a million parachutes

for us

25 setembro 2005

:: bilhete

enquanto arrumava os meus cd´s -- época essa em que cd´s se tornaram memória guardada -- encontrei um bilhete com poucas mas afetuosas palavras. ajeitei os livros, apaguei arquivos redudantes, organizei os dvds, apontei os lápis de cor e passei alguns minutos longos afinando a guitarra e o baixo. mas durante toda tarde, pensei nesse bilhete. papel amarelado e manchado. letra arredondada. alguém que se esvaiu da minha rotina, mas que se escondeu em um cd que talvez nem soubesse se iria ser tocado novamente.

não me lembro do nome dela. mas lembro de seu rosto claramente. isso porque eu fixei-me um momento em observá-la profundamente e deixei que queimasse o suficiente as retinas de minha memória porque sabia que não era o tipo de pessoa que pudesse reencontrar. seus pais eram separados e ela mesma estava se tratando depois de uma tentativa de suícidio. tentativa que ela mesma dizia que era ridícula pela falta de noção física e química dos artefatos. pediu-me para ensinar as exatas e ela aprendeu bem os cálculos estequiométricos (regra de três).

ela tinha cabelos encaracolados não muito longos. o seu rosto era liso, mas sem extragâncias. o seu sorriso não era intenso, mas delicado. o bilhete agradecia por uma noite que não me lembro. mas que havia lhe feito algum bem. não me lembro de seu nome, nem do bem que fiz. o que tenho em mãos é esse bilhete e sua imagem na minha memória. amanhã, talvez nem a memória mais.

mas o bilhete, esse, deixarei que as forças do tempo destruam segundo a finitute do carbono. enquanto isso, deixarei em algum lugar que possa acidentalmente achar em outro domingo em que estiver arrumando a casa.