a million parachutes

for us

14 maio 2003


:: reconectando...

depois de uma baita bronca muito bem fundamentada com direito a fundo musical, chantagem emocional quase crime de lesa-humanidade (não paro de rir depois que ouvi essa expressão) e tapas fortes (lembre que a força é igual a massa multiplicado pela aceleração e completo: vezes a quantidade de golpes) vou reconectando para evitar atritos.

coagido?
e não?

amizade é um bem muito precioso. não sei porque ainda me surpreendo com isso. às vezes, a gente nem percebe o quanto alguém está fazendo algo por você. depois, é um tranco. aí você enxerga as coisas dele por aí. muita gente não comenta, amigo comenta. tem uns que fingem que não. mas está lá ele presente falando de ceboulas quando quer falar de paráquedas. aí a gente fala de ceboulas pensando em paráquedas.

os amigos não te chamam para festas, eles te fazem uma festa lúcida. uma festa vagabunda para não te gabar. e são pessoas dedicadas, mesmo quando o embrulho do presente é a própria sacola da loja. você ia abrir mesmo! aí ele te manda manda emails mandando ir a merda e depois telefona com uma voz muy serena. ele quase não pergunta se você está bem, porque ele sabe de alguma forma. muitos deles não estão no seu dia-a-dia, mas se você prestar atenção, ele mostrará que você está no dele, em pequenas coisas quase abusivas de tão ordinárias. no trijeitos de falar, na cor da camiseta, nas músicas, nas letras, nos lugares-comum que deixam de ser não-lugares, nos gostos e principalmente, na aceitação ou não de algo que os envolve.

pensei que fechar esse blog me traria algum tipo de alivio e de certa forma trouxe.

mas há aqui nesse blog o fomento de algo que é muito caro para mim: a invenção das "minhas" coisas ordinárias. não ficções de cinema ou televisão ou sentimentos de livros. ou a atmosfera das músicas ou as catedras das críticas. há aqui uma ficção que faço com esses meus amigos. e que por eles fui eleito como um dos seus documentaristas (basicamente porque eles são preguiçosos e tem mais o que fazer). um ofício tão necessário para a identidade não só minha, mas de todos que nele se sintam envolvidos.

a todos os amigos que vivem me socorrendo, meu agradecimento. desculpe-me pela crise, mas tenho sentido muita ansiedade da vida. escreverei com afinco para merecer tanta responsabilidade (nem tanta assim, não é? ou é?).

márcio

p.s. abaixo os textos que já estavam postados, mas que hesitei em publicar.
p.s.s. e vai ter festa de 1 ano de blog, sim.

* * *

o que acontece a você que anda tão machucada?
que pára para descansar antes do primeiro salto?
que vai construindo paredes fortes ao invés de desenhos para proteger seu coração?
e a sua voz que sai difícil, sai quase mentirosa?

o que aconteceu com seus cabelos que caem facilmente querendo cair?
e os joelhos que não se dobram? e o seu braço que não acena mais abraços?

o que fez com o sol? o que fez com os caminhos?
por que o céu escuro e tempos atrasos?
e a temperatura que congela minhas mãos usualmente quentes?

o que acontece a você que anda tão faltosa?
que anda com falta de apetite e vitamina b-12
tão fora de mim e tão desvivida?

* * *

você é esse meu lábio seco e esquecido
que conspira com a saliva
os bens dizeres de uma esperança aguda.

você são esses meu olhos tortos
que enxergam cada vez mais diferente
e cada vez menos tridimensional.

você é esse meu pé e tornozelo
que tropeçam em pedras cada vez menores.
você é a garganta; os dedos que
escrevem prejuízos; a falta de ar nos brônquios.

você é a minha palma da mão fechando.
você é o primeiro passo quando estou no segundo.

você é esse espaço aqui em mim:
entre a aorta e a comiseração.

* * *


vem...



vem.

vem fazer barulho com a boca
compassado com sua falta de saber.

por favor,
pare de estar querendo estar parada,
nós temos muitos casamentos e festas de criançar para ir.
oportunidades; falsas convicções; tiros surdos.
se você sorrir, deixe os olhos abertos,
para desviar do soco... tenha epifânias enfim.

vem.

* * *


amor,
você me teve
mas eu não te tive.

então, eu quero te dizer: adeus.

amor,
você me deixou
mas eu nunca te deixei.

então, eu quero te dizer: oi.

amor,
volte para casa.
quando você vai voltar para casa?

então, eu quero te dizer.