a million parachutes

for us

15 janeiro 2007

:: os tamanhos do infinito

glória tinha mãos grandes, mas os pés eram pequenos. o cabelo estava a revelia das umidades: quando seco, cortava-se para evitar a armação. em momentos chuvosos que são paulo abençoa, glória observava o crescimento capilar com estranhamento. nas ruas, observava tanto tesouras quanto chiquinhas. nas vitrines, os sapatos e cadarços. mas suas mãos... as mãos estavam sempre grandes e nuas.

um certo dia, passando pelos arredores da estação da luz, glória apaixonou-se por um vestido desproporcional ao seu bolso, ao corpo e às mãos. não era extravagante como a sua mente imaginava que deveriam ser os vestidos. era muito simples, aliás. desbloqueou o cartão de crédito e levou para casa. experimentou sobre seu corpo.

outro dia, passei pela avenida paulista, era noite de baladas. cruzei meus olhos por glória que não me reconheceu. vi seus olhos, os cabelos. os sapatinhos de andar em paralelepipedos. mas as mãos, não eram suas. cabiam no vestido, mas não eram de glória.

pensei nas teorias médicas sobre o encolhimento, a desidratação segundo o passar dos anos. talvez estivessem envelhecendo mais rápido que glória. ou talvez tivessem encolhido mesmo porque o vestido havia dado a elas a proporção do amor de glória.