a million parachutes

for us

30 julho 2004

:: restart

querida,

há um horário muito curioso em são paulo. é das 22h até perto da meia-noite. é a hora dos que perderam a hora ou não se ajustam aos demais. chegam em casa já com o telejornal e a novela perdidos e a casa só os percebe pela manhã.

é hora em que a cidade dá um suspiro de alívio e se imagina menor. embora tenha menos tempo, o casal que namora nos bancos do metrô está mais só e à vontade. os donos dos estabelecimentos comerciais estão com as portas semicerradas, lavando o chão e pensando no dia empatado de lucros. os motoristas de ônibus quase arriscam um itinerário diferente e chegam a perguntar aos seus 7 ou 8 passageiros onde irão descer. eu mesmo lhes recomendo que parem perto de uma padaria pq gosto de comprar pães para amnhã e ver os doces.

é uma hora de desabrigo dessa nossa vida moderna.

querida, em horas como essa, percebo a dor vinda do cansaço com certa exatidão. a barriga da perna dura e a cabeça que tomba. mas essa dor me revela em contraste a paz que o coração pode ter de vez enquando. o que vc chama de fé, eu chamo de esperança.

por exemplo: esta é a última folha de meu caderno. não ficarei nostálgico e triste por isso. vou providenciar um outro e recomeçar.