a million parachutes

for us

22 fevereiro 2004



ana,

soube do acontecido com certo espanto. e a gente que sempre está a mobiliar as coisas invisíveis, vê os nossos objetos e sentimentos expostos e quiça deturbados. gosto quando fazem bom uso do sofá ou que preparem comida boa com as hortaliças do seu jardim delicado. não sei ainda o quanto de mau uso fizeram das nossas coisas, mas sei que o chá não tem o mesmo gosto.

nessas horas tenho medo do mundo. essas invasões barbáras nos fazem pensar em feudos, proteção e alguma segurança. tudo pelo que lutamos contra porque somos desses que anseiam uma liberdade justa. tenho medo, querida, de me diluir em tantas cópias e falsetes que não possa mais cantar o que originalmente está reservado para você em meu coração. é um perigo que racionalmente não comprovo, mas que me aterrorizou ao ver o nome das personagens serem trocadas quando em mim esses nomes signficavam tanto quanto nossa casa.

ainda recuso a instalar alarmes e cercas. os muros, só os que possam ser atravessados. essas pessoas não entraram em nossa casa porque eles não entenderam o que era a casa. para eles, os objetos continuaram inexistentes. mal sabem eles que a invenção requer uma verdade para consigo. dessas verdades corajosas que tomam convites para os ouvidos e pedras na cabeça. pagamos o preço da nossa falsidade porque preferimos as nossas a verdades dos outros.

nossa casa e jardim não é para nos proteger. sua imperfeição é um convite. podem fazer casas e jardins a partir dessa, mas serão apenas imagens perfeitas e inertes.