a million parachutes

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16 janeiro 2004

:: o clube dos corações solitários

já faz algum tempo que procuro por escritores novos. gosto muito de ler mas sempre achei ruim esse meu gosto pelos clássicos. parecem fora da minha realidade, talvez por isso goste tanto de vidas alheias. adoro por exemplo filmes, novelas, romances, contos de época. por muito tempo a música foi a única literatura que me parecia familiar. estava na boca dos meus amigos, de pessoas com quem convivia. percebi aos poucos que os programas de tevê e os filmes também tinham isso. mas foi caio fernando abreu que me revelou uma literatura muito próxima da nossa loucura cotidiana. uma literatura passional e urbana.

outros autores foram aparecendo. mais tarde os blogs se tornaram, se não literatura propriamente dita, a matéria prima para construí-la. comecei a perceber que havia muita coisa interessante e dessa massa nascia uma geração diferenciada, marcada pela falta de marca. há todos os tipos e estilos e temas. o que me impressiona é sinceridade impregnada nos escritos. em tempos de simulacros, me comove qualquer coisa que venha realmente do coração.

nesses caminhos do blog, caiu em minha mão o livro do andré takeda "o clube dos corações solitários" que acabo de ler. classficado pela imprensa e critica como vertente da literatura pop cujo maior expoente hoje é horby de "alta fidelidade", confesso que foi uma leitura que há muito não tinha: uma leitura de descoberta.

não sou crítico literário e não faço questão de analisar as técnicas e tal. o que me chamou a atenção no romance são as histórias muito semelhante as minhas, talvez os desejos, inseguranças, e essa vontade de esperança que a boa cultura pop nos dá. a música como trilha sonora de nossa vida. os amigos que são o indicio do novo tipo de família que anda surgindo. a cultura da tevê. as desventuras amorosas num mundo cada vez menos amoroso. e essa pequena teimosia chamada esperança.

acabei o livro com um bem estar. como o final de uma música boa ou os créditos finais de um episódio de sitcom que mudo os rumos da série. lembro-me dos sorrisos durante a leitura no metrô. penso que poderia ter anotado passagens e mostrar para as pessoas que passam por situação semelhante. talvez pudesse ser uma nova tentativa de fazê-las olhar por outras perspectivas seus problemas. dizer que essas coisas não nos são próprias. assim como a música é para todos.

já ouvi muitas pessoas que não gostaram. não sei se é um grande livro no sentido de literatura. mas estou pegando carinho por ele. observo-o e lembro dos meus amigos. cada um deles com seus problemas financeiros, sociais e amorosos. cada sorriso e cada abraço. momentos de besteira total e momentos em que criamos mundos da nossa falta de barba. e por um momento me reforça essa idéia de que talvez estejamos todos bem.