:: o mar mais silencioso daquele verão
quando me sentei na poltrona do cinusp para assistir "o mar mais silencioso daquele verão" era com se dissesse oi para alguém com quem tive apenas uma única conversa, mas que fora mto boa. alguém que está de passagem e que a circunstância pedisse uma dedicação maior. alguém limitado pela inexperiência, mas que faria tudo para não ser limitado. era esse nosso acordo: ele contaria a história de fomra mais sincera e eu me emocionaria de acordo.
* * *
e kitano, esse cara escroto, voltou a contar a história de um jovem lixeiro surdo que encontra no surf algo para resistir a sua rotina e de sua namorada que reinventou o conceito de companherismo.
os planos de kitano abusam do uso de perspectiva quebrada com perpendicularidade. ninguém finge nos confrontar. ou estão nos olhando de frente ou encaram a eles mesmos. só o mar é absoluto, só o mar a lente não consegue colocar em perspectiva.
* * *
a personagem da menina é que mais emociona. arruma sempre as roupas do namorado quado ele está no mar. espera-o. até que nos inquietamos quando as roupas estão jogadas, ela não veio? o que terá acontecido?
* * *
há uma cena perturbadora. ambos compram uma prancha nova; a velha que havia encontrado no lixo e concertada parte-se na aprendizagem. quando embarcam no ônibus, o motorista diz que não pode porque a prancha atrapalha os outros passageiros. a menina que já havia pago, parte. não sabe bem o que fazer. o lixeiro vai então sozinho para casa. o ônibus vai se esvaziando, ela continua de pé, indecisa, o que fazer? perto de casa, desce e começa a correr para encontrá-lo. na sua frente pára. ele agradece com um sorriso esses minutos a mais de companhia.
* * *
o surf começa a tomar mto tempo do lixeiro. seu companheiro de serviço o alerta para o perigo de ser demitido. dá uma bronca, bate em sua cabeça e o arrasta para o trabalho. a roupa de borracha se torna cômica enquanto ele joga o lixo no caminhão, descalço.
mas esse mesmo companheiro revela-se uma amigo ao pedir para o patrão que deixasse o garoto participar de um campeonato de surf. acaba trabalhando pelos dois.
* * *
a trilha sonora belíssima ressalta a melancolia e por contraste acentua as cenas cômicas. sim, é naturalmente engraçado as situações, as armadilhas, os desentendimentos.
* * *
até que o mar o traga.
* * *
na seqüência final, kitano usa um golpe baixo mto semelhante ao de tornatore em cinema paradiso. quando achamos que tudo acabou, retorna em uma sequencia de fotos mas em movimento: a menina sobre a prancha na areia fingindo ser ela a surfista; retratos dos amigos que fez com o esporte; o companheiro lixeiro, ele e a menina num bar comemorando um troféu de sexto lugar; a menina aceitando para si o troféu que ele deu como se isso a fizesse parte da vida dele.
* * *
saio quando aparecem os créditos. não tenho coragem de me despedir, choro compulsivamente, tento evitar mas não consigo. vou escrevendo essas linhas com os olhos vermelhos. penso: por quê?
não sei se espero ter a perseverança do lixeiro ou uma companheira como a menina; ou ter amigos como seu companheiro de serviço ou a oportunidade de dividir um troféu.
difícil pensar quando se está chorando de felicidade.
quando me sentei na poltrona do cinusp para assistir "o mar mais silencioso daquele verão" era com se dissesse oi para alguém com quem tive apenas uma única conversa, mas que fora mto boa. alguém que está de passagem e que a circunstância pedisse uma dedicação maior. alguém limitado pela inexperiência, mas que faria tudo para não ser limitado. era esse nosso acordo: ele contaria a história de fomra mais sincera e eu me emocionaria de acordo.
* * *
e kitano, esse cara escroto, voltou a contar a história de um jovem lixeiro surdo que encontra no surf algo para resistir a sua rotina e de sua namorada que reinventou o conceito de companherismo.
os planos de kitano abusam do uso de perspectiva quebrada com perpendicularidade. ninguém finge nos confrontar. ou estão nos olhando de frente ou encaram a eles mesmos. só o mar é absoluto, só o mar a lente não consegue colocar em perspectiva.
* * *
a personagem da menina é que mais emociona. arruma sempre as roupas do namorado quado ele está no mar. espera-o. até que nos inquietamos quando as roupas estão jogadas, ela não veio? o que terá acontecido?
* * *
há uma cena perturbadora. ambos compram uma prancha nova; a velha que havia encontrado no lixo e concertada parte-se na aprendizagem. quando embarcam no ônibus, o motorista diz que não pode porque a prancha atrapalha os outros passageiros. a menina que já havia pago, parte. não sabe bem o que fazer. o lixeiro vai então sozinho para casa. o ônibus vai se esvaziando, ela continua de pé, indecisa, o que fazer? perto de casa, desce e começa a correr para encontrá-lo. na sua frente pára. ele agradece com um sorriso esses minutos a mais de companhia.
* * *
o surf começa a tomar mto tempo do lixeiro. seu companheiro de serviço o alerta para o perigo de ser demitido. dá uma bronca, bate em sua cabeça e o arrasta para o trabalho. a roupa de borracha se torna cômica enquanto ele joga o lixo no caminhão, descalço.
mas esse mesmo companheiro revela-se uma amigo ao pedir para o patrão que deixasse o garoto participar de um campeonato de surf. acaba trabalhando pelos dois.
* * *
a trilha sonora belíssima ressalta a melancolia e por contraste acentua as cenas cômicas. sim, é naturalmente engraçado as situações, as armadilhas, os desentendimentos.
* * *
até que o mar o traga.
* * *
na seqüência final, kitano usa um golpe baixo mto semelhante ao de tornatore em cinema paradiso. quando achamos que tudo acabou, retorna em uma sequencia de fotos mas em movimento: a menina sobre a prancha na areia fingindo ser ela a surfista; retratos dos amigos que fez com o esporte; o companheiro lixeiro, ele e a menina num bar comemorando um troféu de sexto lugar; a menina aceitando para si o troféu que ele deu como se isso a fizesse parte da vida dele.
* * *
saio quando aparecem os créditos. não tenho coragem de me despedir, choro compulsivamente, tento evitar mas não consigo. vou escrevendo essas linhas com os olhos vermelhos. penso: por quê?
não sei se espero ter a perseverança do lixeiro ou uma companheira como a menina; ou ter amigos como seu companheiro de serviço ou a oportunidade de dividir um troféu.
difícil pensar quando se está chorando de felicidade.
<< Página inicial