a million parachutes

for us

20 novembro 2004

:: solidão

tem dias em que eu acho que a solidão me matará.

aos poucos,
envenenando com idéias amalucadas
o meu coração machucado.

com um susto,
um ataque surpresa,
misericordiosa para que eu não sinta muita dor.

a marretadas,
já complacente da dureza
que o coração anda adquirindo.

a solidão me esmagará
em seu abraço de conforto e resignação.

e recolherá todas as anotações
que fiz para que ela se fosse;
notas sobre sua companhia;
letras de sua semi-autoria.

vai separar o que lhe é novo
e o que já foi dito.
se achará ainda mais bela
e aprenderá a se mover,
a se confundir na paisagem,
e se chamará cidade,
aquário,
sopa instantânea,
email,
canção antiga,
livro perdido na estante,
filme gravado da tevê,
ingresso impar de show,
carta abortada.

e escreverá uma nota nos jornais das solidões
sobre como lhe fui bom dando abrigo,
comida, roupa lavada, motivos para ficar.

e só as solidões alheias lerão
para se informar do endereço
do bazar de garagem em que serão vendidos
os amores que nunca foram meus.

a solidão espreita a minha culpa
que diz sim.