a million parachutes

for us

28 maio 2004

:: a carta

recebi uma carta. hoje em dia, receber cartas é um acontecimento. nem me lembro da última vez que recebi uma, assim, tão pessoal. o hábito nos entorta até que ficamos direito.

a carta nem trazia tantas notícias assim. foi um daquelas ocasiões em que nós nos pegamos pensando em alguém que nos foi importante em momento que julgávamos tão perdido. nós ficamos apreensivos para não perder novamente e tentamos imortalizar ou mesmo continuá-lo de alguma forma. como eu, ela escreveu. mas ao contrário de mim, ela enviou.

a nossa importância no mundo nem é tanta, penso muitas vezes. somos um mar de espíritos soltos, alguns perdidos, alguns encontrados, alguns com vontade de se perder, alguns com vontade de se encontrar. quando li a carta, senti-me parte desse mundo de espíritos porque se alguém reserva seu tempo para escrever uma carta é porque para ela era importante dizer essas coisas. e para mim está sendo imporante perceber isso. estar no mundo, é estar para alguém.

gosto de pensar que os posts daqui são como cartas. que eu me esforço um mínimo para manter as pessoas que estão longe, próximas. registramos nossas vidas para termos essa vaga idéia de que espíritos existem. registramos também para dar continuidade. transcedemos através da carta e por alguns minutos ficamos deslocados no tempo e espaço dessa esfera que se chama dor.