a million parachutes

for us

10 setembro 2003

:: quem são

quem são essas pessoas
que sentem fome e furia
disfarçados em trapes e trupes
falando versões piratas
de línguas oficiais ?
quanta languidez há
em vender bugigangas
tolas, todovia,
para resistir ao cotidiano ?
vão sendo recriminados,
antebraços tatuados,
cicatriz na mão fraca
e antenas uhf.
essas pessoas constroem
postos de gasolinas
mas não usufruem da gasolina
a não ser para sua própria falência,
evitam a palavra morte
para não chamar mau agouro,
uma vez que a vida, diz a palavra,
é sua celebração.
vem... vem descomprir suas promessas
seus pressentimentos, ah...
o que resta de nós nesses rostos contrabandeados?
crimes de estelionato, escolas sem sonhos,
cada vez mais respostas exatas,
cada vez menos perguntas pessoais.
quem são essas pessoas que sonham
e continuam insistentemente em sonhar
em suas barracas, cargos públicos,
telefones celulares com diferentes toques,
feriado nublado, revista masculina,
oleodutos, manchas na pele,
recortes de jornal, hiphop com samba,
adesivo católico, feuerbach pixado
nas paredes do metrô?
quem são essas pessoas
que mantêm-se dignas
a nossa revelia?
e modificam o espaço
apenas com a práxis de sonhos menores ?
você percebe pouco
que a ousadia é uma necessidade
e que todas essas pessoas
são corajosas a seu modo.
o nariz sangrando,
demônios melancólicos e panfletários,
as solidões das grandes cidades
são muitas e diferentes.
e criminosos são so que prosperam esse mercado.
essas pessoas
que moram em bairros deformados,
fractal vindo de equação desigualitário.
e sabem muito bem sentir-se em casa
porque a casa é o mundo.