a million parachutes

for us

01 setembro 2004

:: café do farol

recebemos bem. o lugar não é espaçoso, mas cabe. as paredes não se movem com facilidade, é necessário um pouco de engenhosidade e imaginação para que todos fiquem bem. as janelas indicam o tempo que passa. os rostos falam de sentimentos que não. não incitamos a embriaguez. ela chega junto com a euforia dos convivas. torramos bem o café, abrimos a janela da cozinha nessa hora, porque os cães gostam e deixam de latir para os gatos.

as telhas do café estão a mostra. a lua inventou artificio para que quando a chuva chegasse o teto toque notas como teclado de piano. pouca gente repara, por causa do próprio barulho da chuva. mas ela sabe e eu sei porque ela me contou. fugimos às vezes do burburinho do salão principal e ouvimos a sinfonia surda. a lua me fita e eu retribuo, sorrimos de um capricho secreto.

quando a temperatura é mais amena, a rua, o quintal, o céu é convidativo. a lua pega uma cumbuca e uma colher e faz um batuque sincopado. é sinal para que todos peguem suas cadeiras e as coloquem do lado de fora. as conversas continuam do lado de fora. todos aplaudem não sei o quê. fico orgulhoso de tanto respeito a mulher que toca a cumbuca.

mas ela não sai. fica na janela. é a hora em que sabemos que não somos nós quem recebe bem. somos nós que nos jogamos para o mundo.