a million parachutes

for us

22 junho 2003

:: pés

olga olhou para seus pés. que pés lindos! talvez se fossem menos brancos e mais iguais poderiam falar coisas surpreendentes. o banho trouxe frescor e sabia que tinha que usar meias para evitar a friagem; encarou-os. vou vesti-los, chega de nudez por hoje.

seus pés ainda usufruiam o peso e a lisura do edredom quando olga os pôs no chão para ir até a gaveta e escolher as meias. tinha uma coleção. de etnias, nacionalidades, espessuras e línguas variadas. escolheu uma da nova zelândia com ondas em relevo.

sentiu-se mais quente, menos tendente a doenças invernais.

passou-se alguns minutos e um silêncio abismal tomou conta do quarto. viu-se só e pensou em estrelas, bandas, versos e metrópolis para evitar que se sentisse só. teve terçol.

tirou as meias. conversou com seus pés sobre como poderiam fugir, sobre o disco novo do radiohead, sobre casas com tetos solares e sobre políticas públicas até o momento que cansou, enfranqueceu-se e começou a tossir.