a million parachutes

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10 agosto 2003

a desordem com ellen gatsby parte #02
(a partir de fragmentos de aurea horbach)

odeio quando tenho sua atenção e não sei o que dizer, embora tenha pensado que soubesse tanta coisa que poderia ser e acabou não sendo. reivento-me para que não soe tão perdida, mas ele percebe porque mesmo que minhas costas e minhas pernas estejam endireitadas, os meus olhos são todos desviados, frêmitos e por uma pálpebra inseguros.

e ele, em seu cavarelhismo, tenta me deixar menos constrangida, fazendo piadas que não são engraçadas para ele, mas que poderiam ter me feito rir se o constrangimento não fosse tanto. sinto ódio pela vida que é reservada a ele e pela vida que é reservada para mim. e mais ódio porque não é nos reservado nada. ele mantêm a calma, foi um desencontro. desses de tempo e circunstância, porque já nos havíamos encontrado.

tenho uma noite perfeita, apesar da embriaguez, perfeita, porque tinha a alegria perfeita, o espírito perfeito de quem é feliz e sente muito. é, apesar de desencontros passados, um encontro presente. naquela noite não estávamos mascarados, éramos livres, quase nós mesmos, numa sinceridade singular de amor quase perfeito.

.. perfeita porque era livre, de uma liberdade de carnaval com muitas bocas a serem beijadas e no entanto só uma a que interessava... perfeita porque terminava com uma promessa de reencontro. havíamos combinado, um encontro marcado feito a tarde em que a lua se deixa iluminar pelo sol num céu criminosamente laranja.

na última noite. eu não fui. quebrei a perna. tive um resfriado. o trânsito. parente falecido. presa em casa. chaves perdidas. falta de dinheiro. será que algum dia ele vai entender? mas não é preciso agora. para ele, eu passei. para ele, ele continuou.

o que me resta hoje é esse ódio de não ter dito sim. um ódio que passará e será tão suave quanto um sim.