:: os corações deslocados ou 10 lugares para colocar as flores que chegaram
(para cereja)
01. na cozinha
o vinho sobre a mesa. copos limpos, onde estão? restam algumas migalhas de broas sobre a mesa... que estranho, quem comeu? se a janela estivesse aberta, arriscaria cigarros. corações são copos limpos ou broas sobre a mesa? amor é esse estranho que deixa migalhas.
se deixar as flores sobre a geladeira, poderá associá-las a maionese.
02. no hall de entrada
na entrada tem sempre essa sensação de saída, depende do ponto de vista. quando você recebeu as flores, teve algo no coração que foi embora pela mesma porta. é como se não pudessem ocupar o mesmo lugar no espaço, mas essas leis da física lhe deixam irritadiça, compreendo. como se conformar com a idéia de que não podemos voar?
se der um passo a frente, já deixou de estar em casa.
coloque um vaso num cômodo em frente a porta, assim as flores te recebem quando chegar. e é você quem as abandona quando sair.
03. na garagem
aqui também se guarda coisas antigas. é aquela parte da memória que é escura e cheira a dióxido de carbono. quase não vamos para lá. mas parece o lugar que sempre tem espaço. o coração se comporta diferente. parece que tem pouco lugar, cheira a jasmim e teoricamente não nos faz mal. mas como subestimar um espaço onde nasceram as melhores bandas que você inventou?
aqui ficam os amplificadores e lá o microfone. há ainda fragmentos de mensagens em versos que falta musicar. o carro atrapalha, mas a rua é a serventia da casa.
se colocar sobre o carro, você corre o risco de se divertir imaginando seu pai com cara de rabugento na avenida paulista com um vaso sobre o teto.
04. na banheira
há dias que a banheira nos protege. parece meia casca de ovo. e no banheiro há essa luminância para que nenhuma sujeira escape. cansamos de tanta luz. a banheira é uma cama fudigia.
se você espalhar as flores sobre a água, verá flutuando, criando imagens que você pode tentar compreender. e imaginará você flutuando também. e nesse momento, será como flores na estado comum de flutuar sobre a água. e terá por um momento a perda da solidão para ser massa de flores flutuantes. coloque alguma essência para ficar mais divertido.
depois deixe pra secar.
05. na pia do banheiro
deixe dentro da pia. aí quando for escovar os dentes e cuspir, terá um dilema surpreendente.
06. no quarto
o quarto é coração. ou deveria ser.o que são essas coisas coladas na parede... são o que falta. há no coração as faltas. o cobertor, a cama, a janela para a melhor paisagem do mundo, o mundo. computadores que guardam, gavetas que se deslocam. o som, os cds, as revistas, os livros, os escritos. e esse poder de mudar tudo de lugar.
se colocar as flores lá, só será mais um motivo para sentir falta e aconchego.
07. no corredor
o corredor é, junto com a cozinha, a área social da casa. o coração dificilmente pára lá. é um lugar não-lugar. uma passagem, transição de carvanal da globo. lugar melhor da festa pela responsabilidade de não ficar. a melhor metáfora que encontramos do cotidiano.
as flores lá terão uma vida como a nossa. pessoas dizendo oi, pessoas dizendo tchau.
08. na varanda
na varanda, a gente ouve música alta cometendo o crime de fazer o mundo ouvir. se deixar as flores lá, terá mais que um halibe, terá alguém para culpar.
09. no lixo
e se for muita emoção, ainda resta o lixo.
10. no jardim
a melhor parte da casa, porque pode não ser a casa. e se for bobinha e ter esperança, pode esperar que as flores plantadas possam ter a vida que você não reservou a elas. podem fugir de seu controle, como você sempre quis para seus próprios corações. porque temos muitos corações. para os sem números de cômodos, penteadeiras, mesas, escrivaninha, chão, nos corações deslocados que se assemelham a uma cama ou qualquer lugar propicio para os sonhos.
