a million parachutes

for us

31 março 2005

:: 3 am

são três da manhã e não consigo dormir. sei que tenho que descansar porque o dia será longo e terei que me concentrar em muitos pontos e em intervalos cada vez menores. mas o silêncio da noite é ensurdecedor. penso numa época em que a serenidade da noite me tranquilizava. ligava o rádio e ouvia aquele som mal equalizado. todos os meus rádios estão quebrados. os outros estão em outro lugar que não fará sentido ir pegá-los. afinal, são três da manhã. todos estão dormindo. e eu, consciente da madrugada, crio um intervalo que não fará sentido a ninguém. por isso estou registrando. para saber que não é alucinação minha ou sonho decantado entre pensamentos atordoados.

o barulho do teclado me soa aconchegante. sinto-me produtivo embora as palavras, as frases e os temas estejam tão vazios... outro dia me chamaram de poeta. até gostei, confesso. gostaria de ser poeta, mas poeta mesmo. desses que publicam e vivem de escrever coisas cheias de sentido. mas sei que sou limitado. não me dou bem com meus fantasmas. o que posso fazer é escrever duas ou três sacadas imaginando que estou sendo o mais sincero possível. porque é isso que me atormenta: ser o mais sincero possível nas mentiras, nas invenções.

na forma com que eu represento meus sentimentos de querer bem.

a vida vai se esvaindo. o tempo vai passando. penso em neverland, sempre imaginei algo onírico ou o paraíso mesmo. cheio de anjos redentores e nuvens. me ocorre, às 3 da manhã, que neverland está atrás dos objetos, das pessoas, dos sons dos teclados. essas coisas não são portais para neverland. são a sombra da própria neverland. quero enxergar o invisível. o que está por trás, o que meus olhos limitados não podem ver, mas o coração consegue com duas ou três rufladas.

vou dormir. me perdoem o cansaço e as besteiras. às 3 da manhã é a hora da solidão ver as reprises da tevê.