a million parachutes

for us

09 agosto 2003

:: a desordem com ellen gatsby

quando você foi embora e disse que não voltaria, achei que enganava-se. preparei o quarto e os chás habituais. deixei comprado farinha, ovos e pão, além de bife e alguns vegetais. abri as janelas para que entrasse ar novo combatente do mofo e pó. nas manhãs, cuidei do jardim, regando os projetos de flores e tirando tudo que pudesse comprometer a estrutura correta de um jardim.

de noite, gravei as séries de tv e organizei seus livros e anotações. me dediquei ao francês e aos mapas de viagem. escrevi artigos sobre gastronomia que me deram algum dinheiro. pensei em adotar um cão.

ousei ao trocar o achocolatado. e deixei preparado sândalos sobre a coberta e a cama para que se surpreendesse. pensei em pintar os quartos, mas o dinheiro só deu para pintar o teto que ficou um azul ralinho feito céu de brigadeiro. se usar lâmpadas incandescentes pode imaginar um sol.

mas o tempo foi passando, e menos enganado você foi ficando. os cheiros e o jardim foram descolando de significados. a água do chá esfriou e já me habituei a dormir no sofá. comecei a esquecer por que havia essa ou aquela parede, esse ou aquele quarto, esse ou aquele sol.

até que deixei de esperar e saí de casa. talvez a gente se cruze por aí.