(para cereja)
01. na cozinha
o vinho sobre a mesa. copos limpos, onde estão? restam algumas migalhas de broas sobre a mesa... que estranho, quem comeu? se a janela estivesse aberta, arriscaria cigarros. corações são copos limpos ou broas sobre a mesa? amor é esse estranho que deixa migalhas.
se deixar as flores sobre a geladeira, poderá associá-las a maionese.
02. no hall de entrada
na entrada tem sempre essa sensação de saída, depende do ponto de vista. quando você recebeu as flores, teve algo no coração que foi embora pela mesma porta. é como se não pudessem ocupar o mesmo lugar no espaço, mas essas leis da física lhe deixam irritadiça, compreendo. como se conformar com a idéia de que não podemos voar?
se der um passo a frente, já deixou de estar em casa.
coloque um vaso num cômodo em frente a porta, assim as flores te recebem quando chegar. e é você quem as abandona quando sair.
03. na garagem
aqui também se guarda coisas antigas. é aquela parte da memória que é escura e cheira a dióxido de carbono. quase não vamos para lá. mas parece o lugar que sempre tem espaço. o coração se comporta diferente. parece que tem pouco lugar, cheira a jasmim e teoricamente não nos faz mal. mas como subestimar um espaço onde nasceram as melhores bandas que você inventou?
aqui ficam os amplificadores e lá o microfone. há ainda fragmentos de mensagens em versos que falta musicar. o carro atrapalha, mas a rua é a serventia da casa.
se colocar sobre o carro, você corre o risco de se divertir imaginando seu pai com cara de rabugento na avenida paulista com um vaso sobre o teto.
04. na banheira
há dias que a banheira nos protege. parece meia casca de ovo. e no banheiro há essa luminância para que nenhuma sujeira escape. cansamos de tanta luz. a banheira é uma cama fudigia.
se você espalhar as flores sobre a água, verá flutuando, criando imagens que você pode tentar compreender. e imaginará você flutuando também. e nesse momento, será como flores na estado comum de flutuar sobre a água. e terá por um momento a perda da solidão para ser massa de flores flutuantes. coloque alguma essência para ficar mais divertido.
depois deixe pra secar.
05. na pia do banheiro
deixe dentro da pia. aí quando for escovar os dentes e cuspir, terá um dilema surpreendente.
06. no quarto
o quarto é coração. ou deveria ser.o que são essas coisas coladas na parede... são o que falta. há no coração as faltas. o cobertor, a cama, a janela para a melhor paisagem do mundo, o mundo. computadores que guardam, gavetas que se deslocam. o som, os cds, as revistas, os livros, os escritos. e esse poder de mudar tudo de lugar.
se colocar as flores lá, só será mais um motivo para sentir falta e aconchego.
07. no corredor
o corredor é, junto com a cozinha, a área social da casa. o coração dificilmente pára lá. é um lugar não-lugar. uma passagem, transição de carvanal da globo. lugar melhor da festa pela responsabilidade de não ficar. a melhor metáfora que encontramos do cotidiano.
as flores lá terão uma vida como a nossa. pessoas dizendo oi, pessoas dizendo tchau.
08. na varanda
na varanda, a gente ouve música alta cometendo o crime de fazer o mundo ouvir. se deixar as flores lá, terá mais que um halibe, terá alguém para culpar.
09. no lixo
e se for muita emoção, ainda resta o lixo.
10. no jardim
a melhor parte da casa, porque pode não ser a casa. e se for bobinha e ter esperança, pode esperar que as flores plantadas possam ter a vida que você não reservou a elas. podem fugir de seu controle, como você sempre quis para seus próprios corações. porque temos muitos corações. para os sem números de cômodos, penteadeiras, mesas, escrivaninha, chão, nos corações deslocados que se assemelham a uma cama ou qualquer lugar propicio para os sonhos.
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