a million parachutes

for us

02 dezembro 2005

:: alessandra

sonhei há pouco com alessandra. vim correndo anotar sua visita antes que me escapasse mais uma vez da memória. antes que desaparecesse da minha vida e perdesse algum sentido possível.

lembro-me de seu nome com facilidade porque foi o primeiro que tive o prazer de articular em minha boca. eu não utilizava o recurso dos apelidos fáceis. sempre quis tê-la exata em minha boca: alessandra.

conheci-a no ensino fundamental. tornamo-nos amigos próximos. ela tinha um riso falho que se perdia no respirar, quase gonzo. tinha olhos ageis e dedos longos. tinha-me carinho, dividia a ana-maria recheada. mas no quarto ano, mudou-se para outra escola. a conveniência não é um conceito muito fácil para uma criança. assim como a saudade.

encontrei-a uma outra vez anos mais tarde. andava de bicicleta. passou e não me viu. os cabelos ainda eram de um negro intenso. não era mais menina, mas reconheci fácil o sorriso e quase pude ouvir sua risada tosca.

e ela se perderá nas minhas memórias. talvez nem a reconheça mais na rua. cada ano, é uma rua nova, uma cidade nova quase irreconhecível. natural que seja assim.

mas sonhos assim, para que são? alessandra está indo embora. deixou a porta aberta. a chuva recomeça e penso se estará agasalhada. mas não me lembro de nenhum agasalho seu.