a million parachutes

for us

23 novembro 2003

:: elizabete

quando seu melhor amigo deixou o país por causa das perseguições políticas, elizabete foi se entristecendo aos poucos. não tinha esse poder imaginativo de achar que tudo acabaria bem. ela vivia o presente e no presente não havia marcelo. tentou com a sugestão de amigos criar a esperança, mas não pôde.

marcelo era quem lhe fazia companhia. sabia fazer biscoitos com diâmetros de anéis. brincavam de casamentos desfeitos com mordidas. reiventados em outras fornadas. ela sabia pintar; ele, desenhar. criaram personagens e suas casas. suas capas, os discos. não era feliz, não tinha noção de felicidade.

quando veio a anistia, marcelo voltou. procurou por elizabete que estava internada num sanatório sereno, quase uma campina.

ela não o reconheceu. mas sorria.

marcelo viu no rosto de elizabete os anos que não esteve: os de loucura por causa da tristeza. e em seu próprio rosto havia algo entre regaste e motivos para continuar.