a million parachutes

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20 novembro 2005

:: princesa saki

a princesa saki tinha a estranha mania de correr pelas plantações de seu reino. mas tudo que derrubava ou pisava trazia para casa depois de pagar uma quantia justa a quem cultivava. começou com a correria seis meses depois que o rei morreu. na cozinha, a princesa saki aprendeu as artes dos temperos e dos marinadas. a rainha dizia que ela herdará o bom gosto do rei.

aos 16 anos, os pés da princesa já tinham calejado, tornou-se a cozinheira chefe do seu castelo e deu-se a poesia depois que descobriu a biblioteca secreta de seu pai. aprendeu línguas e arriscou rimas. apaixonou-se por um plebeu, largou a nobreza e arranjou uma terra para plantar.

o seu marido não entendia a disposição em que ela fazia a plantação, cheia de curvas e descontinuidades. ela sorria com ternura para ele e apontava para o céu. nunca tiveram tempos ruins, as colheitas sempre foram generosas. ele achou que era alguma ciência. e ela teve tempo de lhe ensinar a ler e a marinar frangos.

aos 26, saki ficou tuberculosa. em seu último leito sussurrou a seu marido que dissesse a mãe que a amava. e a ele pediu que lesse os morangos da terra -- era tempo de morangos -- como se estivesse no céu. ele não entendeu. saki faleceu na manhã seguinte.

o marido de saki foi até a plantação e colheu alguns morangos tentando entender o que dizia a sua mulher. a rainha chegou sem alarde e disse que recebera o recado. ele disse que não havia mandado nenhum porque sempre teve esperanças de que a princesa sobrevivesse. a rainha pediu que o acompanhasse até o castelo.

subiram até o quarto de saki que ficava numa das torres mais altas. e de lá ele viu sua casa. e na plantação havia um poema nos folheados dos morangos que falava sobre amor e bibliotecas secretas.