixaram ressentimentos e mágoas para trás. eu mesmo terei menos medo.

um dia vou escrever versos menores e mais tensos. uma poesia concentrada e sábia. vou compor sambas e baladas pops que dirão a quem amo o quanto. vou ter de volta amigos que se afastaram e novos ainda mais diferentes de mim. vou conversar sobre futilidades sem ter a culpa de ser omisso. minha mão vai tremer menos e minha cabeça vai lembrar mais. vou me desfazer de todas as caixas e fazer novas. vou passar mais o tempo alegre que triste ou indiferente.

um dia, desses qualquer, vou sentar na areia da praia e chorar porque você me dirá de uma forma tão amável que esse dia chegará que eu terei que rever minha certeza do contrário.