a million parachutes

for us

15 março 2005

:: losangofone #02

(#01 lá em baixo)

o sofá dela era bom. além de não ter dor nas costas ainda dormi as oito horas necessárias. ouvi o barulho do trânsito e pelas luz que escapava das persianas percebi o adiantado do horário. no banheiro, lavei o rosto e estava com uma cara boa. quando eu voltei para a sala, ela já havia aberto a janela e pude ver as revistas, discos, fotos que havia me mostrado na madrugada. ela recolheu as garrafas de cerveja e levou até a cozinha, comecei a empilhar as revistas e guardar os discos. voltou com um copo de leite e um cigarro e fez uma cara de quem acha bonitinho ajudar. sorri.

-- tu volta lá hoje? ela me perguntou.

-- acho que nem. tu vai discotecar hoje também?

-- não, só às quinta, até o final do mês. o que vai fazer hoje?

-- pensei em pegar um cinema, algo light, nada pancadão da l.ove.

-- tá passando uma mostra do woody allen, só que são os filmes mais novinhos dele... tá a fim?

-- claro!

então eu tinha um encontro a noite, veja só. e eu nem tinha roupa para tanto. só umas coisas muito velhas. pensei nesse apuro... mas se ela tinha coragem de ficar de calcinha bege e uma camiseta surrada do iron maiden, eu não tinha com o que me preocupar. perguntei pelos meus óculos. ela respondeu que estavam no quarto dela. perguntei por quê. ela não respondeu e saiu bebendo o leite e bater as cinzas do cigarro. fui até o quarto dela. com a luz do dia, me pareceu um outro cômodo. muitos livros pelo chão. cd´s sem capas. as roupas de ontem sobre uma cadeira. peguei meus óculos que estavam sobre o criado-mudo e saí.

-- preciso ir. to atrasado para o meu trampo.

-- belê. não quer tomar uma ducha, comer alguma coisa? tenho uma coisa para você.

foi para o quarto e pegou um cd com uma capinha toda desenhada.

-- para você.

coloquei o óculos para ler. era o setlist de ontem. quando olhei para ela para agradecer, algo aconteceu. naquele momento mínimo entre ler "jesus and mary chain" e fitá-la. o sorriso dela me pareceu o mais bonito que já havia visto. beijei com delicadeza. ela segurou minha cabeça e intensificou o movimento. quando nos encaramos de novo, ela e eu estávamos sem graça. fui para porta e agradeci o cd. ela deu aquele adeusinho de pulso. fechei a porta.

voltei para lhe perguntar se iria passar "poderosa afrodite", ela estava ainda na mesma posição. ela disse que não, que eram os mais novos mesmo.

-- ah, pena, adoro o coro.

e fui.