a million parachutes

for us

20 maio 2006

:: carta

caro senhor,

sairei de casa nos meus horários. nas horas, minutos e segundos que forem meus. pisarei no asfalto rachado do nosso tecido social. e deixarei de costurar meus bolsos, vou cultivar furos. e ao invés de moedas que costumo perder, vou encher de sementes de legumes, flores e doces. vou continuar fazendo meu caminho e desafiarei a cidade a resistir a tantas sementes.

vou dobrar o meu número de bom-dias. não conseguirei mudar meu ar díficil e pouco socializante. mas oferecerei bom-dias tanto quanto posso. procurarei usar cores para que me confundam com as melhores pessoas. esse tipo de confusão desafoga pulmão que deseja respirar outros ares.

reservarei o almoço para os amigos, os bons amigos. e pedirei a eles que respondam também ao senhor da melhor forma possível. direi que ainda prefiro secar as minhas roupas aos ventos inconstantes a tratá-los quentes e seguros nas máquinas de secar. vou cuidar dos meus joelhos para correr o tanto quanto posso. vou correr atrás daqueles sonhos que sempre estão refletidos nos vidros dos prédios, janelas de ônibus, retrovisor de motoboy. os sonhos de um eu que ando esquecendo.

e por fim, senhor medo, não permitirei que faça uso das palavras para propagar o seu primo terror. o senhor cobra-me mensalmente como a conta de luz ou iptu. mas não vou lhe dever coisa alguma. antes, pedirá o senhor concordata ao concorrer com o mercado das flores que resistem e nascem.