a million parachutes

for us

31 outubro 2005

:: amar

e tem essa fotografia.

na janela ao fundo, há o mar azul e tempestuoso, com suas ondas espumantes. em primeiro plano, o seu rosto perdendo-se em um horizonte que não posso ver. penso na falta de veracidade dessa foto, já que o contra-luz não atrapalha que eu veja seu rosto. nunca mais vi seus olhos assim. me faz lembrar um tempo que em nós dóis éramos românticos, sabe? um tempo em que acreditávamos muito mais na grande fatalidade humana do amor do que em nós mesmos. para mim, seus olhos não eram seus... eram do amor. as minhas cartas não eram minhas. eram do amor. ah, como você amava o amor. e mesmo que você nem se lembre dessa foto -- eu mesmo não me lembro se foi eu quem tirou -- saberá também que fatais nunca fomos a não ser para nós mesmos.

e tem esse modo obliquo com que tento explicar os seus presságios.

sempre tive na ponta da língua -- além da sua -- a palavra certa para lhe dar segurança. você achava bom acreditar que nós venceríamos no escudo certo que era o amor. você comprava flores e eu escrevia poemas. você me falava da alvorada e eu te complentava a aurora. mas a completude não suporta o real falido. e amor, como o mundo, transforma-se. você economizou a minha revelia e comprou uma casa na praia. viu que o mar é muito maior que o amor que pode ter.

e tem essa sua voz que atravessa a prata do papel e me diz que está tudo bem.

eu não tenho dinheiro para casa. mas comprei uma passagem. está junto com a fotografia duvidando de nós dois. mas ninguém sabe, nem você, que hoje vou tomar banho de mar.