a million parachutes

for us

31 outubro 2004

tathy,

deve ser assim como mesmo você mesmo diz: um não-estado de fúria e torpor e confusão e coisas coloridas que soam caramelados ou românticos. só existe essa cicatriz acima do meu olho esquerdo que me dá alguma noção de realidade. já pensei em sair gritando numa tempestade cheia de chuvas, raios, barulho e ofegação. aproveitaria-me da surdez da chuva para sair gritando porque não seria ouvido (não quero que me ouçam também, deixem-me só quando preciso) ou arrancaria minha pele sob a água que aliviaria com sua temperatura as peles que arranharia (sei também que a chuva tem seus ácidos que mesmo que orgânicos, queimam).

tenho dúvidas do que é melhor para mim. não sei se o que eu quero é o melhor para mim. já pensei na felicidade alheia, mas é o melhor para mim? talvez não haja ninguém que mereça meu ódio porque se o ódio é tão irmão do amor, esse sentimento deve ser dado a quem merece de verdade. não sei o que é felicidade.

gosto dos seus pés. eles mudam mais lentamente que os cabelos. acostumo-me melhor a eles. o cabelo é sempre uma surpresa. os seus pés são como um ódio a ser conquistado. os cabelos mudam segundo as chuvas. secar faz muita diferença. já colocou os pés em água quente temperada a sol grosso? é como se fosse um não-estado só que dolência. a gente quase sente falta da dor.