a million parachutes

for us

14 fevereiro 2004

:: clara

o que se passa na cabeça da mulher que espera? sentada na mesa do canto, estrategicamente contida mas podendo ver a janela e todo o estabelecimento. segura um café em copo de isopor para que não perdesse o calor. para que não perdesse o calor.

o casaco mostarda, os ombros para dentro. só os olhos estão a vista e eles são só para quem ela espera. orvalho falso sobre as bordas do copo. marcas úmidas sobre a mesa. o garçom vem limpar, ela impede. quer que deixe como está. que a deixa em paz. já deve estar atrasado porque no salão o som dos ponteiros são mais altos do que os passos dos fregueses. os lábios tensos nos causam comoção. ela tenta sorrir, mas não tem para quem. mas não tem para quem.

do lado de fora da janela as pessoas chegam. as pessoas vão. o tempo é ameno, mas espera-se chuva. ela torce para que não tenha, não trouxe guarda-chuva. mas trouxe esse casaco para o frio. ele chega. o esperado atravessa a porta, senta-se na cadeira reservada. pede desculpas pelo atraso, estranha o nervosismo dela. ela permanece quieta, muito dentro de si. e só quando consegue vê-lo com mais calma, sorri. ele pergunta se esperou muito, ela responde que não muito, o tempo de passar um expresso. o tempo de organizar em sua cabeça os juros de sua ousadia ao comprar aquele casaco mostarda em prestações. os juros, a ousadia e as prestações.