a million parachutes

for us

14 março 2004



ana,

não tenho muita crença em deus, mas tenho fé. acredito em seres imaginários e sentimentos sinceros. sou desses que não sabe de que lado está a maldade, se lado dos sonhos ou das concretudes das paredes. sou desses que prefere a terra miserável a indolor vida do céu. penso no céu às vezes quando sinto dor. mas ultimamente pessoas como você tem sido o meu céu. quase não sinto dor.

a barca que navega eu conheço um pouco. organizar e dar sentido para as coisas tem sido a minha busca. sei que minha vida não é assim, mas gosto de inventar, arquitetar e sentir essa massa que vai se tornar rio. sei que é uma empresa de extrema solidão. passo maus bocados, mas é gratificante ver os seus rios dar afluentes e chegarem no grande oceano.

oh, captain, my captain!

fiquei um pouco atordoado e confuso sobre as idéias que faço de você. para mim seus braços, bocas e cabelos são muito concretos. nunca diferenciei até então a ana imaginária da ana verdadeira. é uma coisa muito bela e viva para que eu tenha simplesmente inventando, pelo menos não sozinho.

você falava de como as minhas cartas tem esse jeito aconchegante e talvez irritadiço por isso. reconheço que são. mas é temporário, volto a antiga forma fantasiosa e generosa que você merece, volto a falar da nossa casa e jardim e penso nos gatos e cachorros. o piano estou providenciando com um fabricante austríaco que diz ter conhecido beethoven. nessa vida, ana, não duvido mais de nada.

ando cansado. você são algumas horas de sono bom.

márcio

p.s. pensei em você enquanto assistia "lost in translation". a gente se encontra e desencontra nessa nossa língua portuguesa e sussurra coisas que pouca gente entende. vamos para tóquio qualquer dia desses?