a million parachutes

for us

07 novembro 2005

:: bessie smith

bessie smith está cantarolando um blues em sincronia ao barulho de seu trem. evita forçar a voz rouca, porque esse ano o sul anda muito frio. olha a velocidade da paisagem que passa por seus olhos, acostumou-se a não fixar o olhar. tudo que vê são manchas horizontais e mutantes. sente-se segura. ninguém para lhe aborrecer a pele e os lábios.

pensa na praticidade do trem. ela mesma, tão alta e viril, é um trem. corria sem se preocupar com o que há no caminho porque sabe que havia homens que construiram com grande engenhosidade esses caminhos. a liberdade, pensa, deve ser vencer um trem.

bessie smith morreria alguns anos mais tarde, no hospital, esperando por socorro. atropelada por um carro... porque o trem, ela venceu.