a million parachutes

for us

06 março 2007

:: hoje

há um cansaço que desmonta meus ombros. fico torto e torpe. no ônibus, na solidão de quem atravessa a noite, posso averiguar todas as minhas dores. há uma que me incomoda há tempos e que modifica o jeito que encaro a noite: o meu tornozelo. há noites em que manco que soa sofreguidão, mas é só uma pontada.

hoje eu fiquei observando o meu braço: ele é bonito e de uma delicadeza que nunca percebi. talvez haja qualquer coisa de peculiar em abraço dado por este braço bonito. esqueci o meu tornozelo até que uma mulher entrou no ônibus em prantos. os olhos vermelhos, segurou somente um pouco para que pudesse pagar a passagem e o cobrador não perguntasse se estava tudo bem. foi até o último banco e recomeçou a chorar.

era um choro de perda como se as lágrimas fossem as últimas coisas que perderia e mesmo assim era necessário. como aquele fiapo de madeira que é necessário que saia das epidermes para que reconheçamos a sabedoria do tempo e das curas.

nesse momento, pensei na minha solidão e vi que não era nada. que hoje, eu podia apenas chamá-la de cansaço. desci do ônibus e a dor do tornozelo também voltou alerta, mas a este quis chamar apenas de atenção.